O empresário Cairê Aoas faz parte da noite paulistana desde muito jovem. Com o pai, Álvaro Aoas, aprendeu sobre gestão e tradição. Hoje, está por trás de grandes estabelecimentos de São Paulo, como Bar Brahma, Bar Léo, Bar dos Arcos, Blue Note e Riviera. Ele é um dos sócios da Fábrica de Bares, empresa responsável pela administração destes icônicos endereços da capital paulista. “Recuperamos marcas pelas quais temos carinho e acreditamos ter valor no imaginário das pessoas, mas que passaram por problemas e dificuldades. Hoje, já nos procuram pedindo ajuda para que estabelecimentos não fechem”, afirma. A mais nova aposta do empresário é a revitalização do Love Story, ao lado do parceiro de longa data Facundo Guerra.
A boate, que funcionava no bairro da República, no centro de São Paulo, era conhecida como “a casa de todas as casas” – uma das mais tradicionais da cidade, onde todas as tribos se encontravam, do empresário engravatado após o trabalho até o jovem universitário, em busca da diversão que apenas a noite pode oferecer. A história chegou ao fim em fevereiro deste ano, quando foi decretada a falência do estabelecimento, com bens avaliados em R$ 5,5 milhões. A boate, que existia há 26 anos, vai ganhar uma sobrevida pelas mãos de Cairê, Facundo e Lily Scott. “Temos esse olhar de resgate de lugares tradicionais, de ressignificação. Queremos resgatar o imaginário do que foi o Love Story, trazendo a sensualidade para a pauta de forma artística”, afirma o empresário.
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O novo negócio vai ocupar o espaço com uma nova marca e deve misturar bar e cabaré com casa de show e ainda incluir hotel, sex shop e livraria. “Nossa missão é entender o momento que vivemos, a história do lugar e definir um futuro, respeitando e valorizando o que ele foi e nos permitindo pensar adiante”, diz Cairê.
O empresário relembra que era no Love Story que ele terminava a noite, ao lado dos amigos, quando iniciou a carreira na noite. Logo ali, na Santa Cecília, funcionava o Café São Paulo Antigo, bar de jazz de Álvaro. Cairê começou a trabalhar ali aos 13 anos. Ajudava em tudo que podia, do caixa à pia. Ao atingir a maioridade, foi alçado ao posto de gerente.
Tendo aberto cerca de 40 estabelecimentos, o pai apresentou ao filho o mundo dos negócios e também despertou nele um olhar atento ao resgate cultural. Em 2001, Álvaro focou seus esforços no Bar Brahma, na esquina da avenida Ipiranga com a São João, à época fechado e prestes a ser alugado para uma igreja evangélica. “Temos consciência da responsabilidade de administrar estabelecimentos em endereços importantes da cidade, como Consolação com Paulista, Conjunto Nacional, Copan e Theatro Municipal. Acreditamos no resgate do centro para a autoestima do paulistano”, diz Cairê.
Atualmente sob gestão da Fábrica de Bares estão Bar Brahma, Bar Léo, Bar dos Arcos, Riviera Bar, Bar Jacaré, Blue Note, Orfeu, Zé da Praia e Cervejaria Navarro. Cairê afirma que a revitalização da região central só acontecerá se houver interesse e recorrência do paulistano, por meio de acesso a cultura, gastronomia e entretenimento. Esse esforço, segundo ele, precisa ser coletivo. “Existem mais pessoas, como os Rueda (casal à frente da A Casa do Porco e do Bar da Dona Onça), trabalhando e acreditando no centro. Não basta oferecer um bom serviço, é preciso encorajar o cliente a vir para esse espaço, oferecendo segurança, iluminação e limpeza. É como se fôssemos miniprefeitos, cuidando das fachadas e do entorno”, reflete.
O delivery não salvou os estabelecimentos de Cairê dos efeitos da crise causada pela pandemia de Covid-19: “Passamos praticamente um ano e meio fechados sem vender um espresso. Nossos clientes buscam a experiência, o encontro. O delivery não fez sentido”, diz. “Tivemos que usar em um ano e meio tudo o que trabalhamos dez anos para conquistar. Me desfiz da reserva, queimei tudo que construí para buscar a manutenção do negócio.”
Apesar das dificuldades, o empresário mantém uma mentalidade positiva. Com o avanço do programa de vacinação, as portas de Blue Note, Jacaré Grill e Riviera abrirão em breve mais uma vez, com novidades, sob apresentação do comprovante de vacinação. “Nosso segmento nunca foi tão valorizado. As pessoas nunca quiseram tanto sair, ver um show, encontrar os amigos. Temos o dever de promover essa retomada, com toda a segurança”, afirma. E vai além: aposta que o centro recuperará o título de grande referência da boemia e da gastronomia paulistanas, com a cidade se firmando cada vez mais como capital do entretenimento na América do Sul. “Serão anos únicos na oferta de novidades na noite em São Paulo.”
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