Apesar de inúmeras iniciativas visando fechar a lacuna de gênero nas áreas de STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), as mulheres ainda representam apenas cerca de um terço da força de trabalho nesses campos. Enquanto os esforços para atrair mais mulheres cientistas, matemáticas e engenheiras continuam, novas pesquisas apontam que estereótipos de gênero relacionados a essas áreas já aparecem na infância.
Uma pesquisa recente publicada na revista acadêmica internacional Sex Roles, focada em gênero, estudou crianças do jardim de infância até a terceira série. Os resultados mostraram que as crianças acreditavam que meninas mais velhas teriam mais dificuldade em uma prova desafiadora nas áreas de STEM. As crianças também viam os homens como mais competentes do que as mulheres em profissões nessas áreas. Esse viés inicial pode estar relacionado às percepções sobre a dificuldade desses campos.
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Meninas são vistas como menos capazes
Para as meninas, os trabalhos em STEM são mais desafiadores do que outras profissões – enquanto os meninos consideravam igualmente difíceis. Além disso, 62% deles citaram disciplinas de STEM como suas favoritas, enquanto apenas 37% das meninas fizeram o mesmo.
Para tirar essas conclusões, os pesquisadores pediram que crianças pequenas fizessem uma previsão do desempenho de meninos e meninas da quinta série em uma prova difícil. “Descobrimos que as crianças viam as meninas como menos capazes de aprender sobre temas novos e difíceis de STEM em comparação com outros assuntos. Mas percebiam os meninos como igualmente capazes de aprender sobre todos os assuntos”, escreveram os autores. Apesar disso, os dados mostram que meninas e meninos têm o mesmo desempenho nas aulas de ciências e matemática no ensino fundamental e médio.
Vieses permanecem no mercado de trabalho
Esses vieses iniciais não estavam limitados à escola – eles se estendiam à forma como as crianças percebiam homens e mulheres no mercado de trabalho, especialmente em campos de STEM.
Os pesquisadores criaram perguntas sobre trabalhos em STEM que pudessem ser facilmente compreendidas por crianças do ensino fundamental, e cada profissão foi explicada em termos simples e com imagens. Por exemplo, o papel de um engenheiro foi apresentado com a frase: “Este homem e esta mulher são engenheiros. Um engenheiro entende de máquinas, pode projetar e construir novas máquinas, além de consertá-las e fazer com que funcionem melhor.” Os alunos foram convidados a avaliar o desempenho de um homem e de uma mulher em cada trabalho.
As crianças favoreceram os homens ao avaliar o desempenho nas carreiras de STEM, mas classificaram a competência de homens e mulheres da mesma maneira em outras profissões.
Os resultados desse estudo são consistentes com pesquisas anteriores, que constataram que, aos seis anos, as crianças já aplicam estereótipos de gênero em suas percepções de mundo. Nessa idade, as crianças veem homens e meninos como mais inteligentes do que mulheres e meninas, e acreditam que os meninos são mais interessados em áreas como ciência da computação e engenharia.
No entanto, as disparidades de gênero existem em muitas profissões, não apenas nessas áreas. Os homens tendem a ser sub-representados em empregos de menor remuneração, enquanto as mulheres têm estão desproporcionalmente ausentes de profissões com salários mais altos.
Profissionais das áreas de STEM estão entre os mais bem pagos no mundo. O Bureau of Labor Statistics, agência do governo dos EUA que faz parte do Departamento do Trabalho, aponta que os profissionais em STEM ganham mais do que o dobro do que a média. Essas disparidades salariais ajudam a explicar o foco de empresas, organizações e governos em incentivar mulheres a seguirem carreiras em STEM.
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Como mudar esse cenário?
Os pesquisadores propõem estratégias para educadores, cuidadores e familiares ajudarem a aumentar a participação das meninas em áreas como engenharia e ciência e desafiar estereótipos sobre as capacidades das mulheres nessas áreas. Uma abordagem prática é apresentar às meninas modelos femininos de sucesso em áreas de STEM – como cientistas, pesquisadoras e executivas de tecnologia –, o que pode inspirar confiança e interesse. Além disso, incentivar as crianças a se engajarem em brincadeiras relacionadas a esses temas também é um caminho para mudar percepções e construir autoconfiança em habilidades relacionadas a esses campos historicamente dominados pelos homens.