Conhecido como um dos principais personagens do ecossistema tecnológico de São Carlos (SP), Thiago Christof acaba de iniciar uma nova etapa nos negócios. Fundador da Calamar, startup absorvida pela Movile que usa inteligência artificial para otimizar o atendimento ao cliente, e coordenador de inovação da Wavy, também do grupo, o empreendedor agora está à frente do programa de residência para inovadores IAM Founder.
“Eu tinha vontade de ficar próximo das startups em estágio inicial, pois a empresa nascente é muito ágil, muitas ideias são testadas e descartadas. É isso que me atrai: a possibilidade de prototipação, testar, errar, corrigir e seguir em frente”, afirma Christof.
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A iniciativa do empreendedor oferece quatro meses de acompanhamentos semanais, eventos exclusivos e conexões com mentores e investidores do ecossistema. A programação inclui, ainda, office hours para avaliar a evolução dos negócios e um demo day, quando as empresas apresentarão suas soluções e produtos para patrocinadores, convidados e potenciais investidores. O objetivo é reunir pessoas e startups num ambiente de aprendizagem, por meio da troca de ideias, conhecimentos e experiências.
A escolha do interior paulista como o coração do projeto não foi por acaso. A cidade de São Carlos conta com 179 startups e 17 espaços de inovação e coworking, de acordo com o “Report Sanca Hub 2020” elaborado pelo Ecossistema de Empreendedorismo, Tecnologia e Inovação da região, em parceria com a Liga de Empreendedorismo São Carlos. Segundo o levantamento, 22,3% das empresas atuam com foco em tecnologia, seguidas pelas de gestão empresarial (10,6%) e marketing (10,6%). O ranking também inclui as healtechs (8,9%), edutechs (6,7%), biotechs (6,1%), agtechs (5%) e fintechs (4,5%).
Para Christof, a região está se configurando como um pólo de inovação que tem tudo para se destacar na América Latina. “O que diferencia o projeto de outros momentos [da minha trajetória] é que a região está começando a colher os resultados de ações que foram plantadas ao longo dos anos. Temos os primeiros empreendedores fazendo exit [quando um sócio ou investidor vende sua parte na empresa] e investindo em outras startups da nova geração. É um momento de maturidade e de evolução do ecossistema como nunca vimos antes”, argumenta.
APOIO À DIVERSIDADE E PLANOS DE EXPANSÃO
Nos últimos anos, o Brasil tem avançado significativamente no ecossistema de inovação: de 2015 a 2019, o número de startups no país mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727, um salto de 207%, de acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups). No entanto, apenas 4,7% desses negócios foram fundados exclusivamente por mulheres, segundo o “Female Founder Report 2021”, estudo elaborado pela Distrito em parceria com a rede Endeavor e a B2Mamy.
Nesse contexto, um dos pilares do IAM Founder é fomentar mais startups com fundadoras mulheres com o intuito de mitigar o quadro de desigualdade no setor. Exemplo disso é a Mônada, plataforma data-driven com foco em D&I Analytics, que tem como objetivo otimizar investimentos de impacto por meio da análise de dados de diversidade e inclusão nas empresas.
Fundada por Maria Luiza Salvador, Reijane Salazar e Adla Viana, a startup desenvolveu uma plataforma corporativa capaz de mapear e quantificar o cenário da diversidade nas empresas e monitorar a eficácia das soluções de impacto implementadas. “Nós somos uma aliança que representa a diversidade das minorias de gênero e étnico-racial. Estamos empreendendo e mostrando que é possível que esses grupos ocupem espaços que, historicamente, não são destinados a eles”, explica Adla.
O trio se conectou com Thiago Christof pelo LinkedIn e encontrou no programa de residência a oportunidade que buscava para alavancar os negócios. Para as fundadoras, um fator decisivo para a participação foi o modelo do programa: gratuito e equity-free. O conceito determina que as startups não precisam pagar nada para se inscrever e participar e também não são obrigadas a ceder parte do negócio para os organizadores. Ou seja, a iniciativa não toma uma participação societária da startup e não cobra contratos de fidelidade e compromisso. Portanto, ela mantém a totalidade de seu capital social.
Para o empreendedor, a primeira coisa que lhe chamou atenção na Mônada foi, justamente, a presença de fundadoras mulheres e em posições de liderança. “Depois, conheci a equipe e encontrei pessoas engajadas, que realmente querem fazer a mudança acontecer.” Por meio de sua ferramenta, a startup espera impactar positivamente a sociedade, inspirando novos negócios relacionados à diversidade e ESG (ambiental, social e governança, da sigla em inglês). “Gente como nós não têm oportunidades para empreender em tecnologia, pois muitas startups começam com pessoas de padrão dominante e alto poder aquisitivo”, diz Reijane.
Com o apoio do IAM Founder, a startup pretende aprimorar e lançar a plataforma de D&I Analytics e, ao longo dos próximos meses, captar investimentos para escalar o negócio e acelerar seu crescimento. Com os recursos, a expectativa é ampliar a equipe, que conta com a colaboração do desenvolvedor Jean Sidharta, e aprimorar as tecnologias de machine learning, análise de dados, gráficos e dashboard. “As pessoas precisam entender a importância de incluir a diversidade e a inclusão nas empresas de maneira muito radical para garantir que os negócios se mantenham vivos e sobrevivam”, argumentam.
Ao lado da Mônada, mais sete startups fazem parte da primeira edição da incubadora, iniciada em junho deste ano: MagicBox, GAIA GreenTech, UEX Urban Experience, Ybitec, Greek Colabs, SmartMenu e Indigo. “Para apoiá-las, temos um time de 40 mentores que vai desde CEOs e CTOs locais de São Carlos a, por exemplo, pessoas que trabalham no Vale do Silício com empresas como Google e Microsoft”, explica Christof. Além das mentorias, esses negócios podem usufruir de três espaços coworking localizados em São Carlos: Onovolab, Wikilab e Atena Colab.
Segundo o executivo, o financiamento do programa é de base filantrópica. “São pessoas visionárias, empreendedores da região e do restante do Brasil que querem apoiar a nova geração de startups.” Os investimentos acontecem por meio de um fundo, de valor não divulgado, batizado de IAM Visionaire e, também, do patrocínio de empresas prospectadas pelo IAM.
Os próximos passos do projeto já estão definidos. A previsão é, até o final do ano, ampliar de oito para 20 a base de empresas residentes. Nos primeiros três anos, esse número deve saltar para 150 startups. De olho na expansão internacional, o programa acaba de abrir as inscrições para empreendedores de todas as regiões do Brasil e do mundo, com grande foco na América Latina, que desejam participar da residência.
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