
Muito se fala sobre as famosas zonas azuis — regiões como Sardenha, Okinawa ou Nicoya, onde a expectativa de vida é incrivelmente alta. Mas será que é preciso mudar de país para ganhar anos de vida? Para Guilherme Lima, fundador da Soul8, a resposta é não.
Após sofrer um burnout em 2017, Guilherme — executivo global com passagens por empresas como Citi, McKinsey, HSBC e BlackRock — decidiu transformar sua própria jornada de recuperação em um novo propósito de vida. Nasceu assim a Soul8, uma clínica na Vila Olímpia, em São Paulo, especializada em longevidade e qualidade de vida. Com base em ciência, tecnologia e personalização, ele ajuda profissionais de alta performance a investirem em quatro pilares fundamentais: movimento, sono, nutrição e saúde emocional.
“Nosso objetivo é mostrar que é possível alcançar uma vida longa, saudável e produtiva — sem precisar se mudar para a Sardenha”, resume Guilherme.
Performance e longevidade: dá para ter os dois
“Quando a gente fala de idade, a verdade é que trabalhamos com duas frentes: performance e longevidade”, explica. “Nosso objetivo é ajudar as pessoas a atingirem um novo patamar de performance — algo fora do comum, e de forma sustentável.”
A proposta, segundo Guilherme, é transformar a forma como as pessoas lidam com seus corpos, sua energia e sua produtividade. “É um processo de reeducação. Trazemos insights excepcionais que a pessoa consegue aplicar já na segunda-feira de manhã”, diz. “Com isso, ela começa a fazer escolhas diferentes todos os dias.”
Entre seus clientes estão alguns dos maiores CEOs do Brasil, atletas profissionais, atrizes, executivos globais e pessoas em busca de longevidade. Ele divide as pessoas que o procuram em cinco grandes grupos:
- CEOs e executivos de alta performance que precisam de energia e clareza para liderar longas jornadas.
- Atletas profissionais e artistas, que demandam performance física e mental de alto nível — seja para uma série da Netflix, seja para um campeonato internacional.
- Pessoas em busca de longevidade, que querem chegar aos 85 ou 90 anos com autonomia para pegar um voo ou esquiar.
- Pessoas com histórico de saúde delicado, como câncer, infarto ou HIV positivo, e que desejam usar o estilo de vida como ferramenta de recuperação e controle.
- Pessoas que querem perder peso e otimizar a composição corporal.
“O ponto em comum entre elas? Todas querem viver com mais vitalidade, foco e saúde.”
A fórmula: ciência, tecnologia e personalização
O trabalho é baseado nos pilares abaixo:
- Ciência, com base em mais de 100 anos de pesquisa sobre metabolismo, genética, sono, meditação e fisiologia.
- Tecnologia, com ferramentas — proprietárias e não proprietárias — que permitem extrair insights profundos sobre o corpo e o comportamento.
- Equipe multidisciplinar, que trabalha em conjunto, de forma personalizada, para cada cliente.
“Essa combinação permite alcançar um novo patamar de performance com mudanças práticas de rotina.”
A jornada pessoal por trás do método
A história profissional do fundador impressiona: Citi, McKinsey, Harvard, HSBC, BlackRock. Uma carreira internacional robusta, liderando operações em Amsterdam, Espanha, Nova York, Ásia e Austrália. “Fui head de estratégia global no maior banco do mundo, depois CEO global de wealth management, e depois segui para o empreendedorismo.”
Mas foi justamente durante essa trajetória que ele descobriu — quase por acaso — o impacto da saúde no sucesso profissional.
“Comecei a correr por hobby. Sem perceber, a corrida melhorou meu sono, meu equilíbrio emocional e minha resiliência para trabalhar 12 a 14 horas por dia, focado. Eu virei uma máquina de tomar boas decisões, porque eu era forçado a sair do escritório às 20h para treinar.”
Essa clareza ficou ainda mais evidente quando a vida pessoal foi desafiada: “Meu filho nasceu com um problema de saúde. Ao mesmo tempo, eu assumi a operação da Ásia no banco. Ganhei 10 kg, machuquei o ombro, meu nível de concentração caiu drasticamente. A diferença que isso fez foi gritante. A saúde virou prioridade.”
A virada, no entanto, veio de forma bastante pragmática. “Eu olhei para tudo isso como exatamente um problema de negócio, do mesmo jeito que eu analisaria um desafio na McKinsey. Em seis meses, eu já estava com uma composição corporal melhor do que antes, com níveis de massa magra e HRV — que é uma medida de vitalidade — muito mais altos. E foi tratando meu próprio caso que comecei a integrar tecnologia, profissionais de ponta e percebi que ninguém fazia isso de maneira realmente coordenada.”
Foi daí que nasceu a metodologia da Soul8. Com base na mesma disciplina analítica que guiou sua trajetória como executivo global, Guilherme quis aplicar o rigor da gestão de risco de grandes instituições financeiras à gestão da saúde de longo prazo. “O endocrinologista Filippo Pedrinola, que é meu sócio, também fez pesquisa no exterior — em São Francisco e Nova York — e o que a gente trouxe para a Soul8 é o mesmo padrão de excelência, de rigor e de impacto que temos com nossa carreira. Minha ambição é clara: quero criar uma ‘McKinsey da performance e da longevidade’.”
A estrutura para isso já começou a ser montada: uma equipe multidisciplinar de médicos, nutricionistas, preparadores físicos e especialistas em sono e saúde mental — todos full time. “Temos um time clínico com mais de um século de impacto acumulado em pesquisa. E para poder conversar de igual para igual com esses profissionais, eu mesmo voltei a estudar e me formei em genética e bioquímica. Queria conteúdo e profundidade. Não é uma jornada superficial.”
E como é estar do outro lado agora — como empreendedor no Brasil, e não mais como executivo de multinacionais?
“Olha, tem pontos positivos e negativos. O lado positivo é que eu nunca me diverti tanto na minha vida. Eu gasto quase zero de energia com política interna — o que, claro, tem seu valor, mas em cargos de liderança no setor financeiro, às vezes 70% do meu tempo era absorvido por isso, por gestão interna e questões regulatórias. Agora, como empreendedor, 100% do meu foco está em criar valor e impactar pessoas. Isso me realiza profundamente.”
Mas a pressão existe, claro. “O desafio é financeiro. Hoje, eu preciso atrair talentos com um sonho, não com o peso de uma marca global como HSBC, McKinsey ou BlackRock. Agora sou eu. É na unha. Só que eu também nunca estive tão conectado com o que me move.”
E talvez esse seja o maior aprendizado: entender que viver com mais saúde e mais anos não tem a ver com restrição extrema ou vida monástica — e sim com escolhas bem feitas.
“Eu sei quando vou tomar vinho, sei quando vou comer chocolate ou batata frita. Mas também sei quando vou fazer 10 mil passos a mais. Isso é inteligência emocional aplicada ao bem-estar. Porque uma vida equilibrada não é uma vida perfeita. Ela precisa ter prazer. As pessoas acham que cuidar da saúde é sinônimo de sacrifício, mas, na verdade, tem muito esforço desnecessário sendo feito por falta de conhecimento. Quando você entende como seu corpo funciona, você se liberta.”
“E a missão da Soul8 é justamente essa: libertar as pessoas de uma vida desconectada da sua própria biologia — e mostrar que é possível, sim, viver como nas zonas azuis, mas sem precisar mudar de país.”