Grande parte da decisão da Salesforce de fazer um lance pela Slack em uma transação avaliada em US$ 27,7 bilhões se concentrou na intensa rivalidade com a Microsoft, cuja oferta de software de colaboração, o famoso “Teams”, tem ultrapassado o crescimento da Slack durante a pandemia. Mas uma mudança significativa está ocorrendo no planejamento de TI, criando uma lógica comercial ainda mais poderosa para a combinação das duas empresas de software –e é uma mudança que provavelmente irá alimentar mais fusões e aquisições de tecnologia corporativa no próximo ano.
Os CIOs e outros líderes de tecnologia estão olhando para um futuro com muito mais trabalho remoto do que antes do início da pandemia de Covid-19. Um relatório recente da empresa de pesquisas Forrester estima que, embora menos de um décimo das empresas estejam planejando deixar os funcionários escolherem se querem trabalhar remotamente quando a pandemia acabar, 60% ficarão com um modelo híbrido. Essa mudança terá um impacto significativo no conjunto de tecnologia que os CIOs estão construindo para apoiar os trabalhadores.
LEIA MAIS: Salesforce vai comprar aplicativo Slack por cerca de US$ 26 bi
Cansado da “fadiga de ferramenta”
Uma das principais prioridades é reduzir o que Sathish Muthukrishnan, diretor de informações, dados e digital da Ally Financial –uma empresa de serviços financeiros com capitalização de mercado de quase US$ 12 bilhões–, descreve como “fadiga da ferramenta” de software. Ele está se referindo ao estresse e à frustração que os funcionários experimentam quando são forçados a utilizar muitos aplicativos de software diferentes para realizar suas tarefas e alternar frequentemente entre eles.
Este problema já era uma preocupação antes da Covid-19, mas a mudança para o trabalho remoto em massa –e a enxurrada de novos aplicativos de software para apoiar a transformação de cenário– o elevou muito mais em um momento de aumento dos níveis de estresse entre os funcionários por conta da pandemia.
Consequentemente, a situação resultou na crescente demanda por tecnologias diversas, desde ferramentas de colaboração a recursos de análise de dados e software de gerenciamento de projeto. “Em um mundo pré-pandêmico, esse nível de integração não era tão crítico, já que a capacidade de interagir é essencial para a produtividade de uma força de trabalho distribuída”, disse Nicola Morini Bianzino, diretor-global de tecnologia da gigante de serviços profissionais EY, em comentários enviados por e-mail para a Forbes.
Edward Wagoner ainda vê um papel para aplicativos específicos, assim como muitos outros líderes de tecnologia. O CIO digital da JLL Technologies, uma divisão da JLL, empresa imobiliária de US$ 7 bilhões, reconhece que há um desafio de fazer com que esses serviços funcionem de forma mais integrada, para que os funcionários não fiquem frustrados enquanto precisam trabalhar ora no escritório ora em casa. “Todas as ferramentas são ótimas”, disse Wagoner, “mas muitas vezes a experiência não é boa”. Plataformas maiores com ofertas mais integradas, como a combinação Salesforce-plus-Slack, devem ser capazes de reduzir esse tipo de atrito.
A “fadiga de ferramenta” ou “tool fatigue”, em inglês, tem grandes implicações para a segurança e também para a produtividade: quanto mais complexa a rede de aplicativos independentes que as equipes de TI precisam reunir, maiores os riscos de falhas na segurança. Os CIOs também se preocupam com o fato de que as pessoas que trabalham remotamente tendem a não estar tão mentalmente sintonizadas com as questões de segurança como nos escritórios. Plataformas de software mais integradas deveriam, em princípio, ser mais fáceis de proteger.
Para Muthukrishnan, a segurança é o primeiro ponto em que ele pensa enquanto constrói o conjunto de tecnologias de sua empresa, que também inclui ferramentas de colaboração e software, como quadros brancos virtuais que podem ser usados por funcionários dentro e fora do escritório para projetos de inovação. Muthukrishnan está constantemente em busca de maneiras de reduzir o atrito entre as diferentes aplicações. “O segredo é saber o quão bem eles se integram entre si.”
Um front-end para o futuro do trabalho
Dadas as mudanças nas prioridades de tecnologia dos CIOs para apoiar o trabalho híbrido, a oferta pela Slack parece uma jogada estratégica inteligente, embora o CEO da Salesforce, Marc Benioff, tenha tentado esfriar as expectativas em torno de qualquer atividade financeira. Depois de começar a vida como um provedor de aplicativos baseados em nuvem para equipes de vendas, a Salesforce se expandiu progressivamente para outras áreas, como marketing, sucesso do cliente e, mais recentemente, análise de dados com a compra de US$ 15,7 bilhões do Tableau Software.
VEJA TAMBÉM: Resultado da Salesforce faz fortuna de Marc Benioff ultrapassar os US$ 10 bi
A integração do Slack adicionará recursos de comunicação e colaboração à sua plataforma, o que deve torná-la ainda mais atraente para os CIOs preocupados com a fadiga de ferramentas de software e outros problemas. Em uma postagem de blog comentando sobre o acordo, Aaron Levie, CEO da empresa de nuvem corporativa Box, disse que a combinação com a Slack dará à Salesforce “um novo front-end para o futuro do trabalho” que conecta o front office, o back office e os clientes em uma única plataforma.
A descrição de Levie ressoa entre os líderes de tecnologia corporativa, mas o negócio também aumenta a pressão sobre empresas menores de software independentes, como Box, Dropbox e Asana para expandir por meio de aquisições e atender às crescentes expectativas dos CIOs por plataformas de software seguras e sem fadiga que possam efetivamente apoiar estratégias híbridas de trabalho remoto de escritório. Aqueles que não avançarem podem ser ofuscados por empresas como Salesforce e Microsoft –ou talvez sejam comprados por elas.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.