O número de ofertas de ações realizadas na B3 nos primeiros seis meses deste ano já ultrapassou a marca das aberturas de capital de 2020. Com o maior volume, surge também a busca por novas modalidades de ganhos e, para isso, alguns investidores decidem “flippar”.
Paulo Paiva, CEO da BeCapital, explica que o flipper é uma modalidade do mercado financeiro em que o investidor compra ações na fase de reserva do IPO da empresa – e as vende logo no pregão inicial. Ou seja, investidores flippers compram os papéis antes mesmo de serem negociados nos pregões, pois acreditam que haverá alta nos preços já na estreia. A operação de curto prazo, no entanto, pode ser bastante arriscada.
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Evandro Lima, analista da XP Investimentos e professor na Xpeed School, explica que as decisões sobre o que comprar ou vender na bolsa devem ser tomadas a partir de estudos e análises de mercado. Para ele, isto não é possível no flipper, pois não há dados na B3 para analisar o histórico de movimento dos papéis. “O investidor está no escuro, tem apenas os dados da empresa para se basear. É como se fosse um day trade no escuro”, diz.
O alto risco é também advertido por Rafael Panonko, analista chefe da Toro Investimentos. “O flipper é uma especulação. O investidor está especulando, pois acredita que a demanda pelas ações daquela empresa será maior que o previsto durante a reserva”, avalia.
Por conta da falta de certezas ou mesmo análises mais concretas, os especialistas afirmam que a operação de flipper é mais buscada por investidores pessoa física do que por profissionais do mercado financeiro.
“Dificilmente um profissional fará este tipo de operação, o volume de capital com que ele trabalha costuma ser muito maior que o de pessoas físicas. Se ele vender as ações no primeiro dia de pregão, os papéis podem ser desvalorizados”, explica Panonko. O analista também defende que profissionais de mercado buscam lucro no médio e longo prazo, e não em poucos dias.
“O prospecto preliminar tem centenas de páginas, dificilmente estes investidores leem tudo”, comenta o analista da Toro. Para decidir, muitas vezes se depende da sorte, aumentando a agressividade da operação.
Nestes casos, Lima aconselha que investidores que não conhecem bem o mercado devem optar pelas empresas que mais fazem parte de suas rotinas e, se possível, conhecer as sedes físicas das companhias.
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Para as empresas que estreiam na bolsa, o flipper também pode trazer prejuízos. Quando a venda de ações é expressiva já no primeiro dia de pregão, os papéis costumam ser desvalorizados. Para se proteger da modalidade, os especialistas apontam o crescimento da prática de lock-up realizada pelas empresas.
Isso significa que parte das ações reservadas antes do IPO deve permanecer na carteira do investidor por um período estabelecido pela empresa que quer abrir capital. Este tempo costuma variar entre 30 e 40 dias. Durante o período, o investidor não pode se desfazer dos papéis bloqueados.
Ao reservar ações, a decisão de comprar papéis com ou sem lock-up parte do próprio investidor. Porém, aqueles que optarem pelo bloqueio possuem prioridade. “Pode acontecer de um investidor entrar com pedido de reserva sem lock-up, com a intenção de flippar, e não ser atendido por conta da alta demanda”, esclarece Panonko. “Essa medida é utilizada para evitar a flippagem e a volatilidade extrema dos papéis”.
Saiba o que avaliar antes de flippar em um IPO:
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GettyImages 1 – Pesquisa de mercado
Antes de decidir quais ações comprar, é importante entender se a empresa que está abrindo capital irá fazer bom uso do montante levantado no IPO.
“Investir em um mercado promissor ou comprar uma fábrica para atender uma demanda reprimida, por exemplo, demonstra que a companhia está de olho em aumentar seu faturamento”, diz Paiva.
O empresário também orienta que usar o dinheiro para pagar dívidas antigas ou fazer aquisições de ativos sem finalidade comercial são exemplos de mau investimento e, por isso, podem não ser vantajosos para o flipper.
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GettyImages 2 – Acompanhamento do setor
As perspectivas de futuro para o segmento da empresa são sempre importantes para definir se o IPO terá sucesso. Assim, o investidor deve pesquisar se o mercado da área está em expansão.
Um mercado de alto risco ou com previsões de crise oferecem indicativos de que o investidor pode perder dinheiro.
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Manusapon Kasosod / GettyImages 3 – Cautela na reserva de ações
Assim como outros investimentos na bolsa, o flipper não deve ser visto como uma loteria ou golpe de sorte. Pelo contrário, é importante ponderar antes de investir e ter calma.
O período de reserva de ações dura alguns dias, a depender do IPO. Portanto, Paiva afirma que não há necessidade de fazer uma grande reserva já no primeiro dia, principalmente se o investidor planeja reservar ações em IPOs distintos.
“Se uma grande porcentagem do que o investidor tem disponível for aplicado em um único IPO, ele pode perder oportunidades em outras empresas.”
Do mesmo modo, investidores devem manter atenção para a diversificação na carteira e para o tamanho do aporte. “O investimento em bolsa tem que ser feito com o dinheiro que não possui necessidade imediata. É mais recomendado fazer aportes pequenos e gradualmente, nunca colocar todo o valor em uma única ação”, recomenda Lima.
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Foto: Jason Lee/ Reuters 4 – Atenção à alavancagem
A alavancagem é uma estratégia que consiste em pegar dinheiro emprestado junto à corretora de valores para poder realizar operações maiores. É um procedimento comum no Day Trade, e também pode ser utilizado pelo flipper.
“Se o investidor possui R$ 10 mil, ele pode decidir se alavancar e investir R$ 20 mil, por exemplo. Assim, ele multiplica as possibilidades de lucro, mas multiplica também as possibilidades de prejuízo”, afirma Paiva.
Contudo, o analista Panonko acredita que o risco não vale a pena. “A alavancagem só é recomendada quando há uma tese que justifique o investimento. Sem isso, o investidor se coloca em uma posição de risco ainda maior e pode ter grande prejuízo”, diz.
Vale ressaltar que o aporte só é debitado da carteira do investidor no dia de estreia das ações. Lima, por exemplo, explica que é possível fazer uma reserva para um IPO que irá acontecer em cinco dias sem necessidade de ter o valor da reserva na conta da corretora. “Se o investidor tem certeza de que o dinheiro estará em sua conta no fim do mês, ele pode se programar”, comenta.
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Jeremy Horner / GettyImages 5 – Atenção à relação entre risco e retorno
O flipper é uma operação de alto risco, por isso o investidor deve observar se realmente vale a pena vender as ações no IPO ou manter sua posição. Para isso, Paiva recomenda buscar informações de casas de análises para tentar saber o máximo possível sobre a empresa. “Você pode ser um especialista, mas é sempre bom ter o olhar de quem acompanha o mercado”, afirma ele.
Por sua vez, Panonko recomenda também que os investidores olhem menos para o curto prazo. “Empresas que abrem capital podem se valorizar apenas após um ou dois meses. Às vezes, permanecer com as ações compensa”, diz.
1 – Pesquisa de mercado
Antes de decidir quais ações comprar, é importante entender se a empresa que está abrindo capital irá fazer bom uso do montante levantado no IPO.
“Investir em um mercado promissor ou comprar uma fábrica para atender uma demanda reprimida, por exemplo, demonstra que a companhia está de olho em aumentar seu faturamento”, diz Paiva.
O empresário também orienta que usar o dinheiro para pagar dívidas antigas ou fazer aquisições de ativos sem finalidade comercial são exemplos de mau investimento e, por isso, podem não ser vantajosos para o flipper.
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