Outro dia, fui chamado pelo xeique Mohamad al Bukai, autoridade religiosa à frente da Mesquita Brasil, em São Paulo, a falar de um tema dificílimo: empatia. Por que dificílimo? Primeiro, porque empatia é daqueles termos complicados de definir e que abrangem muitas coisas diferentes. Passa pela conexão verdadeira com o outro, mas também passa pela capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. Passa pela capacidade de ler a linguagem não verbal de alguém (um olhar entristecido, um sorriso amargo, por exemplo) e, também, pelo reconhecimento das emoções que estão no outro. Reconhecimento sem juízo de valor. Para algumas pessoas, empatia é um valor dos mais importantes. A verdade é que é tudo isso.
Muitos estudiosos têm se debruçado sobre esse tema. Não é preciso ser estudioso, entretanto, para olhar ao nosso redor e ver que estamos, como sociedade, nos tornando menos empáticos.
Todos os dias somos confrontados com conhecidos, com lideranças (corporativas ou políticas) que parecem indiferentes a tudo. Nada as choca, nada as comove, nada as faz sair do lugar para oferecer ajuda, um ombro, uma escuta. Alguns especialistas chegam a dizer que vivemos um paradoxo: numa era que mais do que nunca promoveu a conexão das pessoas nas redes sociais, o que temos visto é a desconexão de uns com os outros.
Há quem diga que a culpa é do excesso de informação. É tanto, mas tanto conteúdo diário que nosso cérebro não consegue lidar com histórias humanas emocionalmente tocantes. É como se desligássemos a chave da empatia porque já estamos emocionalmente exaustos.
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Isso de alguma forma explica por que posts de animais fofos, de pessoas felizes, de lugares lindos ganham audiência e posts de organizações em prol de pessoas em alto risco de vulnerabilidade, nem tanto. O mais importante é o prazer instantâneo que as redes promovem, os valores ligados a esses prazeres.
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Estejamos cansados ou não, precisamos de empatia. Ela é uma força poderosa e uma das palavras que fazem parte do dicionário do amor. Ela nos torna pessoas melhores e melhores líderes. Dá para melhorar esse déficit de empatia? Claro!
1. Primeiro, esteja aberto para a escuta. Pode ser escutar um amigo, um colega de trabalho, e até o seu chefe.
2. Procure sair da bolha em que você vive. A maioria de nós vive em bolhas. Buscamos conversar com quem tem uma posição política parecida com a nossa, com quem tem os mesmos gostos que os nossos, com quem tem a mesma educação que a nossa. Tente convidar alguém do trabalho para um happy hour, inicie uma conversa com alguém do seu prédio.
3. Tente participar de alguma ação ou grupo coletivo. Nas grandes cidades, como São Paulo, há muitos: grupos de apoio, de leitura, de música, de hortas comunitárias, enfim …Procure trazer o diferente para a sua vida. A gente faz isso pela convivência com quem é diferente de nós.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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