Cansaço extremo, alterações de humor e falta de concentração. Sintomas que, para mulheres a partir dos 40 anos, podem indicar menopausa – ou será que é burnout?
Com noites mal dormidas e falta de memória e concentração, a psicóloga Aline Eliza Ribas, 46 anos, confundiu os sinais da pré-menopausa com problemas relacionados à vida profissional. “Cheguei a questionar se ainda gostava do que fazia ou se aqueles eram sintomas de insatisfação ou excesso de trabalho.”
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O climatério, transição da fase reprodutiva da mulher para a não-reprodutiva, tem início por volta dessa idade e se estende em média até os 65 anos. E coincide com o momento em que muitas mulheres estão no auge de suas carreiras, assumindo (e até deixando) cargos de liderança enquanto vivem esse quadro – muitas vezes sem entender de onde vêm os sintomas.
A psicóloga vivenciou os primeiros sinais da pré-menopausa aos 42, mas demorou para identificar o que de fato estava acontecendo. “Depois que os sintomas começaram a afetar meus atendimentos, fiquei preocupada com o futuro. Estava vivendo uma queda de energia, mas precisava dela para dar conta do meu trabalho e do dia a dia com minha família.”
Aline está longe de ser a exceção. Até 2030, a população mundial de mulheres na menopausa e pós-menopausa deverá chegar a 1,2 bilhão, com 47 milhões de novas mulheres a cada ano. Entre as brasileiras que estão passando por essa fase, 91% relatam cansaço e falta de energia, 89% mencionam alterações de humor e 82% apontam ansiedade ou depressão. Os dados são de um estudo conduzido pela Plenapausa, primeira femtech brasileira com foco na saúde da mulher a partir da menopausa, que ouviu mais de 17 mil mulheres com idade média de 47 anos entre agosto de 2021 e julho de 2024. “A menopausa não é uma sentença de depressão e ansiedade, mas é o cenário perfeito para isso, junto com todas as mudanças que acontecem nesse período da vida das mulheres”, afirma a ginecologista Vanessa Heinrich, formada pela USP e profissional do Hospital das Clínicas em São Paulo.
Os sintomas podem ser facilmente confundidos com o burnout, classificado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2022 como uma doença ocupacional. A síndrome, caracterizada pelo esgotamento físico e emocional, perda de produtividade e distúrbios de humor, geralmente associados a um ambiente de trabalho estressante, acomete 30% dos profissionais brasileiros (principalmente mulheres), de acordo com dados da Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho).
Como diferenciar os quadros
A distinção entre os sintomas do burnout e da menopausa nem sempre é óbvia e os quadros podem realmente estar coexistindo. “Os sintomas se sobrepõem e, muitas vezes, as duas condições ocorrem simultaneamente, intensificando os sinais de ambas”, explica Heinrich.
Para obter um diagnóstico certeiro, a ginecologista destaca a importância de identificar sinais específicos da menopausa, como fogachos (também conhecidos como ondas de calor), ressecamento vaginal e irregularidade menstrual. Combinados com a ausência de exaustão profissional, os sinais ajudam a diferenciar os quadros e direcionar o tratamento. “Os sintomas da perimenopausa [ou pré-menopausa, período de transição marcado por mudanças hormonais] podem ser tratados com reposição hormonal, que melhora significativamente a qualidade de vida das mulheres. Já o burnout exige suporte psiquiátrico e mudanças no ambiente profissional.”
Além do diagnóstico médico, é possível começar a identificar os sintomas e entender o quadro por meio de testes na internet. “Temos o protocolo de Kupperman, disponível no nosso site gratuitamente, onde avaliamos 17 sintomas relacionados ao climatério”, diz Márcia Cunha, cofundadora da Plenapausa. O índice avalia a intensidade dos sintomas e é usado como referência por ginecologistas.
Carreira e menopausa
Muitas mulheres vivem o climatério em momentos de maturidade na carreira, e os sintomas refletem diretamente nas suas vidas profissionais. “Alterações de humor podem dificultar a comunicação e a colaboração no ambiente de trabalho, enquanto a ansiedade e a depressão comprometem a motivação e a clareza mental, o que dificulta o cumprimento de tarefas”, diz Carla Moussalli, também cofundadora da Plenapausa. Segundo o estudo da femtech, 44% das brasileiras nessa fase afirmam que sua produtividade diminuiu, enquanto apenas 8% reduziram a carga horária semanal para lidar com os sintomas.
Para dar conta da vida profissional durante sua adaptação à menopausa, Aline Eliza Ribas conta que precisou fazer um esforço extra, mas que viu os reflexos dos sintomas dentro e fora do trabalho. “Tive uma redução na produtividade, e isso me fez questionar muitas coisas que impactaram minha confiança pessoal.”
“É um momento em que questionamos o nosso lado físico, mental, profissional, de mulher e mãe. São muitos lutos e mudanças ao mesmo tempo.”
Aline Eliza Ribas
O tema ainda é cercado por estigmas que podem impedir o tratamento correto e atrapalhar a vida profissional das mulheres. “Ainda temos a percepção de que não ser reprodutiva significa não ser produtiva”, diz Márcia Cunha, da Plenapausa. “Mas uma mulher que se encontra nessa fase da vida não é menos produtiva, ela apenas não está sendo cuidada ou recebendo tratamento de forma adequada.”
É recomendado buscar profissionais para fazer mudanças na dieta, nos exercícios e no estilo de vida para equilibrar os hormônios e otimizar o desempenho profissional. Ser proativa ao buscar informação e tratamento adequado é a chave para lidar bem com esse momento. “Manter-se ativa física e profissionalmente, buscar apoio médico e considerar a reposição hormonal quando indicada são passos fundamentais para atravessar essa fase de forma saudável”, diz a médica Vanessa Heinrich. “Estudos antigos que associavam a reposição hormonal ao aumento do risco de câncer de mama criaram um medo infundado. Hoje, sabemos que essa relação não existe e que o tratamento hormonal pode ser seguro e eficaz.”
Como lidar com a menopausa no trabalho
As mudanças hormonais durante a menopausa podem ter efeitos de longo alcance na função cognitiva e nos níveis de energia. Sem informação suficiente para entender as mudanças pelas quais seus corpos estão passando, muitas mulheres se sentem constrangidas ao ter ondas de calor e brainfogs (névoas mentais) no trabalho, com receio de que isso possa prejudicar suas carreiras – e podem chegar a abandonar seus empregos por isso.
Segundo pesquisa da empresa americana Biote, 40% das entrevistadas disseram que os sintomas interferem na performance e produtividade e uma em cada cinco deixaram ou consideraram deixar seus empregos. Um estudo conduzido no Reino Unido mostrou que 1 em 10 mulheres deixaram seus trabalhos devido a sintomas da menopausa.
É preciso falar sobre o assunto. Mulheres na menopausa parecem menos confiantes e estáveis emocionalmente, segundo uma pesquisa publicada na revista Academy of Management, duas características importantes para a liderança. Isso a menos que elas falem abertamente sobre o assunto.
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Criar um ambiente de trabalho que reconheça e apoie as mulheres na menopausa é fundamental para garantir que elas possam continuar a contribuir com suas experiências. “Empresas no Reino Unido e na Europa já adotam benefícios específicos para mulheres na menopausa, mas no Brasil essa ainda é uma pauta desafiadora”, conta Márcia Cunha.
Políticas de suporte, como horários de trabalho flexíveis, programas de bem-estar, treinamentos de conscientização e até licença-menopausa, podem fazer uma diferença significativa, segundo a empresária. “Não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia crucial para manter a força de trabalho saudável, engajada e produtiva.”
“A menopausa não deve ser vista como um obstáculo para a carreira de uma mulher. Com as adaptações certas, é possível passar por essa fase com qualidade de vida e manter a produtividade.”
Márcia Cunha
A partir do momento em que compreendeu seus sintomas, a psicóloga buscou informações sobre o assunto e começou um tratamento. Quando o cansaço fica muito intenso em meio à rotina, ela se permite tirar uns dias de férias. “Descansar sempre ajuda a repor as energias.”