Contribuindo para o crescente impulso em torno de alimentos e agricultura na COP27 – e em um momento inovador para a Conferência das Partes – o Egito (em seu papel como presidência da COP27) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançaram a Iniciativa sobre Ação Climática e Nutrição (I- CAN), uma iniciativa para integrar a entrega global de ações políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e nutrição e sistemas alimentares sustentáveis para apoiar resultados bidirecionais e mutuamente benéficos.
O evento inovador ocorreu neste sábado, 12 de novembro – Dia da Adaptação e Agricultura na COP 27, em Sharm-El-Sheikh, Egito, após um dia inteiro discussões sobre sistemas alimentares e eventos relacionados ao clima, incluindo o lançamento da Iniciativa de Alimentação e Agricultura para Transformação Sustentável (VELOZES).
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O I-CAN é uma iniciativa multi-stakeholder e multissetorial que será implementada com o apoio de agências e parceiros da ONU, incluindo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e a GAIN (Aliança Global para Melhor Nutrição) e enfatiza os pilares de ação que consistem em implementação, ação e apoio, capacitação, transferência de dados e conhecimento, política e estratégia e investimentos.
De acordo com a doutora Maria Helena Semedo, diretora Geral Adjunta da FAO, a iniciativa é como um “ganha-ganha” para cada um dos setores – agricultura, adaptação e nutrição. Os compromissos relativos ao clima e à nutrição são pouco incluídos nas políticas climáticas globais e contribuições determinadas NDCs (Nationally Determined Contributions).
Em todo o mundo, menos de 12% das políticas nacionais consideram clima, biodiversidade e nutrição, enquanto apenas 32% dos PNA (Planos de Ação Nacionais) incluem ações de adaptação relacionadas à segurança alimentar e nutrição. “Ao trabalharmos juntos, inclusive por meio de ações durante a Década de Ação sobre Nutrição das Nações Unidas, podemos oferecer dietas saudáveis e um sistema agroalimentar resiliente”, disse Maria Helena.
Globalmente, 30% de todas as pessoas estão enfrentando deficiência de micronutrientes; 828 milhões de pessoas estão desnutridas e 676 milhões são obesas. Grupos vulneráveis são afetados de forma desproporcional. As mudanças climáticas exacerbam esses impactos ao ameaçar a produtividade global das colheitas do ponto de vista dos rendimentos e perdas (com efeitos colaterais dos preços dos alimentos e ingestão de calorias) e da qualidade nutricional das colheitas. Por outro lado, os sistemas alimentares também contribuem para as mudanças climáticas por meio da liberação de gases de efeito estufa (por exemplo, CO2, metano e óxidos nitrosos) e pela degradação da terra.
“A relação entre nutrição e mudança climática é um desafio, mas também uma oportunidade… Devemos implementar a Iniciativa de Ação Climática e Nutrição para um futuro mais saudável, seguro e verde para nossos filhos e netos”, disse o doutor Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde.
Os autores da iniciativa indicam que uma mudança para dietas saudáveis, resilientes ao clima e sustentáveis ajudaria a reduzir os custos de saúde e mudanças climáticas em até US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 7 trilhões), ao mesmo tempo em que apoiaria a segurança alimentar diante das mudanças climáticas”.
Representantes governamentais do Egito e de outras nações, incluindo Suécia, Holanda, Bangladesh e Canadá, enfatizaram seu compromisso com a iniciativa e seus objetivos. O representante da Costa do Marfim pediu a inclusão do lançamento do I-CAN no documento final da COP27.
Para a doutora Naeema Al Gasseer, representante da Organização Mundial da Saúde no Egito, “a nutrição e a saúde são muito importantes para qualquer decisão de política ambiental”. Khaled Abdel Ghaffar, ministro da saúde e população do Egito, confirmou que “o governo local está comprometido com uma abordagem integrada à nutrição e às mudanças climáticas”.
Já a doutora Yasmine Fouad, ministra do meio ambiente do país, informou que o governo está analisando o que está sendo produzido, como está sendo produzido e o que está e como vem sendo consumido. Ela também enfatizou que vozes marginalizadas, particularmente as mulheres, seriam incluídas na abordagem integrada para agricultura, adaptação e nutrição. “Não pouparemos esforços para que isso aconteça”, disse ela.
Lawrence Haddad, diretor executivo da Global Alliance for Improved Nutrition, fundação sem fins lucrativos com sede em Genebra, Suíça, enfatizou a relação bidirecional entre nutrição e mudança climática, indicando que dietas resilientes, sustentáveis e saudáveis são um elo crítico entre as partes.
Vijay Rangarajan, diretor-geral do FCDO (Ministério das Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento), do Reino Unido, disse que “colocar a nutrição na agenda é crucial e continuará sendo crucial”.
De acordo com a nota da I-CAN, “os negócios, como se observa, não permitirão que os países cumpram suas metas da Agenda 2030, incluindo as do ODS 13 (Ação Climática), ODS2 (Acabar com a Fome) e ODS3 (Saúde). Políticas e ações transformadoras são necessárias para fornecer dietas sustentáveis, resilientes e saudáveis para gerar vários benefícios em todos os ODS.”
*Daphne Ewing-Chow é colaboradora da Forbes EUA. Escreve sobre meio ambiente com foco em alimentos e agricultura. Também colabora com o Sunday Times (de Londres), The New York Times e o Fundo Monetário Internacional (Finance & Development Magazine).