Desde o ano passado, a Volvo assumiu compromissos ambientais que foram formalizados durante a COP26. Um deles reflete um portfólio 100% elétrico até 2030 e influencia diretamente as operações da companhia nos países latinos. De acordo com Luis Rezende, presidente da Volvo Cars América Latina, o mercado brasileiro já é visto por sua matriz, na Suécia, como um exemplo a ser seguido.
Luis reforça que a meta de eletrificação da empresa é factível e ainda mais real com a chegada do C40 Recharge. O primeiro modelo totalmente elétrico da Volvo foi lançado no México, em 17 de março. Presente na capital mexicana para o evento, Luis conversou com a Forbes Brasil sobre o que esse movimento representa para o Brasil e destacou as metas assumidas pela empresa em tornar-se integralmente elétrica.
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“Temos um compromisso como companhia, assumido durante a COP26, de reduzir a emissão de carbono até 2040 e deixar nosso portfólio global 100% elétrico até 2030. Isso reforça que precisamos de velocidade na transição da mobilidade à combustão para a elétrica.”, diz Luis.
A chegada do C40 Recharge ao mercado ocorre em um momento de alta nas vendas. De todos os automóveis comercializados no país no ano passado, 2851 são 100% elétricos. Esse montante representa um crescimento de mais de 250% em relação aos 801 elétricos vendidos em 2020. Em 2021, a Volvo vendeu 8,2 mil carros sendo que, do total, apenas 7,8% eram 100% elétricos. Para 2022, a previsão é que 43% das vendas sejam de modelos eletrificados.
Forbes Brasil: A Volvo viveu um momento de redefinição de estratégia para a América Latina recente, o que ele representou e como se deram as conversas com a matriz?
Luis Rezende: Um dos principais argumentos que tivemos com a matriz foi abandonar a ideia de que o governo seria responsável por suportar o avanço da mobilidade elétrica no Brasil. Os europeus entendem muito bem de impostos e a realidade de infraestrutura elétrica vinda de iniciativas governamentais que ocorrem lá fora não podem servir de exemplos aqui. Eu disse a eles, não quero que o governo se envolva nisso. Falta educação, segurança. Existem outras prioridades e se a intenção é vender mais carros elétricos, temos que buscar iniciativas privadas. Ou então estaremos fora da América Latina.
FB: Existe espaço para que, neste novo contexto da indústria automobilística, baseada em tecnologia, a América do Sul volte a ser relevante como no passado?
L: Sejamos honestos, a América do Sul tem reservas de lítio e cobalto. A gente consegue sim ter autossuficiência em bateria. Só precisamos focar em discussões maiores, ao invés de ficar nas pequenas que não nos levam a lugar nenhum. Não faz sentido manter fábricas ou lançamentos que não serão mais sustentáveis em alguns anos.
FB: O que representa o lançamento do C40 Recharge no atual contexto da Volvo no Brasil e como ficará seu portfólio a partir de agora?
L: Na América Latina, a Volvo já tem 65% do portfólio de produtos eletrificados. Considerando, inclusive, que o Brasil é estratégico neste sentido, estamos junto com Noruega quando o assunto é velocidade da transição de veículos à combustão para eletrificados. A meta global da empresa é chegar a 2025 com 50% das vendas totalmente elétricas no mundo. No Brasil, atingiremos 43% em 2030. É por isso que é muito importante não ter sobreposições em relação à estrutura. Se a BMW quiser fazer o corredor Norte-Sul, tudo bem, eu faço o Leste-Oeste. Não vou brigar diretamente porque essa não é minha intenção, meu objetivo não é vender energia, mas possibilitar a democratização de uma tecnologia para que eu venda meus produtos.
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FB: Dado o desafio de acelerar a infraestrutura elétrica no Brasil fala-se muito em colaboração entre empresas, como a Volvo enxerga esse movimento?
Luis: Não tenho nenhuma colaboração nem com Audi, BMW ou qualquer outra empresa. Fizemos, inclusive, uma campanha agradecendo os clientes de outras marcas por utilizarem os pontos de recarga da Volvo. Não quero e não acho que é hora de abrir concorrências. Se a BMW instalou pontos de recarga no trecho São Paulo – Rio pela Dutra, eu vou focar na Ayrton Senna. Não há também por que concorrer. Claro que isso pode mudar a partir do momento em que alguma empresa privada queira colocar tudo sob o mesmo guarda-chuva, mas neste momento, diante do ritmo de crescimento que estabelecemos, precisamos de uma agenda veloz.
FB: Qual o maior desafio para o avanço da mobilidade elétrica no Brasil?
Luis: A meu ver o que trava o avanço são as discussões pequenas. Por que ainda estamos falando de empresas apostando em híbrido se em suas matrizes a conversa é sobre modelos elétricos? Por que não assumir, de vez, que já não faz mais sentido investir em fábricas focadas a combustão? Quando focarmos no desenvolvimento do ecossistema e pararmos de perde tempo com essas coisas, de fato, veremos o Brasil mostrar todo o seu potencial em mobilidade elétrica.