Em 2006, recém-formado no curso de publicidade e propaganda pela Universidade do Sul de Santa Catarina, Denis Braguini Bevacqua decidiu que era hora de viajar para os Estados Unidos para aprimorar o inglês. Por lá, trabalhou em restaurantes para arcar com os custos do curso e as despesas de morar em outro país. Quatro anos depois de sua estadia em San Diego, na Califórnia, voltou ao Brasil e começou a trabalhar com eventos, setor que acabaria se tornando parte importante de sua carreira.
Já em solo brasileiro, Bevacqua trabalhou um pouco mais de cinco anos em agências de publicidade e empresas especializadas na criação e desenvolvimento de eventos. Após essas experiências, o publicitário decidiu mudar de ares e embarcar no ecossistema de inovação. Em 2014, entrou para a então companhia de automação de marketing Resultados Digitais – hoje, RD Station – como gerente de eventos. “O conceito acelerado das startups e da indústria de tecnologia eram bem diferentes do que eu estava acostumado a vivenciar”, afirma. “Jamais havia previsto que aquela empresa, onde os funcionários trabalhavam de pantufa, se tornaria uma das maiores referências no setor e eu teria a oportunidade de acompanhar toda essa evolução.”
O maior desafio, naqueles tempos, era gerir e comandar o principal evento da startup, o RD Summit, que contempla palestras, workshops e painéis sobre marketing, vendas, transformação digital e a nova economia anualmente desde 2013. “Esse pilar tomou uma proporção enorme, que não estava prevista nas estratégias iniciais”, afirma. Nove anos depois, a conferência da RD Station encorpou e o departamento de eventos da empresa acabou se transformando em uma unidade de negócio. Com essa nova vertical, criada em 2019, Bevacqua se tornou diretor de marketing, cargo que ocupa há pouco mais de dois anos.
Ao analisar sua trajetória até chegar ao cargo que ocupa atualmente, Bevacqua conta que passou por “momentos inoportunos dentro e fora do ambiente de trabalho” por conta de sua sexualidade, mas aprendeu a conviver com esse tipo de situação incômoda. “Minha geração foi criada em um contexto no qual o preconceito era relativamente aceito na sociedade, com piadas frequentes na TV, escola e entre familiares”, afirma. “Me considero privilegiado pela minha posição como gay, branco, classe média e com estrutura familiar, que me fizeram enfrentar poucas barreiras relacionadas a minha orientação sexual no ambiente corporativo, mas acredito que isso [da normalização do preconceito] tenha limitado um pouco a espontaneidade de ser quem eu realmente sou.”
Embora avalie que sempre trabalhou em ambientes de trabalho mais abertos à diversidade, o executivo diz que o ecossistema de inovação possui uma cultura diferente da observada em mercados tradicionais. “O diálogo, a transparência e a pluralidade são as bases mais comuns em códigos de cultura das startups”, afirma. Para ele, porém, ainda falta uma maior representatividade de pessoas LGBTQIA+ na alta gerência dessas empresas, o que aumentaria a retenção de profissionais dessa comunidade.
Para explicar a importância da presença de gerentes LGBTQIA+, Bevacqua cita o seu exemplo na RD Station. “Nunca tive a oportunidade de trabalhar com uma referência da comunidade LGBTQIA+ que ocupasse um alto cargo na liderança”, diz. “Essa representatividade é muito importante para o movimento. Inspirar, de alguma forma, outros profissionais a perseguirem seus objetivos, independentemente das suas escolhas pessoais, me faz usar a posição que tenho para conduzir discussões internas, educar o mercado e ressaltar a importância da pluralidade em todos os ambientes.”
Iniciativas e ações afirmativas, segundo ele, são bem-vindas e necessárias para que essa situação se reverta a ponto de profissionais LGBTQIA+ juniores serem capacitados e desenvolvidos para se tornarem decisores nas companhias. Outro ponto crucial, para Bevacqua, é o de construir um ambiente interno seguro e acolhedor para esses colaboradores. “Garantir que as pessoas trabalhem em um local confortável e com as mesmas oportunidades de crescimento para todos é essencial”, diz. “As empresas precisam ter um posicionamento interno e externo bem claros, criar canais de denúncia e estar abertas à implementação de mudanças.”
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Em seu dia a dia como diretor de marketing, inclusive, a mudança foi um imperativo no ano passado por conta das imposições sanitárias da pandemia de Covid-19. O impedimento da realização de grandes conferências, como o RD Summit, fez com que a inovação fosse algo imprescindível. “Tivemos que reestruturar toda a unidade de negócio e repensar nossos projetos para tentar reproduzir a importância que os eventos presenciais possuem em nossa comunidade”, afirma. Após testar mais de 80 plataformas para criar uma conferência virtual, Bevacqua introduziu o RD Hostel, uma versão digital do encontro, que, segundo ele, “veio para ficar”.
A perspectiva é de que o RD Hostel permaneça no futuro, mesmo após a vacinação em massa e o arrefecimento da pandemia. A ideia de um evento híbrido, mais acessível, é algo sedimentado na cabeça do profissional. E a inovação deve continuar acontecendo dentro do segmento. “Inovação é explorar novos caminhos, processos e recursos para que você consiga melhorar os resultados em sua área de atuação”, afirma. “Inovar está mais relacionado à simplicidade de olhar o mesmo problema com um outro ponto de vista do que métricas e recursos financeiros.”
Este perfil faz parte de um especial que aborda as vivências de pessoas da comunidade LGBTQIA+ no ecossistema de inovação brasileiro, que a Forbes Tech veiculará nas próximas semanas. Para saber mais sobre os desafios e oportunidades relacionados a este público nas empresas de tecnologia, leia a reportagem que deu início à série.
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