Nos últimos meses, investidores brasileiros tiveram que lidar com impactos econômicos que vão desde a guerra na Ucrânia, passando pela alta da inflação, até aumentos sucessivos dos juros pelo Banco Central. Em meio a tanta volatilidade, investimentos em renda fixa têm se tornado cada vez mais atraentes – entre eles, os CDBs.
Certificados de depósito bancário são títulos de renda fixa emitidos por bancos para captar dinheiro e financiar suas atividades. Em troca do empréstimo de recursos, a instituição financeira devolve depois ao investidor a quantia aplicada mais o juro acordado no momento da aplicação.
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É a mesma lógica do Tesouro Direto, que funciona como um empréstimo ao governo para realizar políticas públicas, e das debêntures, concessões de recursos para empresas conduzirem grandes projetos.
“Neste ano, vimos um aumento exponencial na procura por CDBs, especialmente os de curto prazo”, diz Victor Zucchi, especialista em Renda Fixa da Valor Investimentos.
Por que investir em CDBs?
Os produtos de renda fixa atraem investidores que buscam previsibilidade, visto que as condições de rentabilidade são determinadas no momento da aplicação. Os CDBs, em geral, são mais atrativos que os títulos do Tesouro porque costumam ter rentabilidade maior, e apresentam risco menor que as debêntures.
Outro aspecto positivo dos CDBs é que são cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), espécie de “seguro” que devolve até R$ 250 mil do valor aplicado pelo investidor no caso de a instituição financeira quebrar. A garantia é contabilizada por CPF ou instituição, não por produto.
No entanto, isso não significa que a operação não tenha riscos. Se o investidor carregar o título até o final do prazo contratado, receberá integralmente o que foi acordado. Mas se quiser resgatá-lo antes do vencimento, terá que vender o papel com o valor da marcação a mercado e estará exposto a fatores como a taxa de juros do momento da venda.
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Tipos de CDBs
Existem três categorias principais de CDBs: o prefixado, o pós-fixado e o atrelado à inflação.
No prefixado, é possível saber exatamente a remuneração no momento da compra, porque a rentabilidade é calculada a partir da taxa de juros no momento da aplicação. Os rendimentos de um CDB pós-fixado, por sua vez, variam de acordo com o indicador utilizado como indexador – o mais comum é o CDI (certificado de depósito interbancário).
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Já os CDBs atrelados à inflação mesclam as duas estruturas: oferece uma parcela prefixada e outra pós fixada como retorno. Por exemplo: 5% ao ano mais a variação da inflação, medida pelo IPCA ou pelo IGP-M.
Algumas instituições financeiras oferecem outras versões, como o “CDB progressivo”, em que a remuneração aumenta quanto mais tempo o dinheiro permanece investido. É uma estratégia para estimular investidores a manter recursos aplicados no longo prazo.
“O tipo de CDB escolhido depende do perfil do investidor. Para os mais conservadores, recomenda-se um prazo mais curto e liquidez diária. Para o perfil moderado, médio prazo, e para o agressivo, longo prazo, que chega a cinco anos”, explica Zucchi, acrescentando que quanto mais arrojado o perfil, menor a necessidade de liquidez do ativo.
CDBs híbridos são, em geral, voltados para investidores preocupados em preservar o patrimônio no longo prazo. Já os pós-fixados são considerados alternativas mais estáveis, ideais para reservas que precisam ter liquidez imediata.
Para começar a investir em CDBs, é recomendável primeiro traçar o perfil do investidor e abrir uma conta em uma corretora. Também aconselha-se a possuir uma reserva financeira, equivalente a seis meses de despesas, para não correr risco de ter que resgatar o investimento antes do tempo.
Quanto rende um CDB?
Depende.
“Instituições financeiras maiores e mais consolidadas têm risco mais baixo e, por isso, taxas também mais baixas. O rendimento dos CDBs aumenta com o risco, então bancos menores costumam oferecer taxas maiores”, explica João Beck, economista e sócio da BRA
Ele ressalta, contudo, que para escolher é preciso ir além da rentabilidade. “É preciso avaliar o banco pelo grau de solvência [garantia que a empresa dispõe em ativos para pagamento de dívidas] e pelo relacionamento com o cliente.”
Quais impostos incidem sobre investimentos em CDBs?
Os rendimentos dos CDBs devem ser declarados no imposto de renda. O percentual de desconto segue uma tabela regressiva: quanto maior o tempo de aplicação, menor a alíquota.
Até 180 dias, a alíquota é de 22,5%. De 181 a 360 dias, ela passa para 20%. Sobre aplicações mais longas, a taxa cai a 17,5% até 270 dias e, acima disso, 15%.
Além disso, caso a aplicação e o resgate sejam realizados em um período inferior a 30 dias, o investidor também deverá pagar IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Ambos os impostos são retidos automaticamente pelas corretoras.
Vale a pena investir?
Antes de decidir investir em um CDB, é preciso analisar qual o objetivo do investimento, o prazo disponível e o risco que o investidor está disposto a tomar.
“Os aumentos da taxa Selic pelo Copom [Comitê de Política Monetária] geralmente são precificados dias, até semanas antes do anúncio”, afirma Beck. “Em períodos de volatilidade e medo, também é preciso ter cuidado para não pagar muito caro por CBDs.”
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Para Victor Zucchi, da Valor Investimentos, o atual ciclo de alta dos juros favorece esse produto. “Estamos vendo ativos de curto prazo rendendo tanto quanto os de longo prazo, ambos com taxas de até 1% ao mês. Isso não se via desde 2016. Pode ser um bom momento para aproveitar as taxas invertidas”, diz.