À medida que a sustentabilidade passa de um ponto de discussão para um foco central em todas as indústrias, os produtores de vinho enfrentam um momento crucial em que a tradição se cruza com a inovação. No último ano, a Argentina, um dos principais produtores de vinho das Américas, tem visto um aumento crescente no número de vinícolas certificadas em sustentabilidade, com o apoio da Wines of Argentina (WofA).
O país experimentou um crescimento significativo em seu mercado de vinho nos últimos anos, conforme relatado pela Statista. Em 2024, espera-se que o mercado de vinho da Argentina gere US$ 2,83 bilhões (R$ 15,6 bilhões na cotação atual) em receita doméstica e US$ 2,17 bilhões (R$11,9 bilhões) em vendas externas. O mercado deve crescer 7,88% entre 2024 e 2029, adicionando um volume de US$ 4,13 bilhões (R$ 22,6 bilhões) até 2029.
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Um exemplo desse movimento é o Grupo Avinea, um dos principais produtores de vinho da Argentina, que tem dado passos significativos em direção à sustentabilidade. À medida que a indústria enfrenta os desafios das mudanças climáticas e da gestão de recursos, a liderança da companhia se destaca por seu compromisso com a viticultura orgânica e a administração ambiental.
Um dos pilares dos esforços de sustentabilidade do grupo é a produção orgânica. “Para nós, a produção orgânica está alinhada com nossa filosofia de vinificação, que é centrada na produção de vinhos que refletem a pureza da fruta e o terroir único de cada local”, diz Andrés Valero, chefe de sustentabilidade do Grupo Avinea, à Forbes. “Embora as condições climáticas favoráveis, como chuvas limitadas e luz solar intensa, contribuam para a saúde das plantas, elas sozinhas não são suficientes para garantir uma viticultura orgânica bem-sucedida”.
De acordo com o executivo, “é essencial explorar e mapear o perfil do solo e selecionar cuidadosamente a estrutura de plantio apropriada, incluindo porta-enxertos e videiras, para uma viticultura de precisão. Esse conhecimento, combinado com práticas agroecológicas e estudos de biodiversidade, nos permite produzir vinhos em harmonia com o meio ambiente”.
Juan Pablo Murgia, enólogo chefe do Grupo Avinea, destaca a importância crítica de entender o perfil do solo e selecionar estruturas de plantio apropriadas para alcançar uma viticultura orgânica bem-sucedida. Essa abordagem, combinada com práticas agroecológicas e estudos de biodiversidade, possibilita que os vinhedos prosperem em harmonia com o meio ambiente.
“A junção da filosofia orgânica com a ciência e a viticultura de precisão detalhada realça o perfil dos vinhos por meio das forças naturais do terroir. Essa forma permite a aplicação a cada vinhedo sob o conceito de parcialização e micro-terroir, respeitando a identidade de cada pedaço de solo, sua heterogeneidade, diversidade e impacto em cada pequena área do vinhedo”, diz Murgia.
O Grupo Avinea também implementou práticas rigorosas na gestão da água para garantir a sustentabilidade. Em Mendoza, região que recebe pouca chuva e depende fortemente da água das montanhas dos Andes, a empresa instalou sistemas de irrigação por gotejamento e estações meteorológicas para otimizar o uso da água.
“A água é crucial para o desenvolvimento de qualquer projeto agrícola e industrial”, afirma Valero, enfatizando a importância de planos de irrigação personalizados e do reaproveitamento da água na vinícola para conservar recursos. “Dentro da vinícola, a maior parte do uso da água é para saneamento. Monitoramos o consumo diário de água e reutilizamos soluções de limpeza até cinco vezes. Após o uso, todo o efluente é recondicionado em nossa estação de tratamento de água e utilizado para irrigar cinco hectares de cultivos”.
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A eficiência energética é igualmente crucial nas operações do Grupo Avinea. A empresa tem se destacado na medição do consumo de eletricidade em tempo real e na implementação de planos de eficiência em suas operações. Essas iniciativas não só reduzem a pegada ambiental, mas também aumentam a eficiência geral da produção.
O Grupo Avinea também membro fundador do Sustainable Wine Roundtable (SWR), uma colaboração global com o objetivo de promover a sustentabilidade em todo o setor de vinho. Valero enfatiza a importância da cooperação para alcançar o desenvolvimento sustentável.
“Foi essencial criar uma plataforma para compartilhar melhores práticas e estabelecer políticas e padrões que pudessem ser universalmente adotados por produtores de vinho, distribuidores, importadores e vendedores”, diz ele. “Em um curto espaço de tempo, o SWR ajudou a abordar questões como o peso das garrafas, apresentando um roteiro claro e estabelecendo benchmarks de sustentabilidade para a indústria. Notavelmente, o trabalho realizado nesse sentido influenciou o aprimoramento do protocolo de sustentabilidade para o desenvolvimento da indústria vinícola argentina”.
Um dos objetivos mais ambiciosos da Bodega Argento, maior produtora de vinho orgânico da Argentina e uma das marcas sob o grupo Grupo Avinea, é sua busca para se tornar uma vinícola zero resíduo. A vinícola atualmente reutiliza ou recicla 97% de seus resíduos, com a meta de aumentar esse número para 99% dentro de cinco anos.
A empresa também está explorando materiais de resíduos alternativos que tenham impactos sociais positivos e colaborando com organizações para melhorar seus fluxos de reciclagem. “Adotar práticas sustentáveis na vinificação é tanto uma escolha responsável quanto uma vantagem estratégica”, afirma Valero. “Para os produtores de vinho na Argentina e no mundo que buscam aprimorar seus esforços de sustentabilidade, a transição não acontece da noite para o dia. Muitos provavelmente já incorporaram algumas práticas sustentáveis sem reconhecê-las como tal”.
Por meio dessas iniciativas, o Grupo Avinea assume a posição de líder em viticultura sustentável e visa estabelecer um padrão para a indústria global da bebida.
“É crucial mapear ou avaliar quais questões de sustentabilidade são essenciais para a região e identificar as forças existentes”, diz Valero. “Referenciar protocolos estabelecidos para a área pode ajudar a identificar quais práticas são mais acessíveis. Em outras palavras, você pode começar pequeno, mas com um objetivo claro em mente”.
* Rachel King é colaboradora da Forbes EUA. Escrever sobre produtos de luxo, vinhos, viagens e tecnologia. Também é colaboradora da Observer, Robb Report, Fortune, Fast Company, Insider, CNET e CBS News.