A semana que começa será marcada pelas definições de juros nos Estados Unidos e no Brasil. No entanto, ao invés da tradicional Super Quarta, teremos a divulgação em dois dias diferentes.
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Com as eleições presidenciais americanas marcadas para terça-feira (05), o primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve será na quarta-feira (06), com a divulgação da decisão na tarde da quinta-feira (07). Já no Brasil, o Copom seguirá o seu rito tradicional, com divulgação no dia 06, após o fechamento do mercado.
Essa não é a única diferença entre o Fed e o Banco Central. As duas autoridades monetárias se encontram em uma encruzilhada que as leva para sentidos opostos. Na última Super Quarta, em 18 de setembro, o BC brasileiro elevou os juros em 0,25 ponto percentual, enquanto o Fed cortou sua taxa básica em 0,50 p.p. Agora, o que se espera é que o Copom acelere o seu ritmo de alta para a Selic, enquanto o Fomc pise no freio em relação ao seu ciclo de cortes.
As expectativas do mercado estão consolidadas, e há pouco espaço para surpresas. De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, 98% dos economistas acreditam em um corte de juros de 0,25 p.p., para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano, depois de uma redução de 0,5 p.p. na última reunião.
No Brasil, as opções de Copom negociadas pela B3 apontam que 92% dos investidores apostam em uma alta de 0,50 p.p. Em setembro, o colegiado do BC havia decidido por uma alta de “apenas” 0,25 p.p.
Confira abaixo a razão para uma diferença tão grande nos cenários.
Copom: pé no acelerador da Selic
Depois de começar o seu novo ciclo de alta de forma gradual, os acontecimentos dos últimos 45 dias indicam que os diretores do BC deverão agir com pulso firme para tentar ancorar as expectativas de inflação e responder à deterioração do cenário fiscal e do câmbio.
A começar pela inflação. Em um mês, a expectativa do mercado, medida pelo Relatório Focus, passou de 4,37% para 4,55%. O número coloca a projeção acima do teto da meta do BC, mostrando uma desancoragem das expectativas de inflação pior do que a observada em setembro.
Isso ocorre por diversos motivos. O primeiro deles é que a atividade econômica brasileira segue aquecida e mostrando sinais inflacionários. Após o mercado e o Ministério da Fazenda revisarem para cima as estimativas para o PIB, recentemente foi a vez do Fundo Monetário Internacional (FMI) se mostrar mais otimista, com uma estimativa de 3%.
O mercado de trabalho também se mostra aquecido, com o desemprego no menor nível desde 2012, a 6,4%. Isso significa que as famílias possuem um consumo potencial mais elevado — seja de produtos ou de serviços (a inflação que mais preocupa o BC e que menos sente os impactos de uma política monetária restritiva).
“O recuo da taxa de desemprego representa um avanço histórico. No entanto, essa melhoria ocorre em um ambiente macroeconômico delicado, onde a inflação e o custo do crédito podem exigir uma resposta mais intensa do BC em ajustes na Selic, especialmente se o aumento da massa de trabalhadores pressionar o consumo e dificultar o controle inflacionário”, aponta Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.
O segundo ponto de preocupação é o cenário fiscal. Nas últimas semanas, o governo federal prometeu um pacote de contenção de gastos para recuperar a confiança do mercado. Inicialmente, a intenção era divulgar as novas medidas após o fim do segundo turno das eleições municipais, mas até agora nada. A falta de novidades tem pressionado a curva de juros, com o mercado já precificando uma Selic que pode ultrapassar a casa dos 13%.
Isso nos leva ao terceiro fator que deve pressionar o BC a acelerar a alta dos juros brasileiros. Com a incerteza em relação ao cenário fiscal, investidores estrangeiros se afastam dos ativos brasileiros, enquanto o mercado local busca refúgio no dólar. O resultado é um câmbio depreciado, com a moeda americana se aproximando da casa dos R$ 5,90. Um dólar mais caro tende a gerar um processo inflacionário ainda maior, causando mais dor de cabeça para o BC.
Segundo economistas do Itaú BBA, o Copom não deve sinalizar quais serão os próximos passos do colegiado para a Selic. “Em um contexto de volatilidade elevada, especialmente em relação à trajetória esperada para o câmbio, eleições nos Estados Unidos e ruídos associados à política fiscal local, as autoridades devem manter em aberto o ritmo dos eventuais ajustes futuros e a magnitude total do ciclo, enfatizando, no entanto, o firme compromisso do comitê no processo de convergência da inflação à meta”.
O JP Morgan acredita que o comunicado do BC deverá adotar um tom mais duro do que o visto na reunião anterior. “Vários membros do conselho destacaram inúmeras pressões inflacionárias na economia brasileira desde a reunião de setembro, incluindo um hiato de produção positivo, condições de mercado de trabalho apertadas com aumentos salariais significativos, expectativas de inflação desancoradas e crescimento econômico resiliente”, justifica o banco americano.
Fed: pé no freio para analisar o cenário
Já o Fed, que iniciou o seu ciclo de cortes com uma queda agressiva de 0,50 p.p. — surpreendendo e agradando boa parte do mercado — deve seguir com uma redução de 0,25 p.p.
Nos Estados Unidos, são dois os principais problemas. O primeiro é que os dados econômicos mostram sinais conflitantes sobre o real status da economia americana.
Na última sexta-feira, o relatório de empregos mais importante do país (o payroll) assustou o mercado ao mostrar a criação de apenas 12 mil novas vagas de trabalho em outubro — impactado pelos dois furacões e uma greve que se arrasta na Boeing, uma relevante empregadora do país.
Mas, antes disso, o relatório Jolts — que também mede tendências do mercado de trabalho — havia mostrado uma demanda por mão de obra equilibrada, embora as vagas em aberto somem 7,4 milhões, o nível mais baixo desde janeiro de 2021.
O núcleo da inflação do consumo (PCE) ficou dentro do esperado, mas a atividade econômica cresceu abaixo da projeção do mercado. Ou seja, embora existam sinais de fraqueza da economia — o que poderia fazer com que o Fed seguisse com cortes de 0,5 p.p. — o confuso mercado de trabalho gera apreensão.
O segundo ponto são as eleições americanas. Apesar da votação na próxima terça-feira, é possível que o país ainda leve alguns dias para cravar o vencedor do pleito. As pesquisas eleitorais apontam um empate técnico entre os dois candidatos — Donald Trump e Kamala Harris.
As políticas econômicas propostas pelos dois podem impactar diretamente a saúde fiscal do país, deixando o Fed em sinal de alerta. Por isso, com o caminho indefinido e precisando de mais dados que não levem em conta os eventos climáticos recentes, a aposta é por uma moderação do colegiado do BC americano.
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“O conjunto dos dados até aqui sugere que desacelerar o ritmo de corte de juros para 0,25 p.p., como amplamente esperado, é a melhor opção para o Fed, que ganhará tempo para avaliar os próximos dados e o resultado da eleição. Por enquanto, esperamos continuidade dos cortes em ritmo de 0,25 p.p. para as próximas reuniões”, aponta Andressa Durão, economista do ASA.