Em um futuro não tão distante, as montadoras deixarão de ser um negócio apenas focado em produzir e comercializar veículos – aliás, isso já está ocorrendo.
O que se consegue observar há algum tempo é que as fábricas de automóveis estão em um movimento não de substituir, mas de incorporar novas linhas de receitas com serviços dos mais variados. “Sempre vai existir gente querendo comprar carro no modelo tradicional. Você vai continuar, durante muito tempo, atendendo pessoas que vão querer a ‘old school’, o ato de ir às concessionárias.
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As montadoras vão incorporar nesse meio-tempo outros tipos de receita, como carros por assinatura, car sharing, entre outros”, afirma Ricardo Bacellar, conselheiro da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) e ex-membro da KPMG, onde era líder para a indústria automotiva. A entidade lançou, em 2019 e no início deste ano, a Pesquisa SAE de Mobilidade, que detectou tendências como o fato de mais de 83,2% dos consumidores (foram entrevista dos 942) desejarem ter um carro por assinatura.
“A indústria não tinha noção de quanto dinheiro havia em cima da mesa e não era explorado. Hoje já temos várias montadoras interessadas nesse tipo de serviço, enquanto ainda estamos em fase de experimentos, de aperfeiçoamento. O potencial desse negócio no Brasil é gigantesco”, avalia Bacellar.
O consumidor e a indústria ainda estão aprendendo a lidar com essa nova realidade. Um exemplo é a Toyota, que disponibiliza mais de um modelo de automóvel na mesma assinatura. Isso porque o ideal é que se tenha um automóvel básico para rodar durante a semana de casa para o trabalho, por exemplo, e no final de semana um utilitário esportivo para viajar com a família.
Assinatura é diferente de leasing. Basicamente porque nesta última modalidade o consumidor escolhe um modelo único e, ao final do plano, tem a opção de compra, o que não existe no caso da assinatura. O negócio de carros por assinatura ainda não decolou no Brasil porque os custos subiram junto com os preços dos automóveis, e nos planos são oferecidas opções mais caras.
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A grande vantagem é que o motorista não precisa se preocupar com obrigações como documentação, IPVA, seguro e manutenção, ou mesmo a depreciação do veículo. Os planos variam de 12 a 36 meses e são oferecidos tanto por montadoras quanto pelas próprias locadoras de veículos ou empresas de seguro. A já citada Toyota tem diversas soluções no Brasil.
O Kinto Share, plataforma de compartilhamento de veículos, trabalha com aluguel de uma hora a um mês e cujas facilidades incluem seguro, assistência na estrada, veículos conectados com telemática, central de atendimento 24 horas por dia, acesso aos modelos híbridos Toyota e Lexus, serviço de valet, além de os veículos serem entregues, mantidos e reparados pelas concessionárias.
O Kinto One Fleet é focado na gestão de frotas corporativas e tem todos os serviços incluí dos na mensalidade. Mais recentemente foi incorporada a solução de assinatura de veículos Kinto One Personal, que permite que as pessoas contratem o uso de modelos da Toyota por um ou dois anos com diárias flexíveis, contando com duas ou 30 diárias de outros modelos por ano de contrato.
A Stellantis, que reúne as marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, lançou em dezembro do ano passado a empresa de mobilidade Flua!, que já atua em 16 estados. A empresa oferece carros das marcas Fiat e Jeep, com diversas opções, como o serviço de carros por assinatura.
A Volkswagen criou o modelo de carros por assinatura Sign&Drive; a Ford lançou o FordGo; a Mitsubishi mantém o Mit Assinatura e a Renault, o On Demand. “Entendemos que os clientes buscam novas formas de mobilidade, e nós estamos atentos a isso. Lançamos o On Demand em janeiro deste ano, como um serviço de assinatura de longa duração da Renault”, conta Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil.
Segundo ele, são quatro planos customizáveis de 12, 18, 20 ou 24 meses, com valores a partir de R$ 869 mensais. No momento da adesão, o cliente também pode escolher os planos de quilometragem, com opções de 500, 1 mil, 1,5 mil e 2 mil quilômetros mensais. “Todos os planos contam com os serviços de manutenção, gestão de documentos, seguro auto e assistência 24 horas. Nós estamos atingindo um público mais jovem do que o que temos na base de financiamentos, o que significa que estamos trazendo novos clien-tes para a marca”, prossegue o executivo.
“Parte desses clientes vêm para evitar o transporte público e os carros de aplicativo. São clientes que estão buscando mais segurança neste momento. Temos ainda o car sharing com alguns parceiros. Não temos dúvidas de que a oferta desse tipo de serviço vai crescer, e nós queremos ser referência em mobilidade.”
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A oferta de um automóvel não como posse e sim como serviço é um “caminho sem volta”, na opinião do consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. “As montadoras podem ampliar o leque de ofertas, mas sempre vão ser vendedoras de automóveis. Você está fornecendo o automóvel, mas agora por meio de assinatura, de compartilhamento. Elas estão ampliando a possibilidade de ofertas, com diferentes serviços, e o sucesso disso vai depender muito da aceitação do consumidor. Tem quem ainda queira a posse do veículo”, avalia.
De qualquer forma, o futuro está na mesa. E ele será cada vez mais autô-nomo, elétrico, conectado e compartilhado.