Com mais de 16 mil casos notificados em 75 países desde o início de maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em julho de 2022, que o surto de Monkeypox, traduzida por aqui como varíola dos macacos, constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional. Só no Brasil, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em 12 de agosto, já são 2.747 casos confirmados, sendo 1.919 em São Paulo. O crescimento da doença nas últimas semanas trouxe o medo de volta à população, que mal se recuperou da Pandemia da Covid-19.
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Para começo de conversa, é importante explicar que a infecção causada pelo vírus Monkeypox em seres humanos está sendo erroneamente chamada de varíola dos macacos. Primeiro, porque não se trata de uma varíola, doença já erradicada e que tinha taxa de 30% de mortalidade, bem diferente da baixa taxa de letalidade da doença atual, em que a maioria dos casos costuma ser simples de tratar. Segundo, porque os macacos não são os transmissores da doença, mas, sim, acidentalmente afetados, como os seres humanos. Essa confusão começou em 1958, quando o vírus foi isolado pela primeira vez. Para isso, os pesquisadores utilizaram um macaco cinomolgo, espécie natural da Ásia. Os verdadeiros hospedeiros do vírus, no entanto, são os roedores africanos. Fato é que a OMS já estuda renomear a doença, a fim de evitar preconceito contra as pessoas infectadas e até casos de maus tratos contra os macacos.
Além dos sinais clássicos de uma infecção, como febre, cansaço, dor de cabeça, no corpo ou nas costas, a presença de lesões cutâneas em diversos locais do corpo se destaca como o principal sintoma. Por isso, o acompanhamento dermatológico é essencial. No estudo recente publicado na revista científica British Journal of Dermatology, dermatologistas analisaram 185 pacientes de maio a julho no país. Os pesquisadores observaram que, na maioria dos casos, as lesões foram principalmente nas genitais (53% dos contaminados), na face (39%), nos braços e mãos (38%) ou na região perianal (34%). Eles revelaram ainda que essas erupções, embora semelhantes às pústulas tradicionais, eram sólidas e não continham pus, diferentes das lesões relatadas em outras doenças, como herpes ou catapora. Os sinais são ainda mais claros quando acompanhado das ínguas, protuberâncias ocasionadas pelo aumento dos gânglios linfáticos. Nos primeiros sinais e sintomas, procure ajuda profissional.
A última curiosidade da doença deve-se à confirmação do primeiro caso em cachorro – um galgo italiano de quatro anos que começou a apresentar lesões na pele 12 dias após os seus dois tutores serem diagnosticados com Monkeypox. O relato foi publicado no jornal científico francês The Lancet. Ainda não está claro se o caminho contrário pode acontecer, porém, a notícia é suficiente para que a gente reforce as medidas preventivas (uso de máscara, lavar bem as mãos, evitar o compartilhamento de itens pessoais, comer carne bem cozida e evitar contato com animais selvagens).
Dra. Letícia Nanci é médica do Hospital Sírio-Libanês, médica responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.