O Vermentino tem se fortalecido cada vez mais nas últimas décadas. De uma relativa obscuridade, a uva branca utilizada na produção do vinho hoje em dia é uma estrela na costa italiana da Toscana e Ligúria, sem mencionar o status icônico na ilha da Sardenha. Também prospera na Córsega e desafia até o status quo na Provença, onde atende pelo nome de Rolle.
Essa uva produz vinhos com aromas de pêssego e matagal mediterrâneo, grama, marmelo, damasco e notas de flores silvestres, sálvia e alecrim. Muitas vezes encorpadas, são bebidas vibrantes, frescas e elegantes, com abundante mineralidade e sabor, acompanhando bem saladas e frutos do mar. Os fãs de vinho adoram.
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Com o aumento da temperatura nas regiões vinícolas de todo o mundo, os produtores estão buscando formas de reduzir o stress nas vinhas, utilizando uma miríade de ideias sobre como enfrentar o desafio da irrigação, gestão, práticas agrícolas saudáveis e plantação em altitudes mais elevadas, o que pode aliviar a pressão do clima.
Alguns, porém, preferem plantar novas variedades e, quando se trata de vinhos brancos, o Vermentino está na vanguarda. Historicamente, a uva é cultivada na Sardenha, mas sua crescente popularidade chamou a atenção de produtores de outros lugares. Com o aumento das plantações nos EUA, notadamente no Texas e Virgínia, mais África do Sul e Austrália, a variedade está se tornando global.
Um dos principais atributos do Vermentino, que torna sua produção mais interessante, é a resistência à seca e resiliência em condições de calor. O enólogo Dave Reilly, da vinícola texana Duchman Family Winery, vem produzindo Vermentino desde 2008, com uvas da AVA (denominação de origem, na sigla em inglês) Texas High Plains.
Reilly observa que toda a viticultura enfrenta desafios no Texas, incluindo condições de cultivo extremas e imprevisíveis – desde geadas até calor e secas prolongadas. “Apesar desses desafios, o Vermentino é muito tolerante e ascendeu ao topo como o mais resistente às intempéries, ao mesmo tempo que produz frutos de máxima qualidade. Dado o excelente vinho que produzimos ao longo dos anos, atrevo-me a dizer que se adapta tão bem ao Texas quanto na Itália.”
Na Virgínia, Luca Paschina, enólogo e gerente geral da Barboursville Vineyards, escolheu plantar Vermentino por sua capacidade inata de produzir vinhos de grande aroma e frescor. “Plantei 0,2 hectare em 2009, rendeu um lindo barril em 2010, que foi uma ótima estação de cultivo; e depois um bom vinho em 2011, que foi um período pouco produtivo. Isso nos levou a investir em mais sete hectares em 2012. Atualmente, estamos degustando safras mais antigas em perfeito estado e frescor.”
Na Austrália, produtores de regiões como Clare Valley, McLaren Vale, Adelaide Hills, Margaret River e Hunter Valley aderiram à variedade em função de sua resistência ao calor. A família Oliver, por exemplo, produz vinhos na McLaren Vale há seis gerações. Corrina Wright, enóloga da Oliver’s Taranga, um vinhedo de 40 hectares, reconhece a popularidade crescente de Vermentino. “É atraente para o produtor porque produz bem, é muito tolerante ao calor e mantém a acidez natural. Como vinho, apresenta lindas notas salinas de concha de ostra, características de ervas à beira-mar e um paladar fresco de limão”, diz ela.
Ashley Ratcliffe, da vinícola Rica Terra, em Riverland, na Carolina do Sul, EUA, plantou Vermentino em 2012 e 2022. Ele defendeu a variedade em seu negócio, dizendo “se a mudança climática trouxer eventos climáticos mais extremos, então a Vermentino é uma variedade de uva que gostaria de plantar em meu vinhedo. Felizmente temos.”
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Mas os produtores ainda precisam trabalhar duro. Mario Pala, da vinícola Pala Vini, na Sardenha, afirma que mantiveram o máximo de cobertura foliar possível para proteger as uvas do sol, entre outros métodos. “Revolvemos o solo todas as semanas durante o verão para mantê-lo macio, fresco e capturar a umidade noturna. Se feito desta forma, o Vermentino mantém a acidez e o equilíbrio nas safras mais quentes.”
Na Virgínia, Paschina ressalta que a retenção da acidez e do frescor depende de manter a produção sob controle. “O Vermentino pode ser produzido em grande volume e na maior parte ser comercializado como um vinho de consumo diário, como o Pinot Grigio. Essa tendência mudou nos últimos anos e vários produtores procuram agora fazer um vinho de maior expressão e longevidade.”
A variedade também é capaz de produzir vinhos premium. Em Cagliari, capital da Sardenha, o Concorso di Vermentino foi criado para mostrar ao mundo seus melhores vinhos. Angelo Concas, o maior especialista do concurso, afirma que “nos últimos anos tem havido uma evolução significativa na qualidade do Vermentino, globalmente, com resultados que muitas vezes lhes têm sido atribuídos em concursos internacionais. Há uma forte demanda nos mercados estrangeiros pelo Vermentino da Sardenha e excelentes resultados na Toscana, Liguria e Sicília.”
O aquecimento global e a escassez de água farão de Vermentino uma escolha vitícola e comercial sensível para os produtores de clima quente a curto e médio prazo. Plantada nas condições certas, é uma variedade resistente ao calor e à seca. Embora sejam condições nada ideais, há um pequeno feixe de esperança para os consumidores. A variedade oferece uma textura e amplitude semelhantes ao Chardonnay, com aromas marcantes que evocam o clima quente do Sauvignon Blanc. Outro bom quesito para os agricultores é que esses vinhos tendem a chegar às prateleiras valorizados.
*Paul Caputo, colaborador da Forbes EUA, é escritor freelancer especializado em vinhos, destilados, restaurantes finos e viagens de luxo sustentáveis. Escreve para publicações como Decanter e The Buyer.
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