A sustentabilidade na viticultura visa conservar água e energia, manter o solo saudável, proteger o ar e a qualidade da água, melhorar o relacionamento com funcionários e a comunidade, preservar o ecossistema local e a vida animal selvagem. Parece fácil e faz muito sentido, mas não é isso que temos feito e chegou o momento de nos remediar.
Existem vários movimentos e certificações pelo mundo para ajudar a organizar a sustentabilidade. A certificação Leed é uma delas, que é dada às construções que seguem padrões de sustentabilidade, desde escolha dos materiais até impacto, uso de energia, captação de água e energia solar, entre outros. A vinícola Sokol Blosser, no Oregon, foi a primeira certificada em 2002. Ela também possui a certificação B Corp, criada em 2006 por Jay Coen Gilbert, Bart Houlahan e Andrew Kassoy, em Wayne na Pensilvânia, que visa melhorar os problemas sociais e ambientais em uma empresa. Os aplicantes tem de completar mais de 50 páginas de documentos que podem demorar até um ano para colher os dados.
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Também no Oregon, uma organização chamada Deep Roots Coalition tem estimulado plantio seco desde 2004. Nos EUA é permitido irrigar as vinhas e essa organização, inspirada no plantio da Europa, promove não irrigar, pois dizem que isso produz vinhos medíocres, além de desperdiçar água, fala John Paul, fundador da Deep Roots. A irrigação faz as vinhas ficarem “preguiçosas”, com as raízes perto da superfície sendo que o solo é muito mais nutritivo na profundidade. No Oregon, que recebe, em média, 1.066 mm de chuva por ano, não deveria ser difícil se adaptar, pois o ideal é que as vinhas recebam entre 500 mm e 800 mm de precipitação, segundo artigo de Jackson et al.
Ainda falando em EUA, que é o quarto produtor mundial, e da Califórnia, maior estado viticultor nos Estados Unidos produzindo 90%, só tem duas vinícolas que adotaram o Deep Roots: John Williams, da Frog’s Leaps, em Rutherford, e Tegan Passalacqua, da Sandlands, em Napa. Pouco para um estado que luta com a escassez de água.
Na Austrália, o segundo continente mais seco do mundo, alguns produtores não estão irrigando. Existem técnicas de gerenciamento do solo que ajudam a mantê-lo mais solto para aumentar a capacidade de absorção de água. Em Champanhe, 90% do lixo é reciclado, assim como 100% da água utilizada na produção na vinícola, e essa região vinícola era uma das mais poluentes, com solos contaminados. Eles já reduziram em 20% as emissões de carbono, e a meta até 2050 é de 75%. Também reduziram em 50% uso de fertilizantes, e outra meta é atingir 100% de certificação sustentável com zero herbicidas até 2025, segundo o Comité Champagne. Os vinhedos correspondem a apenas 3% da superfície produtora na França, mas usam 20% dos pesticidas, então um belo caminho a percorrer para reduzir estes números.
A Itália, maior produtor do mundo em volume, gasta 85% da água fresca na agricultura segundo o MDPI (Multidisciplinary Digital Publishing Institute), em estudo publicado neste ano. A viticultura é a mais importante, mas não a maior responsável pelo uso da água, mas já existem esforços para que este uso seja reduzido. Quando bebemos uma taça de vinho italiano, ela consumiu 88 litros de água para chegar a sua boca. 88 litros. Uma taça. Agora ficou relativamente importante saber das práticas do seu produtor de vinho favorito? Ou pode ser que você não queira pensar nisso quando abre uma garrafa de vinho, pois fez sua parte em outra área da sua vida? O importante é equilibrar e usar as informações a nosso favor.
Na França, o consumo interno de vinho caiu, mas o consumo de vinhos orgânicos cresceu. De acordo com um estudo britânico do IWSR, as vendas têm uma expectativa de crescimento de 14% ao ano até 2022. Em 2018, os vinhedos orgânicos cresceram 12% na França. Há uma pressão social contra os pesticidas, fala Vincent Mercier, viticultor e membro do France Vin Bio Office, onde 41% dos franceses escolhem os orgânicos em vez de convencionais e pagam mais caro por isso.
Ser orgânico não significa que não emitiu carbono ou produziu lixo! Os biodinâmicos acabam sendo mais restritos neste aspecto, mas a tendência é atingir o ciclo todo de sustentabilidade, e quem não começa não termina!
O clima está mudando rapidamente e, já está mais que óbvio que nossos hábitos deverão ser revistos para desacelerar este impacto. Tem uma citação muito interessante, que já foi usada por Ralph Waldo Emerson, Lao Tzu, Buddha, Margareth Thatcher, entre outros, que diz:
“Observe seus pensamentos, pois eles se tornam palavras;
Observe suas palavras, pois elas se tornam ações;
Observe suas ações, pois elas se tornam hábitos;
Observe seus hábitos, pois eles se tornam seu caráter;
Observe seu caráter, pois ele se torna seu destino.”
Mudar um hábito pode ser difícil, mas, quando o hábito não é sustentável então não nos resta opção.
Que o vinho venha cheio de harmonia, da sua produção até o seu destino final. E me perdoe se me vir tomar um que não seja 100% sustentável, eu também estou no processo evolutivo de tentativas e erros. Para a frente é que se anda!
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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