A paixão por tecnologia e o desejo de desenvolver novos projetos foi o que fez o piauiense Vicente Batista largar a profissão de advogado para trabalhar com gestão de produtos digitais. Formado em direito pela USP (Universidade de São Paulo), ele diz que o ambiente “rígido e quadrado” dos escritórios de advocacia não se encaixava com sua personalidade e o que realmente queria para a sua vida.
Depois de quatro anos trabalhando com direito, Batista decidiu que era a hora de mudar o caminho de sua trajetória profissional. “Joguei para o alto a vida certa como advogado e fui trabalhar em uma startup pequena, focada no mercado jurídico”, conta. “Não via um caminho fácil de mudar de carreira. Precisei ler muito e estudar tudo o que havia disponível na internet sobre gestão de produto.” A partir daquele momento, ele nunca mais parou de trabalhar com inovação.
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Após sair da lawtech, em 2014, o ex-advogado foi admitido como gerente de produto na Equals, uma startup com foco na conciliação de cartão de crédito mais tarde adquirida pela Stone. Dois anos depois, Batista trocou o desafio de inovar no setor financeiro pelo de levar novas soluções para o mercado imobiliário. Em 2016, foi contratado para ser gerente de produto na proptech QuintoAndar, um dos unicórnios brasileiros, que hoje tem valor de mercado de US$ 4 bilhões.
Em retrospectiva, o gerente de produto diz que os principais desafios enfrentados na trajetória profissional estavam relacionados à sua sexualidade. “As dificuldades de crescer na carreira como LGBTQIA+ têm dois lados, na minha opinião”, avalia.
Um dos desafios citados por ele é o de não poder ser quem se realmente é no ambiente de trabalho. “Por muito tempo tive medo de falar abertamente sobre minha sexualidade, sobre minha vida, meus relacionamentos e meus gostos”, afirma. “Piadas homofóbicas eram parte do dia a dia das empresas onde trabalhei, e me abrir sobre quem eu era me tornaria automaticamente vítima delas.” Por conta disso, Batista relata que enfrentou dificuldade de manter vínculos com colegas das companhias por onde passou.
A segunda dificuldade que um LGBTQIA+ enfrenta no ambiente corporativo, conta o gerente de produto, é a de construir autoconfiança. “Crescer se reconhecendo como gay é um processo que cria um sentimento de inadequação e afeta sua autoestima”, afirma. “Não tem como evoluir na sua carreira sem uma boa dose de autoconfiança.” Para ele, foi só depois de alguns anos trabalhando a aceitação pessoal que ele conseguiu vencer as dúvidas que tinha sobre si mesmo e alavancar sua trajetória profissional.
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Trabalhando em startups por, pelo menos, sete anos, Batista avalia que esse tipo de empresa depende de inovação para sobreviver e que ela só é possível com diversidade. “[Por causa disso], vejo que existe uma boa intenção para a contratação e inclusão de pessoas LGBTQIA+ [nas startups]”, diz. “Mas isso varia muito entre as empresas e também entre as siglas da comunidade.” Segundo ele, em algumas companhias do ecossistema, ainda há espaços permeados de piadas homofóbicas e discriminação. “Sei ainda que sou privilegiado por ser um homem gay cisgênero, pois acompanho a situação de pessoas transgênero, por exemplo, e sei que o cenário é bem mais difícil.”
Seja por sua própria experiência, seja pelos relatos que recebe de colegas, Batista deseja que as startups defendam a “importância crucial da diversidade nos times” e desenvolvam políticas afirmativas para pessoas LGBTQIA+. “As empresas precisam acolher as pessoas dessa comunidade em suas equipes, garantindo que elas tenham espaço para se expressarem e para crescer”, afirma. No QuintoAndar, ele diz que sente essa liberdade de ser quem é, mas reconhece que demorou para encontrar uma empresa com um ambiente que proporcionasse essa condição.
Batista não esconde a admiração que possui pela empresa onde trabalha atualmente. “O QuintoAndar inovou o mercado imobiliário mundial, não só o brasileiro”, avalia. “Desde sempre precisamos resolver os nossos problemas e inovar com base na própria experiência e capacidade de invenção.” Dentro da engrenagem do unicórnio, o gerente de produto diz que sua função é garantir o desenvolvimento de novas soluções que agreguem valor para o usuário final. Para isso, ele afirma que é fundamental conhecer bem quem está do outro lado da tela e quais problemas essas pessoas enfrentam quando o assunto é compra, venda e locação de imóveis.
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Em 2019, Batista inclusive integrou a equipe que desenvolveu o marketplace de compra e venda de imóveis do QuintoAndar que, até então, priorizava a vertical de locação e aluguel de apartamentos pelo país. Se depender dele, esse trabalho de criar e disponibilizar novos serviços e produtos não vai parar. “Quando eu entrei aqui, vi a startup crescer de 70 para 1.500 funcionários”, diz. “Estou 100% focado em aumentar nossa marca e ver o mercado da América Latina transformado pelo nosso jeito de trabalhar.”
Este perfil faz parte de um especial que aborda as vivências de pessoas da comunidade LGBTQIA+ no ecossistema de inovação brasileiro, que a Forbes Tech veiculará nas próximas semanas. Para saber mais sobre os desafios e oportunidades relacionados a este público nas empresas de tecnologia, leia a reportagem que deu início à série.
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