O setor automotivo vive uma tempestade perfeita. As mudanças de hábitos dos consumidores brasileiros no pós-pandemia, a crise global de insumos como semicondutores e um dos maiores desafios de uma indústria centenária: a transição da combustão para a mobilidade a base de combustíveis limpos. No caso da Toyota do Brasil, alguns adicionais contam para esse cenário. A empresa segue uma transição de profissionais da fábrica de São Bernardo do Campo, que deve ser desativada entre o final de 2022 e o segundo semestre de 2023. Com isso, a companhia japonesa concentrou a produção nas plantas de Sorocaba, Porto Feliz e Indaiatuba, todas no interior de São Paulo.
Além disso, a empresa vive o desafio de adaptar seu portfólio ao novo contexto que mescla veículos flex com elétricos e híbridos. Ontem (31), em evento realizado na fábrica de Sorocaba, Rafael Chang, presidente da Toyota do Brasil desde 2016, apresentou quatro apostas tecnológicas da marca: híbrido flex, híbrido plug-in, 100% elétrica e hidrogênio. Das quatro, apenas a primeira tem veículos comercializados no Brasil.
Leia mais: CEO da Volvo fala sobre transição para carros elétricos na América Latina
Somente a fábrica de Sorocaba produz 160 mil unidades por ano, o equivalente a mais de 600 carros por dia, e opera em três turnos para dar conta, sobretudo, das exportações. À Forbes Brasil, Chang falou sobre a importância de entender que o Brasil tem contextos muito particulares em relação aos carros híbridos e que é importante dar opções que sejam acessíveis a todos os perfis e possibilidades.
Forbes Brasil – Qual o grande desafio, para a Toyota, de requalificar todo seu ecossistema de engenheiros para esse novo contexto da mobilidade?
Rafael Chang – Vamos ter que requalificar e treinar a mão de obra não só na montadora, mas também na cadeia de fornecedores. Hoje, grande parte dos nossos profissionais é especializada na tecnologia de combustão interna. Mas para que tudo aconteça do ponto de vista de transição e novas possibilidades, é importante entender as novas tecnologias e planejar o futuro. Mas essas mudanças vão muito além do esforço privado, elas envolvem políticas públicas. Não é algo que faremos sozinhos e nosso objetivo ao apresentar hoje, essas quatro tecnologias, é justamente para experimentar e entender quais farão mais sentido no longo prazo.
Leia mais: Carros elétricos no Brasil: pontos de recarga das principais marcas
FB – Como está o processo de transição de profissionais da fábrica desativada de São Bernardo para o interior de São Paulo?
Rafael – Essa movimentação tem o objetivo de gerar mais sinergia dentro da nossa operação. Estamos respeitando os postos de trabalho de todos esses funcionários que serão transferidos para algumas das operações do interior de São Paulo. Estamos com planos de recolocação, finalizando as condições com o Sindicato e no caso de algumas pessoas que não virão para o interior as condições de saída. Nosso objetivo é transferir todas as operações para interior e colocá-los em nossas fábricas. Ao todo, estamos falando de 550 funcionários.
FB – Existe, atualmente, muitas informações acerca da transição de motores à combustão para elétricos, mas o desafio de que, em muitos casos, a tecnologia ainda é restrita, como compor um portfólio que atenda várias situações?
Rafael – É importante, primeiro, entender o propósito de descarbonização. Com esse objetivo que a Toyota está propondo essas quatro tecnologias ou soluções diferentes em nossa avaliação. Todas elas, apesar de diferentes, fazem parte de um único propósito, que é o da descarbonização. Depois, vai depender de quais dessas soluções são mais práticas e sustentáveis considerando infraestrutura, matriz energética de cada país, inclusive o Brasil. Por isso, apostamos no híbrido flex que combina energia limpa com etanol que é algo muito importante e acessível no Brasil.
FB – Qual o desafio que você enxerga em cada uma delas?
Rafael – Para todas elas a infraestrutura. Para os carros plug-in e elétricos precisamos de uma rede de recarga robusta. O carro a hidrogênio também vai precisar de um sistema de recarga. E para fazer essa transição de maneira disruptiva, primeiro as montadoras precisarão de investimento pesado. Depois transformar toda a cadeia de fornecedores. Muitos dos componentes mudam e vamos precisar de produzir em volume. Mas por outro lado, teremos a oportunidade, inclusive no Brasil, de desenvolver os componentes para os carros eletrificados.
Leia mais: Nissan: tecnologia e japonesidade no futuro da mobilidade elétrica
FB – Qual o desafio do ponto de vista de gestão, de equilibrar tantas mudanças ao mesmo tempo em que vocês precisam resguardar a tradição de qualidade da Toyota?
Rafael – Nossa filosofia tem duas coisas não negociáveis: segurança e qualidade. Sobre isso, nós vamos trabalhar, estudar quais das tecnologias podemos introduzir. Obviamente que previsibilidade é um elemento muito importante neste contexto. E quando digo previsibilidade não é entender o que vai acontecer em cinco ou dez anos, mas sim qual vai ser a direção que o Brasil vai tomar em relação às rotas tecnológicas. Será híbrido? Híbrido flex? Totalmente elétrico? Com base nisso será decidido nosso investimento. Além disso, o Brasil tem um potencial de ser um player de exportação muito importante neste novo contexto.
FB – O que mudo na dinâmica de consumo no pós-pandemia e como está o ritmo de negócios da Toyota?
Rafael – A demanda em geral, no Brasil e América Latina, sofreu vários fatores. Tivemos problemas de fornecimento de semicondutores e peças, além de outros componentes, mas as exportações estão fazendo com que tenhamos 3 turnos de 24 horas funcionando em nossa fábrica de Sorocaba. Exportamos o Corola Cross para 22 países. Investimentos R$ 50 milhões na fábrica de Indaiatuba para exportar o Corolla Sedan e começaremos a exportar motores para a América do Norte, tudo isso reforça a importância e os investimentos que temos no Brasil.
>> Inscreva-se ou indique alguém para a seleção Under 30 de 2022