Desastres, guerras e pandemias deveriam ser momentos em que todos trabalham juntos contra a ameaça comum. Estaríamos todos no mesmo barco, por assim dizer.
Exceto que não estamos todos realmente no mesmo barco. Alguns puderam trabalhar de casa, pedir delivery de comida e evitar a doença. Já outros, principalmente aqueles que tornaram possível que os demais pudessem ficar reclusos em segurança, permaneceram expostos.
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As vacinas supostamente igualariam a situação ao proteger todos. Até agora, elas têm se mostrado muito seguras e eficazes, inclusive contra as variantes identificadas – o que foi uma grande preocupação logo no começo de 2021.
Mais que isso, os estudos mais recentes mostram que pessoas completamente vacinadas não só estão protegidas contra quadros graves de Covid-19, mas também é improvável que infectem outras.
Os dados são animadores, mas agora estão em um momento difícil de meio-termo:
- A população totalmente imunizada está bem segura contra adoecer ou espalhar o vírus.
- Outra parcela não vacinada da população (por enquanto, a maioria) continua vulnerável e, potencialmente, transmissora do coronavírus.
Se algum dia estivemos no mesmo barco, certamente não estamos mais.
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Nos adaptamos por meses a um ambiente em que qualquer um era um possível vetor do vírus. Medidas como máscaras e distanciamento social eram as melhores providências que poderíamos tomar. Agora, esses cuidados não são mais necessários para um número considerável e crescente de pessoas. Naturalmente, elas querem ser liberadas desse peso.
Enquanto isso, outros que ainda não estão totalmente imunizados desejam o mesmo. Mas afrouxar os cuidados coloca tanto a pessoa, como quem está ao redor dela em perigo.
Comprovante de vacinação, por favor
Agora, vacinados e não vacinados estão circulando em público em alguns países, e não há maneira fácil de distingui-las – o que é um problema. Pessoas vulneráveis não conseguem saber se aqueles que estão ao seu redor estão seguros ou não.
A situação também afeta os negócios. Teatros e casas de show, por exemplo, poderão receber mais clientes se conseguirem garantir que todos da plateia estejam vacinados.
O problema diminuirá à medida que mais gente for imunizada. Mas, por enquanto, é necessário ter soluções melhores.
“Passaportes de vacina” são uma ideia: um aplicativo no celular ou uma espécie de documento oficial que sirva como prova de imunização.
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Alguns se opõem ao recurso por motivos de privacidade. Eles parecem muito preocupados em ter que provar que receberam algumas injeções.
Mas se você, de fato, recebeu essas injeções, compartilhar isso com outras pessoas não revela nada íntimo sobre seu corpo. Apenas diz que você tomou algumas picadas. Isso não parece excessivamente invasivo.
Penso que, para certas pessoas, o verdadeiro problema com os passaportes de vacina é…
- Elas não desejam se vacinar
- E também não querem que essa escolha traga consequências.
A primeira parte é justa. Ninguém deveria ser legalmente obrigado a receber um medicamento que não quer. Mas se você recusar a vacinação, não significa que ainda poderá aproveitar dos mesmos privilégios que aqueles que escolheram diferente (ou que nem tiveram opção alguma). Você não é o único com direitos.
Senso comum
Passaportes de vacina poderiam ser usados de várias maneiras. Algumas impostas pelo governo, ao atravessar as fronteiras de um país ou usar o transporte público, por exemplo. São adequados? Talvez, mas cabe às autoridades federais, estaduais e municipais dizer.
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Economicamente, a questão mais difícil é a propriedade privada. Proprietários de restaurantes podem verificar os passaportes de vacina antes de receber algum freguês? Eles deveriam?
Isso realmente não é uma escolha sua, nem minha. É uma decisão de negócios para os proprietários de restaurantes. São eles que podem julgar o que é melhor para seus clientes, funcionários e comunidade.
Mas seja lá o que a lei determine, o senso comum diz que os proprietários podem definir suas próprias regras. Se você não quer obedecê-las, não frequente estes lugares.
Mas estranhamente, no ano passado, algumas pessoas cordiais que antes defendiam os direitos de propriedade privada pararam de fazê-lo. Agora, o seu suposto “direito” de ir aonde quiser anula os direitos de propriedade de outros.
Essa atitude não é apenas infantil, é incompatível com uma economia liberal. Ela diz
que as suas proprietárias não são realmente suas. “Você deve me aceitar, mesmo sabendo que posso colocar seus funcionários em risco.” Isso não é liberdade.
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Mais importante que isso, as empresas não podem funcionar dessa forma. Isso manteria os consumidores preocupados com sua segurança, o que prolongaria ainda mais a recessão.
E ninguém quer ver esse resultado. Nisso, realmente estamos todos no mesmo barco.
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