Aos 24 anos, Nicolle Merhy (ou Cherrygumms, como é conhecida no mundo gamer) acumula vários títulos: CEO da Black Dragons e-Sports, ex-jogadora profissional, influenciadora digital, youtuber, Under 30 da Forbes em 2019 e primeira embaixadora gamer da Nike no Brasil. Foi um longo caminho entre jogar videogames com o pai quando era pequena a comandar um dos maiores times de jogos eletrônicos do país, hoje com uma grande operação e infraestrutura – e planos ambiciosos de crescer ainda mais.
O que nasceu em 1997 de um grupo de amigos, quando Nicolle não passava de uma recém-nascida, hoje é um negócio sério e consolidado comandado por ela. A Black Dragons acumula mais de 60 títulos em competições (15 deles internacionais), 90 atletas em oito modalidades, uma gaming house sede de sete andares e 27 salas em São Paulo e uma receita de R$ 2,6 milhões só em 2020. Tudo conquistado sem nenhum capital externo – o único grande time nacional sem esse tipo de suporte (pelo menos por enquanto, já que planos para uma rodada série A de investimentos estão em andamento).
“Eu sofri muito para conseguir patrocínio para a Black Dragons e para a Cherry. Por praticamente dois anos, 100% das minhas economias iam pro time, teve muito investimento pessoal. Até parei de jogar profissionalmente para começar a apostar mais na carreira de influenciadora e ganhar dinheiro – o que deu muito certo, hoje tenho várias marcas. Uso muito a minha mídia pessoal para angariar patrocínio e reverter para a BD”, explica Nicolle.
Com mais de 1,2 milhão de seguidores nas redes sociais, a jovem versátil tem investido principalmente em vídeos diários no YouTube e lives em plataformas de streamings, como a Twitch. A estratégia está funcionando: Nicolle já representou mais de 50 marcas pelo mundo, entre elas gigantes como Nike, Acer e Prevent Senior, com um faturamento pessoal médio entre R$ 70 mil e R$ 100 mil mensais, revelou em entrevista à Forbes. Isso sem considerar as premiações. Hoje, seu time tem a terceira maior receita em gratificações no cenário brasileiro, já tendo conquistado diversos títulos internacionais com valores de até US$ 500 mil – dinheiro que foi todo reinvestido na empresa e seus atletas.
Com números favoráveis, a intenção de Nicolle é consolidar cada vez mais a Black Dragons como player internacional de e-sports, mercado que registrou um crescimento de 14,5% no mundo em 2020 e acumula quase 28 milhões de usuários só no Brasil. Nesta trajetória, seu próximo passo é a captação de private equity até outubro. “Até hoje não tivemos nenhum investimento. Quero criar uma área comercial robusta e ir pro mercado, mas ainda não tivemos essa oportunidade. Mesmo assim, já conseguimos parcerias com Nike, Ambev, banco Next… Imagina com um investidor?”, pergunta.
Assistida pela consultoria global de gestão de empresas Alvarez & Marsal, a BD quer vender uma participação na companhia junto a um aporte de R$ 2,5 milhões que será usado, principalmente, como capital de giro e na construção do projeto Arena: um novo espaço na sede, com palco para partidas e campeonatos gamers aberto ao público, arquibancadas, espaço para encontro com os fãs, além de uma loja e museu do time – estrutura inédita no cenário brasileiro de e-Sports. A previsão é inaugurar o complexo em 2022, segundo Nicolle. O valuation da empresa ainda está em análise.
E, para a CEO, não se trata apenas de capital financeiro: “Não quero só dinheiro, eu quero gestão. Estou atrás de uma pessoa que realmente queira somar, que vá participar das decisões e me ajudar a estruturar cada vez mais a empresa onde eu tenho trabalhado nos últimos cinco anos.”
A ATUAÇÃO DAS MULHERES
Ambiciosa e decidida, Nicolle certamente é o maior nome feminino na cena atual do e-sports nacional e tem representado as mulheres em diferentes cenários do setor. Foi, por exemplo, a única jogadora da América Latina nos campeonatos oficiais mistos desde 2016 – condição que só foi mudada este ano – e a única mulher, entre 75 candidatos, a concorrer ao prêmio Sport Brasil na categoria “Personalidade do Ano”.
Entre outros reconhecimentos, a empresária e influencer também já foi chamada ao Senado Federal para opinar sobre a regulamentação do esporte eletrônico no Brasil e deu palestras e consultorias para empresas do porte da Ambev. “Sempre defendi as mulheres nesse cenário. Inicialmente sofri muito preconceito para conseguir consolidar meu nome, mas como estava em um time, tinha amigos e o apoio de uma fanbase – algo que nem todas têm. Por isso que hoje temos modalidades femininas na BD, é um espaço totalmente inclusivo”, ela conta.
E é exatamente isso que o universo gamer é para ela: acolhimento. “É bonito ver que, nos jogos eletrônicos, qualquer um pode fazer parte. Não precisa ter condicionamento físico, pessoas com deficiências podem participar, não tem diferença entre homens e mulheres. É muito mais inclusivo do que qualquer esporte tradicional”, finaliza.
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