Há alguns anos, as perspectivas de Kendra Roberson pareciam desoladoras. Aos 38 anos, ela estava lutando para encontrar algum trabalho que fosse além de umas passagens curtas garantidas pela agência de empregos temporários.
No passado, Kendra, que após largar a faculdade contava apenas com o diploma do ensino médio, sempre encontrava um novo emprego com uma rapidez razoável. Desta vez, parecia diferente. “Eu não estava recebendo respostas [às inscrições]”, lembra ela. “Eu estava com duas faturas do meu carro atrasadas e dormindo no sofá de um amigo.”
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De volta para os dias atuais, Kendra está alugando seu próprio apartamento em Dallas, tem um emprego de tempo integral como desenvolvedora de software na empresa de telecomunicações Verizon e está estudando para se formar em administração e gerenciamento de TI.
A mudança na trajetória de Kendra é um testemunho de sua determinação e do impacto de um programa no qual ela ingressou. Criado pela equipe de TI da Verizon, o “Projeto Athena” propunha o aumento da diversidade em seu polo de recrutamento. Agora, a empresa está usando-o como modelo do “Verizon Thrive Apprenticeship Program”, uma ação de todos os setores da companhia que visa recrutar pessoas de grupos sub-representados e economicamente desfavorecidos.
As iniciativas de diversidade são normalmente administradas por departamentos de RH ou equipes de diversidade, equidade e inclusão. A experiência da Verizon, entretanto, mostra que ações criadas em departamentos de TI podem fazer a diferença nessa área onde a presença de funcionários diversos é extremamente necessária.
O PODER DAS PARCERIAS
“A diversidade em tecnologia foi e continua sendo um grande desafio”, afirma Shankar Arumugavelu, CIO (chief information officer) global da Verizon. “Diante desse cenário, acreditamos que estabelecemos um programa de aprendizagem que pode criar desenvolvedores sólidos a partir de um grupo de pessoas com pouca ou nenhuma experiência técnica.”
O programa da Verizon oferece dicas para outros líderes de tecnologia que estão pensando em lançar ou expandir iniciativas de diversidade. Uma delas é que pode ser útil fazer parceria com outras organizações para ajudar a identificar os melhores candidatos. Como exemplo, a equipe da empresa trabalhou com uma escola chamada Treehouse, que oferece cursos de várias semanas para identificar pessoas com aptidão para ingressarem no setor tecnológico. Na primeira admissão em 2019, 40 pessoas foram matriculadas.
A parceria também ajudou no marketing da oportunidade. Kendra descobriu o programa por meio de um panfleto que recebeu em uma agência do Texas que ajuda candidatos a encontrar emprego. Maliha Taufiq, outra graduada do programa, descobriu a iniciativa por meio do cunhado que, por sua vez, soube da organização por meio de alguns veteranos militares.
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Kendra e Maliha dizem que mantiveram um ritmo intenso depois de iniciarem o estágio remunerado de seis meses ministrado pela Verizon no Texas e em Nova Jersey. Sem garantia de conseguir a vaga, as aprendizes sabiam que as apostas eram altas.
“Honestamente, acho que a coisa mais difícil foi lidar com a síndrome do impostor”, lembra Maliha, que é graduada na área de saúde, mas estava ansiosa para explorar oportunidades na indústria de tecnologia. Kendra afirma que também questionava a própria capacidade durante o programa. “Você começa a duvidar de suas habilidades, como se pensasse que os outros sabem mais do que você porque estão progredindo mais rápido.”
Arumugavelu diz que o aprendizado começou com as aulas online, e, conforme o ritmo foi aumentando, os professores foram levados para trabalhar no mesmo local dos aprendizes a fim de ajudá-los com os conceitos fundamentais de programação. A Verizon também fez uma parceria com a Multiverse, uma empresa que ajuda a projetar e entregar programas de aprendizagem. Além disso, a equipe interna de TI levou alguns de seus próprios funcionários para ajudar no processo de ensino.
NOVOS APRENDIZES
Esse trabalho pessoal foi considerado tão vital para o sucesso que a equipe de TI decidiu não executar outro programa no ano passado devido às preocupações envolvendo o contágio da Covid-19. No mês passado, porém, um novo grupo de aprendizes foi admitido, sendo metade deles mulheres e outros três quartos de negros, latinos, nativos e asiáticos. A turma, que começou o programa remotamente, deve passar para o sistema presencial em setembro.
Outra razão pela qual o programa inicial funcionou bem, diz Arumugavelu, é que mesmo no início os aprendizes já assumiram projetos de valor real para os negócios da Verizon. Isso os ajudou a ter uma boa noção do tipo de trabalho que poderiam executar se fossem contratados – e deu aos executivos da empresa uma oportunidade de ver como aquelas pessoas se encaixariam nas equipes existentes.
Das 40 pessoas que iniciaram o programa em 2019, 29 o concluíram e trabalharam na Verizon. A maioria delas eram mulheres. Maliha, que trabalhou em um projeto de gerenciamento de rede, foi posteriormente contratada pela equipe de supervisão da mesma área e, desde então, foi promovida. Já Kendra está criando um software para oferecer suporte aos serviços digitais usados pelos clientes, além de ajudar a construir novos recursos de desenvolvimento.
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O sucesso delas e o de outros graduados do programa explica por que a equipe de RH da Verizon está usando o projeto como modelo para um esquema de aprendizagem que envolverá toda a empresa, e que faz parte de um compromisso mais amplo da companhia de profissionalizar meio milhão de pessoas até 2030 com as habilidades necessárias para o que eles chamam de “empregos do futuro”.
Profissionais da indústria observam que CIOs como Arumugavelu são catalisadores quando se trata de incentivar esforços mais amplos de diversidade. “A tecnologia é onipresente. Ele impulsiona a inovação, a colaboração e outras atividades”, diz Rob O’Donohue, responsável pelos programas de inclusão e outras questões de liderança para a empresa de pesquisa Gartner. “Dessa perspectiva, os CIOs realmente têm à disposição a capacidade de dar aos grupos sub-representados acesso a habilidades e oportunidades valiosas.”
Kendra certamente se sente mais preparada para o futuro graças à sua experiência na Verizon. “Aqui estou eu apenas descobrindo o que é ser apaixonada por algo [no trabalho]”, diz ela. “Nunca é tarde para começar algo novo.”
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