Membros da grife italiana de luxo Gucci não estão felizes com o iminente filme norte-americano “House of Gucci”, atualmente em produção, com Ridley Scott como diretor e Al Pacino, Lady Gaga e Adam Driver entre os protagonistas.
“Horrível” e “feio” foram alguns dos comentários publicados pela família sobre o elenco do filme, com lançamento programado para novembro pela produtora MGM. A produção conta a história de Patrizia Reggiani, julgada e condenada por orquestrar o assassinato de Maurizio Gucci, seu ex-marido, diretor da grife Gucci e neto do estilista e fundador da empresa Guccio Gucci.
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Entre o elenco do filme biográfico de crime, baseado no livro “Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte”, também estão estrelas como Jared Leto, Jack Huston, Reeve Carney, Jeremy Irons e Salma Hayek.
Baixo, gordo e feio
A principal reclamação da família é em relação à aparência, a coisa mais importante no mundo da moda.
“Estamos realmente desapontados”, disse Patrizia Gucci, prima de segundo grau do falecido Maurizio Gucci, à Associated Press. “Falo em nome da família. Eles estão roubando nossa identidade para ganhar dinheiro, para aumentar o faturamento de Hollywood.”
O choque dos Gucci ao ver as fotos do set de filmagens é principalmente relacionado à escolha de Al Pacino como Aldo Gucci, uma figura chave no crescimento global da grife, e de Jared Leto como Paolo Gucci que, entre outras contribuições criativas, projetou o internacionalmente famoso logotipo duplo G da empresa.
Patrizia Gucci, que publicou em 2015 o seu próprio livro sobre a família (“Gucci, The True Story of a Successful Dynasty”, sem edição em português) disse à AP que as preocupações familiares “vêm da escolha de grandes atores para interpretar parentes cujas histórias pouco se cruzam com o assassinato de Maurizio Gucci, da falta de contato com a produtora de Ridley Scott e das imprecisões do livro que deu origem ao filme.”
“Meu avô era um homem muito bonito, como todos os Gucci. Muito alto, com olhos azuis e muito elegante”, disse Patrizia. “Ele está sendo interpretado por Al Pacino, que já não é muito alto, e a foto o mostra como gordo, baixo, com costeletas. Bem feio. É vergonhoso, porque não se parece nada com ele.” Já Jared Leto de careca foi “horrível”, segundo ela. “Ainda me sinto ofendida.”
Assassinato e glamour
“House of Gucci” conta a história do homicídio de Maurizio Gucci, morto aos 46 anos enquanto chegava ao seu escritório em Milão, em 1995, por um assassino contratado por sua ex-mulher, Patrizia Reggiani, que ele havia deixado por outra mulher.
Ela foi condenada e sentenciada a 29 anos de prisão após um julgamento público que parou a Itália no fim dos anos 1990. A chamada “Viúva Negra” pela mídia italiana deixou a prisão em 2016, depois de 17 anos.
“Foi uma coisa sensacionalista do fim do século”, relatou o “The Guardian” em uma entrevista com Reggiani depois de ela cumprir a sua pena. “Essa era a elegante Milão, não a Nápoles dominada pela máfia. Os assassinatos em estilo de execução da elite glamorosa da cidade eram desconhecidos.”
“Reggiani, apelidada de ‘Liz Taylor das marcas de luxo’ nas décadas de 1970 e 80, era uma suspeita imediata. Ela havia ameaçado abertamente matar Gucci após a separação. Sem evidências, o crime permaneceu sem solução por quase dois anos. Uma denúncia levou à sua prisão em 1997, junto com mais quatro pessoas, entre elas o assassino.”
A essa altura, a empresa não estava mais sob o controle da família Gucci, após décadas de luta entre os herdeiros. Maurizio, que assumiu como CEO em 1992, foi forçado a vender a companhia para o banco de investimentos Investcorp (sediado no Bahrein e mais tarde comprado pelo grupo francês PPR, hoje Kering), um ano antes de sua morte.
Maurizio, dono de 50% das ações da Gucci, foi acusado por parentes de falsificar assinaturas em documentos que lhe deram metade da empresa após a morte de seu pai. Em algum momento, suas ações foram congeladas e a empresa foi colocada sob o controle de tutores nomeados pelo Estado.
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Inveja, ganância e loucura
Todos os tipos de teorias cercaram os possíveis motivos de Patrizia Reggiani para assassinar o ex-marido: ciúme, ganância, inveja e loucura. A conclusão mais aceita foi que ela estava furiosa com Maurizio por ele ter vendido o negócio da família.
De acordo com o “The Guardian”, o assassinato “coincidiu com um renascimento emocionante da imagem da marca em meados dos anos 1990”, que seguiu desde então ofuscando as memórias do assassinato – até hoje.
Segundo a Associated Press, embora a grife esteja cooperando com as produtoras do filme (MGM e Scott Free Productions) com acesso ao seu acervo histórico de roupas e adereços, “os bisnetos de Guccio Gucci, que fundou a marca de moda de luxo um século atrás em Florença, está apelando ao cineasta Ridley Scott para respeitar o legado de sua família.”
Uma novela ou um pseudodocumentário?
O diretor de fotografia do filme, Dariusz Wolski, descreveu o longa “House of Gucci” como uma novela. “É um drama um pouco kitsch, engraçado e trágico – como uma grande novela”, disse ele à “IndieWire”. “Com um elenco maluco também.”
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Para acrescentar um pouco de tempero à polêmica sobre o “elenco maluco” e semelhança com uma novela: no início de abril, a atriz Salma Hayek, casada com François-Henri Pinault, o diretor-executivo e presidente do conselho da Kering (agora proprietária da Gucci) juntou-se ao elenco. Ela faz o papel de Giuseppina “Pina” Auriemma, uma amiga vidente de Reggiani que foi condenada a 25 anos por organizar o assassinato por um valor de US$ 350 mil.
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A ascensão contínua da grife nas últimas duas décadas certamente deixou as lembranças do assassinato no passado. Mas a história tem todas as características para ser um sucesso cinematográfico: glamour, ganância, dinheiro, sexo, assassinato, traição, briga por status e um elenco de primeira. “House of Gucci” está previsto para estrear em 24 de novembro deste ano nos EUA, o mesmo dia do aniversário de 100 anos da marca de luxo.
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