Aos 30 anos, o engenheiro da computação Lucas Carrilho Pessoa, group project manager do iFood, enxerga a empregabilidade no atual cenário do ecossistema brasileiro de inovação para profissionais LGBTQIA+ sob uma perspectiva positiva. “Cada vez mais as empresas de tecnologia têm assumido o seu papel de desconstruir os preconceitos e as desigualdades relacionados à comunidade. Tenho visto, em várias startups, o desenvolvimento de programas de treinamento relacionados à diversidade e a inclusão de iniciativas do tipo em suas estratégias de atração de talentos”, diz.
Para o engenheiro da computação, no entanto, o problema é que o principal foco das empresas tem sido na contratação de profissionais sêniores, o que causa um efeito insustentável no mercado. “A falta de incentivo à formação e desenvolvimento de profissionais de grupos sub-representados cria uma escassez de colaboradores para essas vagas, e a falta de equidade nos processos de seleção faz com que, muitas vezes, essas pessoas sejam preteridas por profissionais heterossexuais, brancos e cisgênero, por exemplo”, diz.
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Segundo Pessoa, o primeiro passo para criar estratégias de contratação que elevem o potencial de comunidades sub-representadas é entender o papel dos líderes na formação dos talentos e na desconstrução dos vieses de recrutamento e seleção que existem na maioria das empresas. E é nesse sentido que o paulistano procura se movimentar. “Um dos meus grandes objetivos é continuar contribuindo com o desenvolvimento e crescimento de um número cada vez maior de profissionais. O meu compromisso como líder é fazer com que essas pessoas sejam as referências para que outros profissionais trilhem caminhos inovadores e ampliem o seu próprio impacto.”
E desistir, para ele, não é – nem nunca foi – opção. Enquanto estava na universidade, Pessoa decidiu empreender no mercado de food delivery e logística. Ao lado de alguns amigos, fundou o Clube da Entrega, mais tarde incorporado à Maplink, empresa do Grupo Movile. “Foi por meio dessa experiência que conheci o mundo dos produtos e me apaixonei. Eu podia juntar negócios, empreendedorismo e tecnologia no meu dia a dia.”
Mas as dificuldades de ter seu próprio negócio no Brasil logo se manifestaram. “Todos os dias eu me perguntava se estava no caminho certo. Eu via meus colegas de curso atuando em empresas grandes, com salários maiores, mas mesmo assim escolhia, diariamente, a inovação e o empreendedorismo. Depois da aquisição, a dificuldade era lutar comigo mesmo, com a síndrome do impostor. Não acreditava que seria capaz de resolver todos aqueles problemas, de crescer e de influenciar decisões importantes nas empresas.”
Contra todos os medos, Pessoa migrou, em 2019, para o iFood, também do Grupo Movile, onde assumiu a gestão de um time de product managers na área de logística. Hoje, atua na área de restaurantes, liderando um grupo de quatro mulheres em busca de inovações capazes de melhorar o ecossistema dos parceiros.
“Trabalhar em uma das maiores foodtechs do mundo me obriga a reinventar o que já era feito há muitos anos. Eu gosto de pensar que tudo o que fazemos beneficia, no final das contas, famílias que dependem dos entregadores, dos produtores, dos gestores de seus pequenos ou grandes negócios. Hoje, meu desafio não é mais explicar o que é um processo de delivery de comida, como era em 2013. O mato alto já foi cortado e trabalhamos na otimização de processos, no emprego de mais tecnologia nessa cadeia produtiva, em como garantir que todos possam se beneficiar do que há de mais moderno e inovador e, assim, tenham mais bem-estar, lucro e impactos positivos.”
Como líder, Pessoa tentar inspirar seu time a pensar da mesma forma e a desenvolver produtos que reinventam a forma de operação dos restaurantes. Enquanto isso, sonha com o dia em que todo o setor de tecnologia entenda a importância de investir em programas de desenvolvimento de lideranças pertencentes a grupos sub-representados. “Promover um ambiente mais diverso e inclusivo vai além de garantir o acesso a oportunidades para essas comunidades. É sobre assumirmos o compromisso de formar as próximas gerações de líderes, para que elas possam trazer diferentes vivências e perspectivas na maneira como tomamos decisões e promovemos impacto. Quando você é parte de um grupo sub-representado, ter referências que lhe mostram exemplos dos próximos caminhos que você pode trilhar é a melhor forma de construir um ambiente seguro para que todos possam contribuir e se sentir pertencentes a ele.”
Este perfil faz parte de um especial que aborda as vivências de pessoas da comunidade LGBTQIA+ no ecossistema de inovação brasileiro, que a Forbes Tech veiculará nas próximas semanas. Para saber mais sobre os desafios e oportunidades relacionados a este público nas empresas de tecnologia, leia a reportagem que deu início à série.
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