Os efeitos dos relacionamentos abusivos se intensificaram durante a pandemia de coronavírus. Prova disso é o aumento do número de chamadas no Ligue 180, que, entre outras denúncias sobre direitos humanos, recebe relatos de violência contra a mulher.
Pois saiba que relacionamentos tóxicos não se restringem ao campo das relações interpessoais. Nós, médicos que cuidamos de saúde mental, temos visto um número muito grande de pessoas ligadas a seus trabalhos de forma tão danosa que as levam a ficar seriamente doentes.
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Estes são alguns sinais de alerta de se você passou a ter uma relação perigosa com o seu trabalho:
1. Confusão de papéis
Quem se relaciona de maneira tóxica com o trabalho não consegue diferenciar entre quem é ela própria e o papel que desempenha na empresa. O pessoal e o corporativo ficam misturados. Surgem sentimentos como culpa e desvalia (não se sentir valorizado). O trabalho deixa de dar prazer e torna-se uma obrigação, e a pessoa passa a trabalhar só para tentar evitar o desprazer dessa situação tóxica. É justamente essa bola de neve que acaba por gerar o burnout, quadro caracterizado pelo esgotamento absoluto – físico, mental e emocional.
2. Medo de se desligar do trabalho
Assim como em uma relação pessoal, quem vive um relacionamento abusivo com o trabalho tem medo de se desligar do emprego porque acredita que não há mais nada para ela além daquilo, que ela não merece ou não é capaz de encontrar algo melhor.
3. Sem limites
Não estabelecer limites é uma das bases de qualquer relação abusiva. É muito comum ver pessoas que têm dificuldade para colocar limites em todas as áreas da sua vida, e não só no trabalho. Assim, não é raro ver empregados infelizes nos seus trabalhos que também cuidam mal do seu sono, que se alimentam mal, que bebem ou fumam além da conta. Se não impomos limites, somos engolfados, engolidos pelo trabalho, como uma teia de aranha.
O lado nocivo disso tudo é que a maioria dos que se relacionam dessa maneira com o trabalho se acostumam com esse “normal”, se convencem de que não merecem coisa melhor ou se habituam a estar nesse papel de “escravo”, já que, pensam, a vida é assim mesmo.
Se você não consegue dar o primeiro passo sozinho para sair dessa situação, não há nada errado em pedir ajuda profissional ou ajuda de alguém de quem gosta. A vida é curta e é preciso quebrar esses ciclos nocivos.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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