Com uma área de 728 quilômetros quadrados, o equivalente a metade da cidade de São Paulo (SP), Singapura é um país que tem se destacado nos índices econômicos. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o PIB (Produto Interno Bruto) do país asiático foi de US$ 340 bilhões em 2020, algo próximo de R$ 1,7 trilhão, com uma taxa de desemprego próxima a 3% da população economicamente ativa. E o investimento do governo em ciência, tecnologia e inovação é um dos pilares que sustentam os bons resultados.
Desde 1995 até o ano passado, Singapura investiu US$ 45,7 bilhões (R$ 73,8 bilhões) em pesquisa e desenvolvimento, o que inclui repasses para projetos de ciência e tecnologia. Segundo o Plano de Pesquisa, Inovação e Empresas do governo, a perspectiva é de que mais US$ 18,9 bilhões (R$ 98,28 bilhões) sejam investidos nesse ecossistema, que envolve universidades, cientistas e empreendedores até 2025. Esse valor, de acordo com o documento produzido pela Fundação Nacional de Pesquisa – órgão vinculado ao primeiro-ministro do país -, corresponde a 1% do PIB.
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Nos próximos quatro anos, o governo de Singapura deve gastar 29% dos recursos dedicados para pesquisa e desenvolvimento em universidades e institutos de pesquisa. A segunda maior fatia do orçamento (26%) vai para estimular setores cruciais da economia singapurense, como manufatura, comércio exterior, saúde, sustentabilidade e economia digital. Já os programas de inovação, voltados para startups e empresas de tecnologia, abocanham outros 21% do montante.
O investimento recorrente em pesquisa e desenvolvimento é o que torna Singapura um “tesouro de ideias e políticas inteligentes”, segundo o doutor em economia e diretor do NPII (Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional) da FGV, Renato Galvão. “Inovação sempre foi uma prioridade no projeto de Singapura e é isso que atrai empresas e pesquisadores de todo o mundo”, diz. O especialista cita facilidades legais, financeiras e de infraestrutura – como o oferecimento gratuito de escritórios por três anos – como chamarizes para a permanência no país.
UM BRASILEIRO E UM ALEMÃO EM SINGAPURA
Com os benefícios oferecidos pelo governo, empreendedores e pesquisadores são atraídos para desenvolver os seus projetos pessoais em solo singapurense. O brasileiro André Menezes é um exemplo de estrangeiro que foi fisgado pelo tigre asiático. Após mais de quatro anos morando em Singapura e trabalhando como diretor-geral da SATS BRF, ex-joint venture da brasileira BRF com a SATS – empresa de distribuição de alimentos do país asiático -, ele decidiu que era hora de empreender e colocar sua ideia em prática.
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Em sociedade com o alemão Timo Recker, a quem conheceu por meio de contatos frequentes em seu trabalho na SATS, Menezes criou a foodtech Next Gen. Fundada em outubro de 2020, a foodtech desenvolveu um frango à base de plantas sob a marca TiNDLE. O produto é distribuído para 40 restaurantes e bares de Singapura. Ainda este mês, também deve chegar em mais de 20 estabelecimentos de Hong Kong, Macau e Kuala Lumpur. Seu diferencial, diz o fundador brasileiro, está na aplicação, já que o alimento pode ser moldado pelos chefes de cozinha na forma que eles preferirem, como se fosse uma “massinha”.
Em entrevista à Forbes, Menezes diz que o apoio estruturado para inovação em Singapura tem atraído não só startups, mas multinacionais, que têm instalado fábricas e centros de pesquisa e desenvolvimento no país. “Pesquisa, investimento e suporte estatal, venture capital, tudo isso que falam que Singapura oferece é verdade”, diz. “Antes de vir para cá, achava que era algo impossível, mas agora eu penso que, se eu sair daqui, vou até me sentir um pouco perdido”, diz, entre risos.
CELEIRO DE STARTUPS
A história de Menezes com a Next Gen exemplifica os esforços do governo de Singapura para levar – e reter – empreendedores e pesquisadores ao país. Para as startups, a principal interface com o governo é a agência Enterprise Singapore, que encabeça os investimentos e projetos focados nas companhias de base tecnológica. Sob ela, há mais de 12 iniciativas para incentivar essas empresas, investidores de risco, incubadoras e aceleradoras.
O estímulo a todas as partes do ecossistema de inovação fez com que o número de startups operando em Singapura saltasse 150% nos últimos 17 anos. Em 2003, eram 22 mil empresas de base tecnológica no país. No ano passado, 55 mil. “Orquestrando essas ações de fomento, nós conseguimos criar ou atrair mais de 100 incubadoras e aceleradoras, além de 150 fundos de venture capital”, diz o diretor-regional da Entreprise Singapore no Brasil, Josiah Choy. “Para um país pequeno, é um número relativamente alto e que contribuiu muito para a economia.” No Brasil, por exemplo, há 13 mil startups, de acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups).
A presença dos fundos de venture capital – que conta com os tradicionais Temasek e GIC – tem fomentado o desenvolvimento dos negócios de inovação no país. De acordo com a última versão do Plano de Pesquisa, Inovação e Empresas de Singapura, em 2019 o investimento de venture capital no país foi de, aproximadamente, US$ 8,2 bilhões (R$ 42,6 bilhões), um valor cinco vezes maior ao registrado em 2015. Com relação ao apoio estatal, mais de 3.000 startups obtiveram apoio financeiro por parte do governo entre 2015 e 2019.
O ecossistema tem se mostrado sólido, à medida em que vão surgindo novos unicórnios – startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão – no país. “Nós temos seis dos 12 unicórnios do sudeste asiático”, afirma Choy. “É muito importante continuarmos crescendo e consolidando Singapura como um hub de tecnologia e inovação não só para Ásia, mas para o mundo.” Entre as “companhias mitológicas”, destacam-se o SEA Group – controlador do e-commerce Shopee e da desenvolvedora de jogos Garena – e a companhia de acessórios para videogames Razer.
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