As questões raciais e de gênero são cada vez mais discutidas de forma aprofundada no mundo corporativo. Pesquisas apontam que empresas com um quadro de funcionários mais plural tendem a obter 21% mais lucro quando há diversidade de gênero e 35% quando há diversidade racial – na comparação com seus pares menos diversos -, de acordo com o relatório “Delivering Through Diversity”, publicado em 2020 pela consultoria McKinsey.
No entanto, em 64,9% dos casos, mulheres representam, no máximo, 20% das equipes de trabalho em tecnologia, de acordo com a pesquisa #QuemCodaBR, realizada pelo PretaLab em parceria com a ThoughtWorks. No caso de pessoas negras, o cenário é ainda mais delicado. O levantamento revela que, em 68,5% dos casos, elas formam até 10% dos times de tecnologia. Os dados deixam claro que, apesar de avanços, as barreiras de inclusão estão longe de serem superadas.
Samara Rodrigues sentiu o preconceito na pele. “Em uma das empresas onde trabalhei, fiquei incomodada com os colegas. Havia ocasiões em que me sentia perseguida e diminuída por frases ditas direta e indiretamente relacionadas ao meu cabelo, minha cor, origem e vestimenta”, lembra. Ela decidiu acionar o departamento de recursos humanos da organização e, para sua surpresa, foi demitida no mês seguinte.
A solução foi criar sua própria empresa, ao lado de outras mulheres negras que o mercado insistia em invisibilizar. Batizada de Plena A.I, a startup oferece serviços de inteligência artificial e IoT (Internet das Coisas) para apoiar companhias de diversos segmentos na potencialização dos negócios.
As atividades estão relacionadas com marketing e vendas, ajudando a mapear o comportamento do público para tornar as recomendações de produtos e serviços mais assertivas; e risco e conformidade, prevenindo ameaças e colaborando na implementação de boas práticas de governança corporativa. Além disso, a empresa trabalha com um reconhecimento do histórico financeiro comportamental dos clientes para traçar as melhores linhas de crédito.
Samara, que ocupa o cargo de CEO da startup, reuniu um time 100% feminino, com engenheiras de risco, cientistas de dados e especialistas em estatística, entre outras profissionais. Ao todo, são 10 mulheres, nove negras e uma branca, que pretendem transformar a empresa na provedora de serviços de tecnologia mais diversa do mundo. “Acreditamos que diversidade, de fato, leva a empresa a outro patamar. Pessoas de backgrounds diferentes conseguem resolver problemas de forma muito mais rápida”, argumenta.
Fundada há pouco mais de seis meses, a empresa já está desenvolvendo projetos com quatro clientes, ainda mantidos em segredo. A previsão é que as parcerias sejam reveladas no próximo semestre. “[Nossa expectativa] é mostrar o antes e depois da chegada da Plena. Conseguimos estruturar e extrair informações valiosas [para as companhias].”
Para 2021, a meta é crescer. A startup pretende fechar o ano com 20 colaboradores, com foco em engenheiras e cientistas de dados. Ampliar a diversidade também está no radar, com novas vagas para pessoas trans, refugiados e imigrantes.
Nos planos da CEO também está o incremento da tecnologia, por meio do desenvolvimento de novas soluções de machine learning e IoT para, no futuro, transformar-se em uma big tech. “Nós [população negra] não podemos ser deixadas de fora, já que somos maioria. A Plena está aqui para cobrir esse gap. Essa inquietude social me motiva”, finaliza.
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