Vale a pena investir em arte? Apesar de desvantagens como liquidez reduzida e necessidade de conhecimento técnico (ou curadoria) na hora de escolher, as obras de arte têm características que as diferenciam das demais aplicações financeiras. Uma delas é a escassez. Obras de arte são únicas ou são produzidas em número limitado. Outra é que se destinam a um público que não costuma ser afetado pelas oscilações da economia.
Os números comprovam isso. Nos últimos quatro anos, o índice ArtPrice100, indicador de referência do mercado internacional, subiu 42,9%. O índice de ações americano S&P 500 se valorizou 18,2% nesse período. O desempenho também é bom na comparação com ativos brasileiros. Em dólares, as aplicações corrigidas pelos juros de mercado (o CDI) subiram 37,1% nesse período, considerando-se a Selic nos elevados 13,75% ao ano, e o Ibovespa em dólares valorizou-se 11,6%.
O Artprice100 simula investimentos nos 100 artistas mais bem-sucedidos do mercado de arte mundial com base em sua receita de leilões, e considera também a liquidez do artista. Pelo menos dez obras devem ter sido leiloadas anualmente para fazerem parte dos cálculos.
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Apesar de rentável, esse investimento é pouco acessível devido ao preço elevado das obras. Uma das maneiras de contornar essa dificuldade é por meio da tecnologia. Dezenas ou centenas de investidores podem adquirir frações de uma obra com tokens, que são ativos digitais que representam valores físicos. A face mais visível são os tokens não fungíveis (non-fungible tokens, ou NFT), que ficaram muito populares a partir de 2020. Porém, esses ativos digitais também vêm sendo usados para a representação de obras de arte tradicionais.
Arte brasileira
No Brasil, uma das primeiras empresas a fazer isso foi a plataforma de ativos alternativos Hurst Capital. A plataforma compra obras e as oferece a investidores por meio dos tokens. Quando as metas de rentabilidade são atingidas, as obras são revendidas e distribuem-se os lucros. Na sexta-feira (21), a Hurst anunciou a venda de obras do pintor figurativo ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988) e da pintora concretista Judith Lauand (1922-2022).
O investimento na obra de Volpi, conhecido pelas bandeirinhas coloridas, foi lançada em fevereiro e encerrada em julho. Nesses cinco meses a rentabilidade foi de 6,6%, equivalentes a 16,6% anualizados. O objetivo do investimento era atingir um ganho entre 14% e 24% ao ano em um prazo de 12 a 24 meses.
Já a operação com o quadro de Judith Lauand, iniciada em novembro de 2022, rendeu o equivalente a 18,5% ao ano. “Estávamos com uma projeção de 18 meses, mas recebemos uma boa proposta pela obra e os investidores optaram por liquidar”, diz Ana Maria de Carvalho, head de investimento em Obras de Arte da Hurst. Segundo Carvalho, atualmente cerca de 800 pessoas físicas já investem em arte por meio de tokens, número 50,66% superior ao do fim de 2022.
Abraham Palatnik
A primeira operação foi lançada em 2021 e envolvia três telas de Abraham Palatnik (1928-2020), representante da arte cinética. Esse movimento surgiu em Paris nos anos 1950 e explora o movimento. Um dos exemplos mais conhecidos é o do americano Alexander Calder (1898-1976) e seus móbiles. Filho de emigrantes russos, Palatnik nasceu em Natal (RN) e se mudou com a família para Tel-Aviv aos 4 anos de idade, onde se formou em física e mecânica, além de estudar artes. Aos 20, retorna ao Brasil indo morar no Rio de Janeiro. Participou de mais de uma centena de exposições no Brasil e exterior.
Em 2021, a rentabilidade anual projetada era de 17,36% ao ano, com resgate entre 24 e 36 meses. O investimento mínimo era de R$ 10 mil, e o valor conjunto das obras era de R$ 650 mil. Segundo Carvalho, a operação foi encerrada 13 meses depois com uma valorização de 27%.
Agora, a Hurst está lançando mais uma operação com Palatnik, envolvendo duas obras, a a W578, de 2014 e a W896, de 2016. A operação tem prazo previsto de 20 meses com rentabilidade estimada de 20,59% ao ano em um cenário base. O aporte mínimo é de R$ 5 mil. “Pesquisamos 100 transações de obras de Palatnik da série W, realizadas entre 2007 e 2022, e descobrimos que estas obras valorizaram 19,06% ao ano”, diz a head de investimento.