A falta de sono – tanto em termos de quantidade quanto de qualidade – pode tornar os humanos menos dispostos a ajudar uns aos outros, descobriram pesquisadores da Universidade da Califórnia após três experimentos separados, sugerindo que a privação do sono não apenas aumenta o risco de problemas de saúde mental e outras doenças, mas também pode prejudicar o funcionamento dos humanos na sociedade.
Em uma parte do estudo, publicado na revista “PLOS Biology”, os pesquisadores descobriram que nos estados que perderam uma hora do dia devido ao horário de verão as doações de caridade caíram 10% na semana seguinte à mudança de horário, uma diminuição que eles não encontram em estados que não alteraram seus relógios.
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O experimento mostrou que mesmo uma “dose muito modesta de privação de sono” – apenas uma hora – pode ter um “claro efeito em nossa bondade humana inata e nossa motivação para ajudar outras pessoas necessitadas”, diz Matthew Walker, coautor do estudo e professor de neurociência e psicologia da UC Berkeley em um comunicado.
Em um experimento diferente, no qual os cientistas compararam a atividade cerebral de um grupo de pessoas após 8 horas de sono com sua atividade cerebral após uma noite sem dormir, os pesquisadores descobriram que a privação do sono reduziu significativamente a atividade em áreas sociais do cérebro que estão envolvidas quando os humanos simpatizam uns com os outros ou tentam entender os desejos e necessidades uns dos outros.
Na outra parte do estudo, os pesquisadores mediram a qualidade do sono de mais de 100 pessoas ao longo de três ou quatro noites e compararam esses resultados com suas respostas a questionários sobre a disposição de ajudar os outros.
Foi descoberto por meio desse experimento que a má qualidade do sono levou a uma “diminuição significativa no desejo de ajudar outras pessoas”, de acordo com Eti Ben Simon, coautor do estudo e neurocientista do Centro de Ciências do Sono Humano da UC Berkeley.
Informação determinante
“Ajudar é uma característica central e fundamental da humanidade. Esta nova pesquisa demonstra que a falta de sono degrada o próprio tecido da sociedade humana. Como operamos como uma espécie social – e somos uma espécie social – somos profundamente dependentes do quanto estamos dormindo”, disse Walker.
Fato surpreendente
Os adultos precisam de 7 horas de sono ou mais a cada noite para sua melhor saúde e bem-estar, mas cerca de 35% dos americanos relatam dormir menos do que isso em média, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
Principais fundamentos
Pesquisas ao longo dos anos associaram a falta de sono a uma série de problemas, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade e depressão. Estudos nos últimos anos também mostraram que a privação do sono pode estar ligada a comportamentos sociais, incluindo retraimento e isolamento. Ajudar uns aos outros é um aspecto fundamental da espécie homo sapiens e das civilizações modernas, observaram os pesquisadores. Eles levantaram a hipótese de que o sono insuficiente pode afetar a disposição dos seres humanos de ajudar uns aos outros porque dificulta o processamento emocional, inclusive criando dificuldade em reconhecer as emoções e expressões dos outros, além de causar maior reatividade emocional.
O estresse, incluindo o aumento dos níveis de cortisol, o principal hormônio do estresse, causado pela falta de sono, também pode desempenhar um papel na redução de comportamentos sociais e fazer com que os humanos façam escolhas mais egoístas, sugeriram os pesquisadores. Por outro lado, a implementação de políticas que ajudem indivíduos e comunidades a ter um sono de maior qualidade pode promover “maior ajuda” e generosidade entre as sociedades, concluíram os cientistas da UC Berkeley.