A inflação no Brasil ficará ainda mais alta que o esperado e bem acima do centro da meta neste ano, com as expectativas para 2022 já sob risco, e esse cenário pede uma ação mais efetiva do Banco Central, cuja avaliação atual sobre a alta dos preços ainda parece “leve”, disse a economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour.
Segundo a economista, com o aumento dos custos se intensificando, o BC deveria começar um processo de normalização da política monetária no próximo mês e com uma elevação de 0,50 ponto percentual da taxa Selic. O juro chegaria ao fim do ano em 4,5% (ante os atuais 2%) e iria para 6% ao término de 2022.
O nível “extraordinariamente baixo” dos juros é um dos fatores por trás da volatilidade cambial, mas Srour ponderou que o vaivém no dólar não diminuirá caso um aperto monetário seja acompanhado de deterioração de perspectivas fiscais. Ela projeta que o dólar fechará o ano em R$ 5,20, ante os R$ 5,44 desta quinta.
“Esperamos que simplesmente mantenha-se a regra do teto de gastos. Não é nada extraordinário. O dólar baixaria mais em caso de aprovação de reformas que estruturalmente levam o país a crescer mais e a ter uma dívida mais sustentável…Mas evitar piorar já é um caminho”, afirmou em entrevista à Reuters.
A economista chama atenção para o período até o fim da semana que vem, quando, em sua expectativa, poderá haver algum consenso sobre a PEC Emergencial, que estabelece gatilhos para conter as despesas públicas. Na tarde desta quinta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que a chamada PEC Emergencial será pautada no plenário da Casa na próxima semana.
Srour vê uma reedição do auxílio emergencial com custo máximo de cerca de R$ 30 bilhões. “Se passar disso, for a 50 bilhões (de reais), aí temos risco de ir mais alto…de alguém falar em R$ 70 bilhões… Isso ainda é um problema, pois é um gasto que terá de ser pago com dívida…e isso vai pressionar a curva de juros”, afirmou, lembrando que já existe uma pressão vinda de fora para abertura de taxas de juros.
Inflação
A profissional demonstrou preocupação mais visível com relação ao cenário inflacionário. Por ora, a projeção oficial do Credit Suisse é que o IPCA suba 4,2% neste ano, mas o viés é de alta. O centro da meta de inflação para este ano é de 3,75%.
Segundo ela, o risco de inflação ascendente ganhou força com a decisão da Petrobras de elevar os preços de combustíveis, em meio à percepção de que o dólar seguirá pressionado e aos ganhos das commodities.
“Fora isso ainda temos outro componente. A comunicação hoje (do BC) ainda não está muito dura no sentido de alta dos juros”, disse. “O BC tem bastante credibilidade, mas se a comunicação não for enfática de que realmente a gente vai precisar controlar a situação e (se) ficar só na questão do (aumento de preço) temporário, isso vai acabar impactando mais a inflação… É hora de o BC agir.”
Para a economista, por ora a comunicação ainda parece “leve” em termos de tons de preocupação sobre o rumo dos preços. “A questão não é a comunicação, mas a avaliação do cenário inflacionário, do balanço de riscos, que para mim é muito mais desfavorável do que na avaliação do BC”, disse.
A alta do IPCA se comunica com a preocupação fiscal via câmbio, que dificilmente voltará a ter grande suporte de taxas de retorno (o chamado “carry”), ainda que a Selic suba, disse a economista.
Isso ocorre num momento de “reflation trade” no exterior, do qual o Brasil pode não se beneficiar desta vez por causa do risco relacionado às contas públicas. Normalmente, períodos de “reflation trade” – que se refere a altas nas taxas de crescimento e de custos na sequência de forte contração econômica – são positivos para setores cíclicos e ativos de maior risco, uma vez que se relacionam com normalização econômica e maior demanda por matérias-primas.
“Se a gente consegue sinalizar ao mercado uma despesa mais controlada nos próximos anos, mesmo gastando mais agora, com essa credibilidade as curvas de juros desinclinam, atraímos fluxo de capital relevante e vamos participar da ‘festa’ da liquidez”, afirmou Srour.
Do contrário, em caso de aumento de gastos sem âncora fiscal, a economista acredita que o Brasil possa reviver algo parecido com o que aconteceu no fim do primeiro mandato da Dilma (Rousseff, ex-presidente), quando, de acordo com Srour, o cenário externo era “brilhante”, o mundo crescia e o Brasil mostrava estagnação.
“Tudo vai depender de como o Congresso e o governo vão conduzir a questão de aumentar gastos e manter a credibilidade. Vamos monitorar o desenrolar nos próximos dias.” (Com Reuters)
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