A comida é uma das formas mais marcantes de se conectar com nossas lembranças afetivas. Muitas das memórias da infância são, inclusive, feitas ao redor da mesa – seja em almoços de família aos domingos ou uma receita de conforto do pai, mãe ou avós. Para alguns dos grandes chefs de hoje, foram esses os momentos que despertaram a paixão pela cozinha.
No Dia das Crianças, a Forbes convidou chefs renomados a viajar no tempo, relembrando as receitas que marcaram suas infâncias. São pratos que carregam histórias de família, momentos felizes e sabores que continuam vivos em suas lembranças e, muitas vezes, até influenciam os cardápios que criam hoje.
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Das receitas simples e afetuosas às aventuras culinárias que despertaram a curiosidade por novos ingredientes, cada um deles contou um pouco de como a infância moldou a sua visão da gastronomia. Confira a seguir:
Helena Rizzo, do Maní
“Muitos pratos marcaram a minha infância, mas posso citar especialmente os tortéis de abóbora e o pudim de laranja com calda de vinho que a minha avó fazia. Tenho essas memórias de comida da minha infância muito vivas em mim, e volta e meia trago elas para alguma receita, alguma revisão”.
Luiz Filipe Souza, do Evvai
“Quando eu tinha por volta de 11/12 anos, me recordo muito bem que meus pais me levaram em uma viagem não muito usual para uma criança. Fomos para Milão e Lugano, e não me esqueço de um spaghetti a carbonara que comemos em alguma trattoria em Milão. Mas não era o clássico: esse tinha abobrinha em sua receita…era um spaghetti a carbonara com zuchini… algo que pareceria mais alla nerano que carbonara. Refletindo hoje, talvez essa alteração autoral do chef tenha me inspirado muito a como interpretar a gastronomia italiana, além de despertar o meu interesse e paixão pela Itália”.
Bel Coelho, do Cuia e Clandestina
Uma das minhas receitas mais afetivas da minha memória é a banana caramelizada e flambada da minha mãe, que ela fazia para mim e meus irmãos desde pequenos. Já me inspirou a criar mais de uma sobremesa, inclusive uma da nova Clandestina, que leva banana brûlée, requeijão cremoso, doce de leite de ovelha, ganache de chocolate e farofa de paçoca”.
Tássia Magalhães, do Nelita
“Eu tive uma infância de interior, e, como sempre falei, meu pai foi uma das pessoas mais responsáveis pelo fato de eu gostar de cozinha. Aos domingos, ele começava na cozinha muito cedo, e era um ritual para ele ficar cozinhando, escutando música, tomando uísque. E tem um prato, que fiz no primeiro menu do Nelita, que parece um mil-folhas clássico, tradicional, mas não é: o meu é um mil-folhas de frango com maionese, que vem para representar uma memória de infância. Meu pai preparava coxa e sobrecoxa assada de frango, fazia a própria maionese com um pouco de páprica, colocava em cima do frango e assava. Eu arrumava esse prato do domingo, era um dos meus prediletos”.
Cesar Costa, do Corrutela
“O pão de queijo da minha mãe, que é mineira e uma cozinheira de mão cheia, é o prato que mais marcou minha infância. Eu adorava ajudar ela a bolear o pão de queijo e a fazer a massa. Esse ritual sempre me conectou com a cozinha e me inspirou a seguir esse caminho”
Saulo Jennings, da Casa do Saulo
“O prato que mais marcou a minha infância foi o feijão de Santarém caldoso, feito pela minha mãe todas as segundas-feiras em casa. Um feijão muito bem temperado com ervas amazônicas, servido com pirarucu frito. Esse prato trago comigo em um dos principais pratos da Casa do Saulo que é a Piracaia , peixe assado com vinagrete de feijão de Santarém, a minha leitura dessa minha comida afetiva de infância”
Gerard Barberan, do Bottega Bernacca
“A croqueta tem um papel especial na minha vida e na minha cultura (catalã), algo que remonta às tardes passadas na casa da minha avó, quando, ainda criança, eu e ela preparávamos a receita. Quis trazer a receita para o restaurante, unindo também com a tradição italiana. Aqui, servimos croquetas de funghi porcini e frango, prosciutto de parma curado 24 meses e pomodoro”.
Morena Leite, do Capim Santo
“Na minha infância, o prato que mais me marcou foi o frango com catupiry da minha mãe. Ela cozinhava bastante e muito bem e esse era um dos pratos que ela preparava quando estávamos em família. Lembro sempre dele porque tento resgatar a simplicidade e o aconchego da comida caseira que ele traz e colocar nas minhas criações”.
Thiago Castanho, do Sororoca Bar e Remanso do Peixe
“O prato que mais marcou minha infância, e virou ícone do Remanso do Bosque, é o filhote assado na brasa com salada de feijão manteiguinha e macaxeira cozida. É o peixe mais famoso de Belém, que meu pai fazia, desde quando eu me lembro de criança, em churrasqueiras – até improvisada com tijolo em cima da areia. E até hoje a gente serve o filhote na brasa no Sororoca, que é um dos pratos de muito sucesso lá. Ele me inspirou no sentido de como uma coisa tão simples, do dia a dia, a gente consegue agregar no restaurante, sem ter muita firula para criar um prato que seja a cara de casa”.
Caio Yokota, do Aiô e Mapu
“Uma das coisas que eu mais amava quando criança era um tipo de ‘salgadinho’ caseiro que minha avó fazia. Era composto de macarrão frito, soja frita, amendoim torrado e nori picado. Esse pote precisava ser guardado a sete chaves, se não eu comia tudinho – a textura crocante de tudo fazia ser muito viciante. Hoje essa textura de macarrão e algum grão, hidratado e depois frito, está presente em dois pratos no Aiô: no cogumelos no vapor, que vai esse macarrão frito, bem crocante e com bastante textura, e na salada de tomates, que usamos feijão moyashi frito”.
Beatriz Limoni Freitas, do Shihoma Pasta Fresca
“O prato que mais marcou minha infância é um que a minha avó materna, senhora Rosa Limoni, sempre fez: franguinho caipira ensopado com polenta de tabuleiro, de corte. Era engraçado porque era aquele tipo de polenta que não pode sair do lado da panela, e ela não tinha força no braço para ficar mexendo tanto. Então meu avô era o encarregado de mexer a polenta e tinha que andar com ela ao redor da casa até esfriar e dar o ponto de corte. E o frango era o que ela matava no sítio e fazia pinga e frita, que acho a técnica brasileira mais interessante para construir sabor rápido. E acho que esse prato respinga na comida que eu faço por carregar muito da minha vó e das mulheres cozinheiras da minha família. Observar elas cozinharem, os movimentos, as mãos, como elas faziam – isso tudo está muito intenso em mim”.
Hervé Witmeur, do Ello e La Cozinha
“Os sabores da minha infância na Bélgica ocupam sempre um lugar especial na minha cozinha. Posso citar um prato em particular que está no meu cardápio: croquetes de camarão. Esses croquetes, tradicionalmente feitos com os camarões ‘crevettes grises’, são uma especialidade da costa belga que continuo a celebrar nos cardápios dos meus restaurantes – onde são servidos como snacks no cardápio do bar, com os camarões locais. Lembro-me vividamente dos verões à beira-mar, pedindo croquetes de camarão na praia. Também me recordo de quando criança empanava os croquetes de camarão no restaurante do meu pai, transformando o ato de cozinhar em diversão e aprendizado. Preparar esses croquetes sempre me encantou, começando pela elaboração de uma rica bisque, um processo que transforma ingredientes simples e frescos em uma delícia complexa e satisfatória.”
Luana Sabino, do Metzi
“Minha avó fazia um bolo bem molhado com leite condensado e biju (que ele chamava tapioca de biju). O nosso três leches foi inspirado nesse pão de ló molhado, que ela fazia com leite condensado. No Metzi, essa sobremesa é feita com um crocante, uma glaçagem de chocolate branco, e um cremoso de cupuaçu. Mas a receita de pão de ló é a mesma da minha avó”.
Wanderson Medeiros, do Picuí
“O que mais marcou a minha infância foram os pasteizinhos de carne de sol que minha avó fazia e minha mãe também aprendeu. Eu vendia essa iguaria nas ruas lá em Picuí, na Paraíba. Minha mãe faz até hoje para a família e a gente faz uma reprodução desse pastelzinho no menu do restaurante”
Rafa Gomes, do Itacoa e Tiara
“Um dos pratos que marcou bastante a minha infância foi o camarão catupiry. Eu me lembro quando criança de ir almoçar com meus pais e esse era o meu prato de sempre. Ele me lembra de comemoração, até do meu aniversário, quando ele era o prato escolhido.”
Amilcar Azevedo, do NOU
“Era uma festa em casa quando tinha milanesa, mas não era com risoto. No dia a dia era com arroz e feijão. Com certeza esse era o prato da família. E hoje é o prato mais vendido no NOU.”