Será possível entrar em um mercado e ler no rótulo de uma caixa os dizeres “hambúrguer vegetal”? Ou pedir no restaurante um “bife vegetal”? A partir de hoje (11), o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) coloca em discussão, visando a regulação do setor, um tema que vem ganhando relevância e que tem reflexo direto na escolha do consumidor: os produtos de base vegetal, ou plant based. Para determinar as regras do jogo, o Mapa iniciou, e segue pelos próximos 90 dias, o que oficialmente é denominado “Tomada Pública de Subsídios”. Por esse caminho, serão recebidos da sociedade, academia, instituições e quaisquer outro agente, conteúdos que possam servir para determinar as regras desse mercado.
Os produtos plant based referem-se a uma classe de itens compostos unicamente por matérias-primas de origem vegetal, mas que sua composição resulta em características organolépticas muito semelhantes aos produtos de origem animal que fazem parte da dieta humana, como bovinos, suínos, aves e peixes. “Não temos restrição alguma a esse tipo de produto, porque o mercado está aí para todos. Só não pode chamar esse tipo de produto de carne”, diz Rivaldo Machado Borges Junior, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), a mais importante entidade de classe da pecuária brasileira. “A ABCZ ainda não tem uma posição oficial, mas vamos nos pronunciar porque se um produto vegetal é chamado de carne isso significa propaganda enganosa para o consumidor.”
Para Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, “a Tomada Pública de Subsídios é uma ferramenta importante por permitir a participação de todos os envolvidos no processo e por auxiliar na tomada de decisões regulatórias, além de propiciar maior transparência ao processo e buscar conhecer às expectativas dos interessados no assunto.” Desde o ano 2000, há decretos e leis que regulamentam os produtos de base vegetal, mas o arcabouço ainda não contempla aqueles que se assemelham sensorialmente às carnes.
De acordo com o Mapa, a demanda por alimentos à base de vegetais tem crescido nos últimos anos e é uma área inovadora, tanto em diversidade de produtos análogos à base de proteínas alternativas, quanto em empresas que ingressam no setor. Segundo informações do GFI (The Good Food Institute), o mercado global desse segmento está estimado em US$ 100 bilhões a US$ 370 bilhões até 2035.
No país, os maiores frigoríficos já estão criando áreas destinadas a esse mercado. A Marfrig Foods criou, em maio, a PlantPlus Foods, uma joint venture com a multinacional norte-americana ADM (Archer Daniels Midland Company), empresa que em todo o mundo tem operações com cereais e grãos. Com a parceria, foi criada uma linha de produtos plant based, entre eles hambúrguer, kibe, almôndega e carne moída que, segundo a empresa, garante a mesma experiência sensorial da carne bovina. Mas a investida da Marfrig nesse segmento começou antes, em agosto de 2019 com o Rebel Whopper, hambúrguer vegetal criado para a rede de fast food Burger King.
Para Carlos Viacava, pecuarista e vice-presidente da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores), embora as empresas frigoríficas comecem a entrar nesse segmento, o setor tem força para que as regulações se adequem. “Nenhuma associação de produtores ou entidade, como a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, pode concordar com uma nomenclatura que confunda o consumidor e que, ante de tudo, está equivocada”, afirma Viacava. “Aliás, duvido até que o Mapa concorde que na regulação um produto plant based seja chamado de carne.”
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.