Pela primeira vez, o Google for Startups Accelerator, programa de aceleração da gigante da tecnologia, selecionou uma turma 100% formada por empresas lideradas por mulheres para seu próximo ciclo no Brasil. Uma das 10 selecionadas é a SafeSpace, startup criada em março do ano passado para oferecer, às empresas, uma solução tecnológica capaz de coibir os casos de assédio no ambiente corporativo.
A primeira versão do produto chegou ao mercado no meio de 2020 – logo depois, em outubro, a startup recebeu um aporte, de valor não revelado, liderado pela Maya Capital e outros 11 investidores. Desde então, a empresa tem se dedicado a aperfeiçoar a solução na mesma velocidade do aumento de demanda provocado pela pandemia.
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“Com o home office, as empresas passaram a ter menos visibilidade das questões de má conduta”, explica Rafaela Frankenthal, cofundadora da SafeSpace ao lado de Natalie Zarzur e Giovana Sasso. “Essa comunicação mais digital oferece uma certa proteção aos abusadores.”
Uma pesquisa inédita realizada pela consultoria de inovação social Think Eva em parceria com o LinkedIn no ano passado sobre assédio sexual em ambientes profissionais on e offline comprova a afirmação de Rafaela. “As reuniões online se transformaram em uma realidade para os grupos mais privilegiados, cujos assediadores são encorajados pela sensação de proteção que a tela do computador lhes dá. Os homens, infelizmente, não se intimidam tão facilmente e seguem vitimizando mulheres profissionais em todo o país”, diz o levantamento.
A solução proposta pela SafeSpace passa pela adoção da tecnologia para criar um ambiente seguro de denúncia. A plataforma, que funciona no modelo saas (software as a service) e pode ser acessada via mobile, automatiza todo o fluxo de uma forma intuitiva para o usuário, tornando a comunicação mais fluida. Por meio de conteúdos informativos, perguntas pré-programadas e questões abertas, a ferramenta ajuda, inclusive, o colaborador a entender se o que aconteceu foi, realmente, um caso de abuso de qualquer espécie. “A ideia é justamente tirar a fricção do processo. Relatar situações como essas em campo aberto é intimidador”, diz Rafaela. Todos os registros ficam armazenados, com data e hora, sem possibilidade de alteração. Assim que a denúncia é feita, a empresa recebe uma notificação.
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“Nós, como parceiros, não temos acesso aos relatos. O que fazemos é a intermediação, por meio de uma solução que ajuda a gerar confiança nos usuários e transparência, agilidade e eficiência no fluxo”, diz a executiva, explicando que a plataforma conta, ainda, com um chat anônimo, que humaniza o processo. “A ideia é que as pessoas entendam que elas podem fazer seus relatos assim que os primeiros sinais de abusos se manifestarem, evitando que aquilo se torne realmente um caso formal de denúncia. Normalmente, o que acontece é que as vítimas esperam muito para dar o alerta e, quando o fazem, já estão no ponto de não conseguir mais trabalhar naquele local.”
A empreendedora explica que tudo é feito de forma realmente anônima – nem o IP do computador do usuário é identificado. E ressalta, como diferencial, a possibilidade de fazer registros no modo rascunho. “As pessoas têm muitas dúvidas antes de fazer uma denúncia. Não é um processo de um passo só. As coisas vão acontecendo aos poucos até termos uma ideia clara da situação. E a tendência é que, principalmente após casos de estresse pós-traumático, a gente vá esquecendo dos detalhes. O rascunho ajuda a registrar os fatos, a embasar os relatos e a ter evidências”, diz ela. Enquanto está nessa categoria, apenas o usuário tem acesso. “Ele pode decidir, com base nos próximos acontecimentos, se oficializa ou não a denúncia. Caso decida por isso, terá todo o histórico salvo.”
Entre as empresas que já contam com o serviço estão a rhtech brasileira Gupy, a startup chilena de alimentos vegetais NotCo – a plataforma está disponível também em inglês e espanhol –, a Delivery Center, empresa que faz a integração dos lojistas de shopping centers ao mundo digital, e a Xerpa, proprietária de uma solução de adiantamento salarial. “A plataforma atende a empresas de todos os tamanhos. As grandes podem substituir seus canais tradicionais de denúncia, enquanto as pequenas e médias, que não tinham condições de implementar algo do tipo, podem começar a tratar o problema já de forma automatizada e segura.”
Rafaela diz que tem percebido maior adesão à ferramenta de empresas que, independentemente de seus portes, já possuem iniciativas genuínas de inclusão e ética. “São negócios que entenderam que é preciso ter uma postura ativa frente aos casos de abusos e que enxergaram na plataforma uma alternativa segura para resolver o problema e criar ambientes cada vez mais inclusivos.”
A empreendedora explica que o custo da ferramenta depende do tamanho da companhia. E cita como vantagem competitiva o fato de que o uso da plataforma elimina toda uma estrutura, muitas vezes terceirizada, de denúncia. “Além disso, as empresas passam a contar com um histórico realmente confiável de ocorrências. Quanto mais informação, mais chances de mitigar os riscos e menos probabilidade de ter que gerenciar uma crise.”
Agora, com a ajuda do programa de aceleração do Google – que prevê sessões de mentorias com especialistas da companhia e de parceiros, para ajudar na resolução de desafios técnicos e de liderança – Rafaela se diz ainda mais animada. “Receber esse apoio é, sem dúvida, uma oportunidade incrível. Sinto muito orgulho de tudo que fizemos para chegar até aqui, de sermos selecionadas para participar de um programa de aceleração oferecido por uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Ainda mais pelo fato de o programa ter foco em startups com liderança feminina. O ecossistema de tecnologia ainda é muito desigual e, infelizmente, a mudança está devagar. Ver uma gigante assumindo um compromisso assim é um respiro muito bem-vindo!”, diz.
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