O Caribe é grande – você sabe. Vai da ponta da Flórida à costa da Venezuela, avançando outro tanto Atlântico adentro, com um extraordinário colar de ilhas que tornam ainda mais bonito o seu mar com cor de piscina de resort.
São tantas ilhas que, até hoje, ninguém se deu ao trabalho de contá-las. Mas existe uma quase unanimidade. Quem conhece realmente bem o Caribe, gosta de praias desertas ou quase isso, aprecia o lado bom da vida, não se importa em dividir espaços com famosos e milionários e, sobretudo, gosta de barcos e grandes iates, não tem dúvidas em apontar que as melhores ilhas são as que dão forma às Ilhas Virgens Britânicas (“BVI”, para os íntimos) – atenção para não confundir com as Ilhas Virgens Americanas (St. Thomas, St. John etc.), que ficam ali ao lado, mas não, não são a mesma coisa!
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As BVI são mais singelas, mais preservadas, mais exclusivas e – por mais incrível que isso pareça, em se tratando de Caribe – ainda mais bonitas.
Pergunte a qualquer dono de barco que esteja indo para o Caribe para qual ilha ele irá. É enorme a chance de a resposta ser nomes como Virgin Gorda, Anegada, Jost Van Dyke, Peter, Norman ou Necker Island – todas do estupendo arquipélago que dá forma às BVI.
Você nunca ouviu falar delas – ou ouviu mas ainda não viu de perto? Melhor ainda: a surpresa será potencializada quando você olhar esse paraíso com seus próprios olhos.
As BVI têm praias de cinema, ilhas ainda revestidas com muito verde e um mar, quase sempre, mais azul do que as outras ilhas do Caribe – onde, como você também sabe, o que não falta são cenários de pôster de agência de viagens. A diferença é que as BVI são, por assim dizer, “especiais”. A começar por seus frequentadores habituais.
O americano Larry Page, um dos criadores do Google, é um deles. Ele é dono de uma pequena mas fantástica ilha chamada Eustatia – que seria seu refúgio secreto, caso todo mundo por lá não soubesse disso. O ator Morgan Freeman também tem o seu naco de paraíso num pedacinho da ilha de Virgin Gorda, que, apesar do nome estranho, é uma das joias das BVI. Foi lá que Barack Obama passou uma temporada depois de deixar a Casa Branca; é para lá também que vai a atriz Kate Winslet sempre que bate o cansaço das filmagens (ela costuma correr para a ilha do amigo bilionário Richard Branson, que está para as BVI assim como a rainha Elizabeth está para a Inglaterra – um é quase sinônimo do outro.
Branson, que por sinal batizou sua empresa com o nome Virgin, tem duas ilhas particulares nas BVI: Necker, onde ele vive, em meio a outras mansões para os amigos, e Moskito (nomes bonitos, como você vê, não são o forte das BVI, que foram descobertas por Cristóvão Colombo e batizadas com um nome ainda mais curioso: Ilhas de Santa Úrsula e as Onze Mil Virgens).
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Em Moskito, Branson, que apesar da fama e do título informal de “Embaixador das BVI” é figura fácil nas praias das ilhas, sempre de chinelos ou praticando algum esporte aquático, aluga casas para qualquer pessoa que não se importe em pagar algo em torno de US$ 80 mil a semana, ou US$ 50 mil a noite, caso queira ter a ilha inteira só para si.
Até o ano passado, Branson também era dono do barco mais conhecido do pedaço, um catamarã de 105 pés (cerca de 32 metros de comprimento e tamanho equivalente ao de uma quadra de tênis), chamado Necker Belle, que foi vendido por cerca de US$ 3 milhões.
Assim, o título de embarcação mais pop da região passou a ser disputado por outros “brinquedos”. Um deles é o superveleiro Maltese Falcon, que tem revolucionários mastros móveis (eles giram de acordo com o vento) e nada menos que 90 metros de comprimento. Outro, o superiate Ace, do bilionário ucraniano Yuriy Kosiuk, com quase o mesmo tamanho, tem uma particularidade interessante: navega sempre acompanhado por outro “iate de serviço”, o Garçon 4 Ace, cuja função é tão somente dar apoio ao barco principal, transportando itens como pequenas lanchas para desembarcar nas praias das ilhas, além de servir de heliponto móvel.
Mas espere só até ver os lugares onde esses iates costumam ancorar. Um deles é bem diante da praia mais exótica das BVI, a The Baths (“banheiras” em português, porque formam piscinas naturais entre enormes bolotas de granito, feito um labirinto de túneis, repleto de prainhas – uma conformação sem igual no mundo).
Outro hotspot das BVI é Salt Island, que tem duas salinas nas quais o sal é cor-de-rosa e um naufrágio particularmente famoso entre os mergulhadores (as BVI são igualmente incríveis debaixo d’água): o do cargueiro inglês Rhone, cujo casco inteiro e submerso pode ser avistado até da superfície, tal a transparência da água – e que, por isso mesmo, serviu de cenário para o filme “The Deep”, estrelado por Jacqueline Bisset, no final dos anos 1970.
Nas BVI, os barcos são como motorhomes no Canadá, – a maneira mais legal e usual de circular e se hospedar nas partes mais bonitas de lá. Apesar de a maioria das ilhas ter exclusivíssimos resorts na beira do mar e villas de cair o queixo por todos os lados, os barcos de aluguel costumam ser a melhor escolha na hora de decidir onde ficar. No mínimo, a forma mais adequada de saborear um lugar onde tudo gira em torno do mar.
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Por isso mesmo, as BVI são o maior centro de aluguel de veleiros do Caribe, o que não é pouco numa região onde só existem ilhas. Barcos de todos os tamanhos, preços e níveis de conforto são alugados até para quem só quer participar de uma das regatas mais famosas do mundo, a Spring Regatta, que, como o nome diz, é realizada sempre na primavera do Hemisfério Norte (início de abril).
Na competição, que costuma reunir mais de 200 embarcações de todas as nacionalidades, há até uma categoria específica para barcos alugados, a fim de incentivar a participação de turistas na prova. E, como quase tudo nas ilhas, termina com uma espécie de Carnaval fora de época (o gosto por festas e a alegria são traços marcantes da índole dos habitantes das ilhas).
Aliás, a semelhança entre os virginianos, que falam inglês com um sotaque diferente (as BVI são uma nação independente, mas fazem parte do protetorado britânico, o que para eles, no entanto, não significa muita coisa), e os brasileiros (mais exatamente os baianos) é outra das surpresas que você terá ao desembarcar em Tortola, a ilha que abriga a capital, Roadtown. Sua diversão e deslumbramento, entretanto, não serão menores caso prefira ir direto para ilhas como Virgin Gorda, Jost Van Dyke, Anegada, Great Camanoe, Scrub, Norman e outras ilhotas menores e não menos espetaculares.
Outra surpresa imediata será a explícita irreverência no estilo de vida das BVI. Nas ruas, a mão de direção do trânsito é invertida, como na Inglaterra, mas os volantes dos carros são como os nossos, do lado esquerdo – eles dirigem “duplamente ao contrário”, percebeu a confusão? E a moeda, apesar de as BVI fazerem parte do Commonwealth, não é a libra inglesa, e sim o dólar americano – para facilitar a vida dos turistas.
Os virginianos não se preocupam com as rígidas convenções britânicas. Para eles, a prioridade é ser feliz. É exatamente isso que você vai sentir assim que descer do avião.
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A MANEIRA MAIS DIVERTIDA DE SE HOSPEDAR
Apesar dos resorts confortáveis e das villas impecáveis, a maneira mais original e divertida de se hospedar nas Ilhas Virgens Britânicas é nos barcos. Passar uma semana a bordo de um veleiro, navegando de ilha em ilha e parando para dormir onde der na cabeça, é, disparado, o melhor programa. E qualquer visitante pode fazer isso, mesmo quem não tem um barco e nem saiba navegar.
A saída para isso está na palavra inglesa charter, que um simpático casal de brasileiros usa para atender aos conterrâneos que queiram conhecer as BVI sem saber velejar ou mesmo falar inglês. Alcides Falanghe e Tatiana Zanardi, ele um dedicado comandante de barco e experiente mergulhador e fotógrafo submarino, ela uma competentíssima chef de cozinha, moram a bordo do Ocean Eyes, um confortável catamarã a vela que serve de “casa alugada” também para visitantes brasileiros. “Somos especializados em português”, brinca Alcides, que, com a esposa, trocou o cinza de São Paulo pelas cores do Caribe, dez anos atrás.
Com 43 pés de comprimento e quatro suítes, o veleiro do casal hospeda até seis pessoas. Aos interessados, Alcides oferece um curso intensivo de vela, dado durante os próprios passeios, e mergulhos nos melhores locais das ilhas, com, inclusive, aulas de fotografia submarina. Já Tatiana se encarrega de preparar os pratos que os hóspedes mais apreciam.
No final do cruzeiro, todos se sentem velhos amigos e, quase sempre, retornam na temporada seguinte – que costuma ir de março a junho (abril e maio são os meses mais indicados) e de outubro em diante, quando a navegação entre as ilhas é ainda mais tranquila. “Nas BVI, você atravessa de uma ilha para outra em menos de uma hora de mar”, diz Alcides. “Não dá nem tempo de enjoar”, brinca.
Reportagem publicada na edição 74, lançada em janeiro de 2020
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