“A Via Láctea pode ser até dois bilhões de anos mais antiga do que atualmente se pensa”, diz a principal pesquisadora de um projeto para simular a origem e evolução da nossa galáxia, em Santiago, no Chile. Na verdade, dentro da Via Láctea, podemos encontrar estrelas que antecedem a galáxia e que são tão antigas quanto o próprio cosmos.
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O projeto é uma colaboração entre Argentina, Chile e Espanha chamado “CIELO: Propriedades Quimiodinâmicas de Galáxias e a Teia Cósmica”. A pesquisa da equipe antecede a pandemia e continuará por, pelo menos, mais cinco anos. Sem dúvida, o Chile é a capital mundial da astronomia óptica — com telescópios e observatórios internacionais por todo o território árido do norte do país.
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“O CIELO é um projeto que visa criar um universo virtual para estudar como as galáxias se formam e, particularmente, como a Via Láctea se formou”, conta Patricia Tissera, principal investigadora do CIELO e astrofísica na Pontifícia Universidade Católica do Chile, durante uma entrevista em Santiago.
Como funciona?
“Nós pegamos a velocidade, a distribuição de massa, a temperatura, os elementos químicos nas estrelas e no gás ao redor delas, e comparamos esses dados com observações”, explica Tissera. A partir dessa comparação, entendemos se assumimos hipóteses corretas ou se elas precisam de alguma modificação.
Durante os primórdios da galáxia, gás e poeira do cosmos primitivo fluíam para o campo de matéria escura da Via Láctea, uma região hipotética que a rodeia. Este campo, por sua vez, atraiu gás e poeira suficientes para começar a formar os primeiros aglomerados moleculares da galáxia, que eventualmente se transformaram em estrelas.
É tudo sobre retroalimentação cósmica
“Quando ocorrem explosões de supernovas, uma quantidade significativa de energia e elementos químicos é liberada de volta para o meio interestelar, alterando suas propriedades químicas e termodinâmicas”, afirma Pedrosa. Isso é crucial para regular a formação de estrelas.
Quão única é nossa Via Láctea?
“É uma galáxia comum, mas é rara no sentido de que não teve uma fusão maciça nos últimos bilhões de anos”, responde Tissera. Três bilhões de anos após o Big Bang, a morfologia da Via Láctea estava praticamente fixa.
Tanto Tissera quanto Pedrosa não acham que a Via Láctea seja um grande desvio no reino das galáxias espirais. Mas seu desenvolvimento químico é grande o suficiente para que nós nos beneficiamos de bilhões de anos de enriquecimento químico. A Terra contém uma infinidade de ferro e metais de terras raras que foram criadas por meio da nucleossíntese estelar durante bilhões de anos.
Tudo isso nos faz pensar se há um vetor astrobiológico em nossa evolução cósmica. É difícil acreditar que sejamos a única espécie inteligente a ter se nutrido de tal enriquecimento químico ao longo do tempo cósmico.
“Somos sortudos por viver em um planeta que possui todos os elementos químicos necessários para a vida como a conhecemos. Este é um lugar muito distinto em nossa galáxia”, finaliza Tissera.