A canadense Ramona Sequeira, presidente da divisão de portfólio global da multinacional Takeda, foi a primeira mulher a assumir a presidência do conselho da PhRMA, associação da indústria farmacêutica dos EUA. Agora em licença-maternidade, a brasileira Renata Campos foi promovida a presidente de mercados emergentes da Takeda enquanto ainda estava grávida. “Fui promovida grávida para um cargo em Singapura. E em nenhum momento perguntaram como eu iria fazer isso, só comemoraram comigo.”
Ter mulheres na alta liderança é algo natural – e esperado – para uma empresa global cujo time é formado majoritariamente (52%) por mulheres. “Atuamos em 80 países ao redor do mundo e a diversidade é um imperativo para o nosso negócio”, diz Ramona, que lidera uma equipe de 10 mil funcionários. Hoje, 46% da liderança da Takeda é feminina. Mas esse cenário está longe de representar o setor.
Um estudo da Biotechnology Innovation Organization, maior associação comercial de biotecnologia do mundo, mostra que as mulheres são 49% da força de trabalho na indústria, mas a representação diminui nos níveis mais altos das empresas. Apenas 34% dos executivos e 20% dos CEOs são mulheres.
Os caminhos até a presidência
Durante mais de 25 anos na indústria biofarmacêutica, Ramona liderou negócios em vários mercados, culturas e sistemas de saúde. Trabalhou no Canadá, Reino Unido e na Europa, se mudou para os Estados Unidos em 2013, onde vive hoje, e entrou na Takeda há sete anos para liderar a unidade nos EUA. Mais recentemente, ajudou a completar a integração da farmacêutica Shire, adquirida pela Takeda em 2019 numa transação de US$ 62 bilhões.
Formada em ciências e business, ficou fascinada pelo universo farmacêutico já no seu primeiro estágio. “Me impressionou perceber o impacto que podemos ter na vida das pessoas. Me apaixonei pela indústria e nunca mais saí.”
Farmacêutica de formação, Renata está na empresa há 17 anos, onde começou em 2005 como gerente de produtos, e em uma década chegou à presidência no Brasil. Ela também ocupou posições de liderança na Turquia, Argentina e liderou a região da América Latina. “Quando fui convidada para ser general manager na Turquia, aos 36 anos, ninguém me questionou por ser jovem, mulher ou brasileira, foi uma coisa natural.”
Agora, ela vai ficar baseada em Singapura. Apesar de não ter planejado sua carreira, ela soube aproveitar todas as oportunidades que surgiram no caminho. Ramona também se diz péssima no planejamento de carreira, e mesmo assumindo um cargo de alta liderança, sempre preferiu ficar nos bastidores. “O que me ajudou à medida que eu subi a cargos de liderança é que eu gosto de assumir a responsabilidade. Não tenho medo de ser responsável pelas coisas.”
Ela também defende que o desconforto faz parte do crescimento profissional. “Você tem que estar disposto a assumir papéis que te deixam um pouco desconfortável. Você não sabe como fazer, mas sabe que pode aprender e que tem pessoas para te ajudar.”
Por mais lideranças femininas
Em um setor predominantemente masculino, Ramona precisou criar seu próprio modelo de liderança. “Quando eu comecei, não havia muitas outras mulheres líderes. Eu não tinha exemplos de como era uma boa liderança porque os líderes eram muito diferentes de mim.”
Quando entrou no conselho da PhRMA, em 2015, rodeada de CEOs homens, precisou de um tempo para entender que pertencia a esse lugar e tinha capacidade de influenciar as decisões. “A síndrome da impostora vem todos os dias, mas ajuda a me manter modesta”, diz.
Mas ela dribla isso pensando em ser um modelo para outras mulheres. “Quando você chega a um certo ponto da carreira e começa a mentorar jovens mulheres, você percebe que tem que deve a elas estar confortável na sua própria pele para mostrar como é uma boa liderança.”
O sentimento de fraude também abala Renata com frequência, mas as executivas vêm trabalhando para criar um ambiente em que as mulheres possam alcançar o topo. “A cultura da empresa é muito importante para ajudar a criar segurança psicológica e mostrar para as mulheres que elas pertencem e podem dizer exatamente o que pensam.”
A Takeda tem programas de mentoria voltados para mulheres, projetos de liderança feminina que incentivam as profissionais a fazer networking até mesmo fora da empresa e um plano de sucessão que leva em conta métricas que incluam as mulheres. “Não olhamos apenas para os anos de experiência porque muitas mulheres entram na indústria mais tarde. Nós vamos além e analisamos habilidades, potencial e ambição”, diz Ramona.
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