Foi em um 6 de outubro como hoje, mas há 100 anos, que a Rolls-Royce lançou o 20 H.P. Distinto de tudo o que a marca inglesa já havia produzido em seu curto tempo de vida, o “Twenty”, como também era conhecido, foi sua resposta para a austeridade do pós-guerra – e um precursor conceitual e tecnológico.
“O 20 H.P. está entre os modelos mais importantes e influentes já produzidos pela marca. Como o primeiro Rolls-Royce especificamente destinado ao motorista-proprietário, em vez de predominantemente para uso com chofer, é um ancestral direto de Ghost, Wraith, Dawn e Cullinan. E ao definir o modelo mecânico para as gerações que o seguiram, o ‘Twenty’ também tem paralelos históricos com o Spectre”, explica a empresa, se referindo por último ao seu futuro modelo elétrico.
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Frederick Henry Royce, proprietário de uma empresa de engenharia elétrica sediada em Manchester, construiu seu primeiro carro em 1904. Charles Stewart Rolls, à frente de uma revendedora e oficina baseada em Londres, foi convencido por um amigo comum a ambos a experimentar o automóvel construído por Royce. Rolls reconheceu a superioridade do modelo e logo os dois concordaram em desenvolver uma linha de produtos, que seria vendida sob a marca Rolls-Royce.
A gama começava em um dois-cilindros de 10 cv vendido por 395 libras e chegava a um seis-cilindros de 30 cv e etiqueta de 890 libras. Como muitas marcas de luxo da época, a Rolls-Royce vendia apenas o chassi, que depois recebia carroceria e interior encomendados de encarroçadoras como Brewster, Vanden Plas e Park Ward, entre outras. Assim como o exemplar que atraiu a atenção de Rolls, o 20 H.P. também fora desenhado por Henry Royce.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa transfere seus esforços intelectuais e fabris para produção de blindados e motores aeronáuticos. Quando o conflito acaba, em 1918, Henry Royce – já sozinho no comando da fabricante após seu sócio morrer em um acidente de carro em 1910 – se vê diante de um excesso de capacidade na fábrica de Derby e de um mercado que apresenta uma nova realidade.
A austeridade imposta pela devastação causada pelo embate não permitiria mais, ao menos por algum tempo, luxos como motorista particular ou as onerosas manutenções semanais exigidas pelo Silver Ghost, o topo de linha da marca. Motores que consumiam menos combustível também eram um impositivo naquele momento.
“Royce entendeu instintivamente que, apesar de suas circunstâncias agora mais difíceis, esses proprietários estavam acostumados aos padrões de excelência da Rolls-Royce e não esperariam nada menos de um novo modelo, independentemente de seu tamanho e especificação”, relembra a empresa.
O 20 H.P. foi então equipado com um motor de 3,1 litros e seis cilindros em linha, que era menos da metade do 7,5 litros de 50 cv que equipava o Silver Ghost. Para compensar, o 20 H.P. era cerca de 30% mais leve. De resto, o novo modelo da Rolls-Royce era mais fácil de manusear – freios, suspensão e sistema de direção eram nitidamente mais modernos. O modelo ainda atraiu novos consumidores para a marca, para os quais custos de manutenção eram fatores decisivos.
Contudo, o 20 H.P. também foi vítima da incompreensão do seu conceito. Muitos clientes insistiam em acoplar ao seu chassi as mesmas carrocerias pesadas e corpulentas – projetadas a favor de conforto e aparência – que apenas o Silver Ghost conseguia suportar, o que comprometia o desempenho do mais compacto e modesto novato.
“O ‘Twenty’ teve uma profunda influência na Rolls-Royce muito depois que a produção cessou. Em particular por conta do motor de seis cilindros em linha, com cabeçote removível e válvulas no cabeçote. Abra o capô de qualquer Rolls-Royce de seis cilindros até o Silver Cloud de1959 e é reconhecidamente o mesmo design, embora com muitas melhorias internas”, destaca a RR.
Também nasceu com o ‘Twenty’ a filosofia de oferecer apenas dois modelos. Assim, a empresa passava a atender às necessidades de dois grupos de clientes: os que optavam por viajar no banco traseiro e aqueles que preferiam guiar seu próprio carro. Foi assim até pouco tempo atrás, com a dupla Phantom e Ghost.
Sucesso de crítica e público (um dos clientes chegou a escrever para a Rolls-Royce alegando que jamais havia lidado com “nada tão doce” ao volante), o 20 H.P. se despediu em 1929, depois de 2.940 exemplares construídos. Cedeu lugar ao 20/25 H.P. (dotado de um bloco de 3,7 litros), por sua vez suplantado pelo 25/30 H.P. e seu motor de 4,25 litros, em 1935.