A comunidade LGBTQIA+ é formada por 18 milhões de brasileiros segundo o STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas sua presença no mercado de trabalho ainda é discreta. Dados do Center for Talent Innovation revelam que 61% dos profissionais do grupo não se sentem confortáveis para assumir sua sexualidade no meio corporativo. Ao mesmo tempo, 41% deles afirmam ter sofrido algum tipo de discriminação na empresa em que atuam.
O desemprego é outro problema que atinge a comunidade. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desocupação entre a população LGBTQIA+ é de 21,6% – número bem acima da média nacional, de 14,7%.
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Diante deste cenário, transformar as práticas adotadas no mundo corporativo, com ações afirmativas para aumentar a empregabilidade dos integrantes da comunidade e sua retenção, é urgente. Do outro lado, os investidores também podem colaborar para a mudança de perspectiva se passarem a preferir, em seus portfólios, investidas preocupadas com questões de diversidade e inclusão.
Débora Ribeiro, gerente da consultoria Robert Half, explica que as gerações Z e
Millennium tratam a questão sob uma ótica diferente. “São pessoas que pesquisam ativamente os valores das empresas nas quais querem trabalhar, nutrindo bastante preocupação com a diversidade do local”, diz.
Ainda assim, Maira Reis, fundadora da camaleao.co, startup que desenvolve soluções pró-LGBTQIA+ para negócios, acredita que o avanço acontece a passos lentos. “Já progredimos bastante em relação a 2015 e 2016, principalmente após a aprovação legal do casamento LGBT no Brasil. Mas, socialmente, ainda temos um caminho truncado”, diz.
Do ponto de vista do negócio, o apoio à causa LGBTQIA+ pode ser sinônimo de lucro e competitividade. Uma pesquisa feita pela consultoria McKinsey revelou que instituições que apostam em diversidade sexual, racial e de gênero arrecadam até 35% a mais do que marcas que não se posicionam a respeito dessas questões.
Para conquistar este público, no entanto, as empresas precisam se movimentar fora e dentro de casa. Publicidade só não é mais suficiente. Débora alerta que a inclusão LGBT deve acontecer “dentro das companhias e em todas as hierarquias”. Ela acredita que aquelas que não se esforçarem para avançar nesta causa, correm o risco de perder investidores e negócios nos próximos anos.
Porém, do ponto de vista de investimentos, descobrir quais são as empresas com ações afirmativas pode ser uma parte difícil no processo. Não existe hoje no Brasil nenhum fundo de investimento específico para empresas que abraçam a causa. Nos Estados Unidos, por exemplo, investidores recorrem ao LGBTQ100 ESG, fundo que inclui nomes como Amazon, Apple, Netflix e Microsoft. Apenas em 2021, a valorização da cota foi de 16,34%.
Enquanto uma versão local não é criada, é possível avaliar algumas das ações realizadas por empresas listadas na bolsa de valores por meio dos questionários aplicados na carteira ISE 2020/21 (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da B3.
Nestes questionários, são solicitadas informações sobre as medidas adotadas pela companhia para respeitar a diversidade em termos de orientação sexual e sobre ações afirmativas para incluir no quadro de funcionários grupos minorizados.
Vale ressaltar, porém, que para se certificar de que as informações são verdadeiras, a B3 solicita evidências por amostragem. Ou seja, para cada questão aplicada, sorteia uma quantidade específica de empresas que devem enviar documentos comprovando as respostas.
Com base neste ISE, a Forbes separou 5 empresas que compõem o iBovespa e apoiam a causa LGBTQIA+ internamente. Confira, na galeria abaixo, quem são elas:
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Reuters 1. TIM
Integrante da S&P/B3 Brasil ESG, a TIM, operadora de serviços de telecomunicações, oferece programas que promovem a capacitação, contratação e o bem-estar dos colaboradores autodeclarados LGBTQIA+. Entre eles, está um treinamento exclusivo para pessoas trans.
Para participar da iniciativa, basta fazer o cadastro através do link compartilhado por um dos funcionários. Os candidatos que não forem chamados para ingressar no time passarão a formar um banco de talentos para futuras oportunidades.
No segundo semestre, a TIM anunciou que lançará um programa de capacitação e contratação de pessoas trans, com treinamento focado em experiência do cliente, para vagas nas áreas comerciais e de atendimento.
A empresa oferece suporte como a possibilidade de licença, apoio psicológico e assistência jurídica gratuita para funcionários vítimas de situações de LGBTfobia, além de folga remunerada para colaboradores em processo de transição de gênero. Outra possibilidade para os profissionais é a participação nos grupos de afinidade, como o chamado Orgulho+, que envolve cerca de 100 colaboradores da comunidade LGBTQIA+.
Outro destaque é a atualização do Teclado Consciente TIM, aplicativo para smartphones que alerta os usuários sobre o uso de termos discriminatórios em apps de comunicação e redes sociais, explicando a origem e sugerindo substituições. A ferramenta já trazia avisos sobre expressões com conotações racistas e, agora, alerta também sobre o uso de mais 500 palavras e frases LGBTfóbicas.
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Divulgação 2. Cielo
Na Cielo, empresa do segmento de pagamentos eletrônicos, foram oferecidos processos seletivos específicos para a comunidade LGBTQIA+, incluindo vagas exclusivas para pessoas trans, em 2020. A partir deste ano, a empresa avança com a adoção de ações afirmativas em todas as triagens de contratação.
No plano estratégico da companhia de 19 metas para a agenda de diversidade e inclusão de 2030 está o apoio interno ao desenvolvimento da carreira dos profissionais LGBTQIA+, assim como a criação de uma cultura organizacional antiLGBTAfóbica. A empresa promete estender esse compromisso até os clientes, garantindo que toda a cadeia de operações atue de maneira respeitosa e segura.
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Divulgação / Natura 3. Natura & Co
A Natura & Co, grupo formado por Avon, Natura, The Body Shop e Aesop, tem na diversidade uma fonte de criatividade e inovação e fez dela um dos pilares do Compromisso com a Vida 2030, programa da marca que reúne metas em defesa dos direitos humanos e da equidade. Entre as iniciativas estão oportunidades de emprego, grupos de afinidade e suporte aos colaboradores LGBTQIA+.
Neste esforço, a empresa se compromete a refletir a composição demográfica brasileira na sua força de trabalho. Para isso, o grupo tem como meta compor 30% do seu time com profissionais de grupos sub-representados, incluindo perfis de diversidade sexual e identidade de gênero. E, enquanto a equipe da gigante de cosméticos muda de cara, os líderes e colaboradores passarão por cursos de capacitação e por campanhas que estimulem o diálogo sobre vieses inconscientes. Um dos exemplos é a Semana da Diversidade, realizada anualmente para promover o diálogo sobre a realidade da inclusão.
Também no cenário interno, a companhia oferece grupos de afinidade para a comunidade LGBTQIA+, incluindo de estagiários a prestadores de serviços. Outra medida é a adoção do nome social para pessoas trans, benefícios estendidos para casais de qualquer orientação sexual e licença-maternidade para todos os colaboradores com filhos, independentemente da identidade de gênero.
Fora da organização, a Natura &Co desenvolveu uma parceria com a Casa 1, centro de acolhimento para jovens LGBTQIA+ que foram expulsos de casal. Através de cursos de maquiagem, a marca propôs a capacitação dos moradores trans do centro de apoio.
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SOPA Images / Getty Images 4. Suzano
Na Suzano, produtora de papel e fabricante de celulose, o grupo Plural, criado em 2018, reúne colaboradores pertencentes à comunidade LGBT e tem como objetivo promover a diversidade na companhia. O grupo é patrocinado por diretores executivos e funcionais, e conta, ainda, com cerca de 100 embaixadores e aliados.
Além disso, até 2025 a empresa tem como meta atingir aprovação de 100% dos funcionários no que diz respeito ao ambiente de trabalho inclusivo para o público LGBTI – atualmente este índice está em 92,4%. A Suzano também é signatária da Carta de Adesão ao Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, na qual se comprometeu a ampliar as ações de comunicação e engajamento tanto para o público interno quanto para o externo.
Em 2021, a Suzano tem como metas remodelar a forma de acolhimento e segurança nos canais de ouvidoria e realizar um mapeamento de carreiras considerando a representatividade de grupos de afinidade.
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Anúncio publicitário -
NurPhoto / Getty Images 5. B3
A própria B3, a bolsa de valores oficial do Brasil e criadora do ISE, realiza ações afirmativas voltadas à comunidade LGBTQIA+. Entre elas estão os Núcleos de Diversidade, grupos de trabalho formados por 200 funcionários de todos os cargos para discutir as pautas relacionadas a gênero, raça e etnia, pessoas com deficiência, LGBT+ e gerações.
Há também o plano de inclusão LGBT+, que entre 2018 e 2020 quase dobrou o número de colaboradores da comunidade na organização. Além disso, a B3 promove um toque de campainha que tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a equidade de gênero. A ação faz parte de um movimento internacional e reúne, a cada ano, cerca de 100 bolsas ao redor do mundo.
Nos processos seletivos, a B3 apresenta perfis de diversidade para mais de 70% das posições trabalhadas, além de processos seletivos às cegas para áreas específicas, com o objetivo de mitigar a eventual ação de vieses inconscientes capazes de impactar o processo.
1. TIM
Integrante da S&P/B3 Brasil ESG, a TIM, operadora de serviços de telecomunicações, oferece programas que promovem a capacitação, contratação e o bem-estar dos colaboradores autodeclarados LGBTQIA+. Entre eles, está um treinamento exclusivo para pessoas trans.
Para participar da iniciativa, basta fazer o cadastro através do link compartilhado por um dos funcionários. Os candidatos que não forem chamados para ingressar no time passarão a formar um banco de talentos para futuras oportunidades.
No segundo semestre, a TIM anunciou que lançará um programa de capacitação e contratação de pessoas trans, com treinamento focado em experiência do cliente, para vagas nas áreas comerciais e de atendimento.
A empresa oferece suporte como a possibilidade de licença, apoio psicológico e assistência jurídica gratuita para funcionários vítimas de situações de LGBTfobia, além de folga remunerada para colaboradores em processo de transição de gênero. Outra possibilidade para os profissionais é a participação nos grupos de afinidade, como o chamado Orgulho+, que envolve cerca de 100 colaboradores da comunidade LGBTQIA+.
Outro destaque é a atualização do Teclado Consciente TIM, aplicativo para smartphones que alerta os usuários sobre o uso de termos discriminatórios em apps de comunicação e redes sociais, explicando a origem e sugerindo substituições. A ferramenta já trazia avisos sobre expressões com conotações racistas e, agora, alerta também sobre o uso de mais 500 palavras e frases LGBTfóbicas.
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