Se o cientista da computação Bruno Costa de Paiva pudesse definir qual é a missão que possui em sua vida profissional, ele diria: “Trabalhar para que cada vez mais profissionais LGBTQIA+ entrem nas organizações, sem precisar passar pelo que eu passei”. Com isso em mente, ele tentou dar voz e ser uma referência para outras pessoas da comunidade nas duas empresas onde trabalhou: a gigante dos cosméticos Natura e a plataforma de mobilidade urbana 99, um dos unicórnios brasileiros, onde é gerente sênior de operações.
Embora Paiva reconheça que teve sorte de trabalhar em empresas com valores alinhados aos seus e que sempre prezaram pela diversidade e inclusão, isso não o isentou das pressões sofridas por conta de sua orientação sexual. “Eu sempre trabalhei em áreas majoritariamente masculinas”, diz. “Durante meus primeiros anos de carreira, evitava compartilhar esse nível de detalhe, pois tinha receio de como isso poderia impactar na minha vida profissional, então acabava me fechando, na tentativa de me preservar.”
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Esse distanciamento emocional ocorreu, ele conta, principalmente no princípio de sua carreira, quando ainda era estagiário na área de vendas. “No início, quando ainda estava aprendendo como me portar e o que esperar de uma empresa, foi o momento mais complicado”, afirma. “Sentia uma pressão muito grande, como se tivesse que trabalhar o dobro para ganhar o reconhecimento que queria.” Além disso, o cientista da computação também diz que, por não partilhar dos mesmos interesses de colegas e gestores à época, acabava compensando essa falta de vínculo trabalhando mais ainda.
Conforme o tempo foi passando, Paiva foi crescendo dentro da sua profissão, até chegar em um cargo de liderança, como coordenador de vendas sênior da região Nordeste da Natura. Ao mesmo tempo, ele diz que amadureceu e passou a entender melhor o funcionamento do ambiente corporativo, o que lhe ajudou a se abrir mais sobre temáticas relacionadas a sua orientação sexual. “Com o passar dos anos, entendi o quanto era importante ser uma voz [do movimento LGBTQIA+] nessas organizações”, diz. “Todo o receio que eu sentia antes, tornou-se uma missão.” Desde então, seu propósito é ajudar na inclusão de pessoas que possam sentir o mesmo que ele sentiu no início da carreira.
Hoje, oito anos mais tarde, ainda há reflexos da missão que Paiva identificou para sua vida nos seus objetivos como gerente sênior de operações na 99. “Sou muito feliz por poder trabalhar com gestão e aprender, a cada dia, com diferentes pessoas sobre toda a complexidade que temos em nós”, afirma. “Ser gestor é, acima de tudo, servir e tentar compreender as pessoas, seus desejos, receios e motivações, então gostaria de aprender e estudar mais sobre o comportamento humano.” Em breve, o cientista da computação deve iniciar uma especialização para, como ele diz, “tratar melhor os universos individuais” de cada um dos seus comandados.
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O departamento do qual faz parte é, inclusive, encarregado da expansão internacional da 99. Para o seu time, Paiva criou o lema de que “inovação não é invenção”, em uma tentativa de tornar o conceito mais abrangente e democrático. “Muitas vezes pensamos que inovar é desenvolver algo disruptivo ou inédito, e esse tipo de pensamento nos distancia de sermos reais agentes de inovação no mundo.”
Segundo ele, inovação é a criação, revisão, melhoria ou transformação de algo. No caso da plataforma de compartilhamento de veículos, ele afirma que a inovação é constante em todos os departamentos. “Estamos sempre pensando em novas formas de oferecer soluções de mobilidade mais acessíveis e seguras, com lucratividade para os motoristas, e transformar esse setor no Brasil”, diz. “Estamos todos os dias nos reinventando para fazer isso acontecer, então sinto que inovamos sempre, em tudo o que fazemos, para seguir nossa missão como empresa.”
Além de fazer diferente no setor de mobilidade, Paixa afirma que a 99 também está bem avançada na questão de diversidade e inclusão de profissionais da comunidade LGBTQIA+. “Temos tratado desse tema, a cada ano, com mais seriedade, com o estabelecimento de metas para garantir um ambiente cada vez mais plural”, afirma. “Temos colaboradores gays, lésbicas, trans, mas temos muito trabalho para fazer ainda.” Segundo ele, a companhia ainda quer aumentar o percentual dos funcionários pertencentes a esse grupo.
O ecossistema de inovação brasileiro, de acordo com Paiva, tem liderado as iniciativas de diversidade e inclusão da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho. “As startups têm feito um trabalho inovador nesse sentido, com uma taxa boa de retenção de profissionais desse grupo, criando um sentimento real de pertencimento”, afirma. Para o futuro, o maior desejo dele é que as empresas sejam “cada vez mais coloridas e diversas” de uma maneira natural, sem a necessidade de ações afirmativas. “Elas são importantes e essenciais, mas é impossível não pensar no desejo de não precisarmos mais delas.”
Este perfil faz parte de um especial que aborda as vivências de pessoas da comunidade LGBTQIA+ no ecossistema de inovação brasileiro, que a Forbes Tech veiculará nas próximas semanas. Para saber mais sobre os desafios e oportunidades relacionados a este público nas empresas de tecnologia, leia a reportagem que deu início à série.
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