Há cerca de dois anos, a realidade das startups era outra. As baixas taxas de juros, no Brasil e nos Estados Unidos, aumentaram as captações de investimentos desses novos negócios. No entanto, a alta inflação, os sucessivos aumentos dos juros pelos bancos centrais e as incertezas globais contribuíram para uma desaceleração de todo o setor de tecnologia, gerando demissões em massa.
A maioria dessas empresas expandiu os negócios durante a pandemia, o que levou a novas contratações. Mas, com a mudança do cenário macroeconômico, conseguir novos aportes de investidores se tornou mais difícil e, para melhorar o caixa, os cortes de colaboradores se tornaram mais frequentes.
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Hugo Tadeu, professor e diretor do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral, explica que o problema está no fato das startups serem “empresas imaturas”, que dependem financeiramente de fundos de investimentos.
“Demitir é o primeiro movimento para tentar equilibrar as contas. Elas estão em um momento que precisam remunerar todo o investimento que receberam, mas, como não conseguem ainda gerar receita própria, elas precisam realizar os desligamentos”, explica.
Nos últimos meses, nomes como Ebanx, Facily, Olist e QuintoAndar realizaram grandes demissões. A empresa de aluguel e venda de imóveis, inclusive, atribuiu os cortes de funcionários como uma antecipação aos sinais de escassez de capital que observou no mercado.
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A seguir, veja a lista das dez startups que mais realizaram demissões em massa.
1. Ebanx: 340 demissões
Fundada em 2012 no Brasil, a Ebanx oferece soluções de pagamentos internacionais para 15 países da América Latina e tem entre seus clientes gigantes como AliExpress, Shopee, Uber, Airbnb e Shein. Ontem (22), a companhia anunciou uma revisão em sua operação e 20% dos mais de 1.700 funcionários foram desligados.
Em nota à Forbes Brasil, a Ebanx diz que a decisão foi tomada com base no cenário atual do mercado de tecnologia como um todo, impactado de forma profunda e veloz pelo ambiente macroeconômico.
“Mantemos o compromisso com sua sustentabilidade e crescimento, seguindo na missão de gerar acesso entre consumidores e empresas globais. Os funcionários impactados por essa reestruturação receberão, juntamente com a sua rescisão, um pacote diferenciado de benefícios que inclui valores adicionais e extensão do plano de saúde, além do computador de trabalho”, afirma a empresa.
2. Kavak: 300 demissões
A startup mexicana Kavak, que realiza compra e venda de carros usados por meio de aplicativo, desligou funcionários de São Paulo e do Rio de Janeiro, seus dois principais pontos no Brasil.
Segundo apurou o jornal Estado de S. Paulo, ao menos 150 funcionários foram demitidos nas duas cidades desde março. No total, cerca de 300 pessoas foram dispensadas, reflexo do mau desempenho do negócio da companhia, segundo ex-funcionários ouvidos pela reportagem do jornal. A Forbes Brasil tentou contato com a Kavak, que não quis comentar o assunto.
A empresa, fundada em 2016 no México, se tornou o primeiro unicórnio do país em setembro de 2020, quando atingiu uma avaliação de mercado de US$ 1 bilhão.
3. Facily: cerca de 200 demissões
Fundada em 2018 no Brasil, a Facily é uma plataforma de compras de mercadorias em grupo. Em dezembro de 2021, a startup atingiu o status de unicórnio ao ser avaliada em US$ 1 bilhão, pouco mais de três anos desde a sua fundação.
No entanto, em abril vieram as demissões em massa e, segundo informações do Estado de S. Paulo, 60% dos funcionários foram dispensados. Procurada, a Facily não confirmou o número, mas disse que mudanças, inclusive em times, são necessárias.
4. Vtex: 193 demissões
A Vtex, plataforma de comércio digital para empresas, anunciou em maio “uma nova etapa em seu ciclo de expansão eficiente”, o que gerou 193 demissões.
Em nota à Forbes Brasil, a empresa informa que a decisão foi difícil, mas inevitável: “No geral, os desligamentos não foram especificamente sobre o potencial ou o desempenho de cada indivíduo. A escolha de reduzir nossa força de trabalho foi tomada como um julgamento estratégico.”
5. Favo: 170 demissões
Startup de social commerce com sede no Peru, a Favo chegou ao Brasil em dezembro de 2019 com o objetivo de conectar as grandes indústrias aos mercadinhos de bairro. Em outubro do ano passado, a empresa captou R$ 141 milhões em uma rodada de investimentos liderada pela Tiger, com participações de David Vélez, do Nubank, e Kevin Efrusy, um dos primeiros investidores do Facebook.
Com o caixa cheio, a startup buscava melhorar sua tecnologia e a estratégia de vendas e logística das operações no Brasil e no Peru. Mas as contas apertaram com a inflação em dois dígitos e, no final, os fundadores Alejandro Ponce e Marina Proença optaram por fechar os negócios por aqui e focar o mercado peruano.
Dos 500 funcionários, 170 que eram dedicados ao Brasil foram desligados e outros 100 foram realocados para a divisão peruana, segundo informações do Valor Econômico. Em nota, a companhia informa que tem planos de voltar. “Acreditamos que vamos restabelecer o nosso negócio no Brasil em breve, assim que as condições macroeconômicas permitirem.”
6. QuintoAndar: 160 demissões
Unicórnio brasileiro de venda e aluguel de imóveis, o QuintoAndar atingiu em agosto uma avaliação de US$ 5,1 bilhões (R$ 26,24 bilhões), após captar US$ 120 milhões (R$ 617,47 milhões) em aporte liderado pelo fundo americano Greenoaks Capital e pela gigante chinesa Tencent.
Pouco tempo depois, abriu um escritório em Portugal e comprou as operações do Grupo Navent, que inclui as companhias Imovelweb, Wimoveis e Union Softwares no Brasil. Neste ano, a Noknox, plataforma que conecta moradores, síndicos, porteiros e prestadores de serviços também passou para o comando do unicórnio, que agora é internacional. Há dois dias, a empresa desembarcou no México com a marca “Benvi”.
Ainda assim, o QuintoAndar não passou ileso pela onda de demissões em massa. A empresa demitiu 160 pessoas. Setores como recursos humanos, tecnologia e marketing passaram por cortes que totalizam 4% de todo o time de cerca de 4 mil profissionais.
“Apesar de termos uma situação de caixa privilegiada e um modelo de negócio consolidado, antecipamos ajustes nos nossos times para atender à estrutura de custos e priorização de projetos buscando um crescimento mais eficiente e preservação de caixa”, respondeu a empresa à Forbes Brasil, em nota.
7. Loft: 159 demissões
A Loft também vem de um momento de grandes negócios. Em agosto do ano passado, o unicórnio imobiliário aumentou sua operação ao adquirir a startup de originação de crédito CrediHome.
Meses antes, a empresa havia passado por uma rodada de investimentos que resultou em US$ 525 milhões (R$ 2,70 bilhões) de captação – elevando o valor de mercado do unicórnio a US$ 2,9 bilhões (R$ 14,92 bilhões).
Neste ano, a Vista, startup de software de gestão para imobiliárias, também entrou no portfólio de aquisições da Loft. Em nota à Forbes Brasil, a empresa afirmou que as aquisições seguidas resultaram em duplicidade de times, o que exigiu uma reorganização dos postos, principalmente nos setores comercial e operações.
Ao todo, 159 profissionais foram desligados e outros 52 realocados nas áreas de produto e tecnologia. Na nota, a Loft disse que vai apoiar seus ex-funcionários com “três meses do serviço Premium do Linkedin, assim como extensão do plano de saúde por mais dois meses, inclusive aos dependentes”.
8. Olist: 150 demissões
A Olist, empresa de ecommerce que conecta lojistas com marketplaces, se tornou unicórnio em dezembro passado, após uma rodada de investimentos de US$ 186 milhões (R$ 957 milhões), que resultou em uma avaliação de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,72 bilhões).
Ao longo do ano, a startup adquiriu quatro empresas e chegou ao fim de 2021 com um quadro de funcionários de 1,4 mil. Em nota, a Olist afirmou que “o ambiente macroeconômico desafiador do país acelerou movimentos já planejados de ajustes no quadro de funcionários para ganhos de eficiência na operação”.
Sem confirmar quantos desligamentos foram feitos, a Olist disse que irá ajudar os funcionários impactados pelos cortes com “os recursos necessários para a transição”. O jornal Estado de S. Paulo noticiou que foram 150 demissões, mas o fundador Tiago Dalvi contestou o número em entrevista ao jornal, dizendo se tratar de uma quantidade “muito menor”.
9. Liv Up: 100 demissões
A foodtech de comida congelada Liv Up também engordou o caixa em 2021: o negócio levantou R$ 230 milhões em uma rodada série D. Naquele momento, a startup ainda falava em abertura de cem novas vagas, expansão de portfólio e aumento dos investimentos em tecnologia.
Pouco tempo depois, em fevereiro, a onda de cortes chegou para a foodtech e cerca de cem funcionários foram demitidos – o equivalente a 15% do time de 700 profissionais. Em nota, a empresa afirmou que o cenário macroeconômico é desafiador e “requer foco para manter a intensidade e propósito de crescimento da marca”.
10. SumUp: 92 demissões
Startup de soluções de pagamentos para pequenos lojistas, a SumUp possui uma operação global, com atuação em 35 países e cerca de 3 mil funcionários pelo mundo. Hoje (23), a fintech anunciou um aporte de € 590 milhões (R$ 3,21 bilhões), liderado pela Bain Capital.
Segundo o comunicado à Reuters, a operação no Brasil irá receber R$ 380 milhões para reforçar a posição como um dos cincos mercados mais importantes para a fintech.
Há dois meses, no entanto, a SumUp demitiu 92 profissionais que trabalhavam na operação brasileira. A veículos internacionais, a fintech justificou que a “instabilidade econômica” do país levou à decisão de reduzir o time. Atualmente, a SumUp possui 800 funcionários no Brasil, segundo a Reuters.
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