Eu não jogo xadrez, para minha frustração. Mas vejo como ele pode contribuir positivamente para muitas pessoas que enfrentam problemas de saúde mental, como dependência do álcool, ansiedade, entre outros.
Os benefícios são tão grandes que, em março, houve em Paris um encontro chamado Chess for Mental Health, ou Xadrez para a Saúde Mental, em português. O evento reuniu vários especialistas para discutir como o jogo pode ser usado como uma nova ferramenta por profissionais de saúde. Um exemplo: ali, abordou-se, entre outras coisas, o uso dele para ajudar crianças com Transtorno do Espectro Autista.
Listo algum dos benefícios que o jogo de tabuleiro pode trazer e que eu comprovei em muitos de meus pacientes. Aliás, vale destacar que um dos profissionais da minha clínica faz uso dele como coadjuvante das terapias que implementamos.
1. Foco
Poucos jogos exigem tanta atenção e tanto foco quanto o xadrez. A concentração não se refere só à sua jogada e ao movimento que você fará dos seus peões, mas especialmente à jogada do seu adversário. Isso é particularmente útil para quem tem dificuldade para manter o interesse nas suas tarefas e atividades. O jogo funciona quase como se fosse um treino para a atenção.
2. Estratégia
No xadrez, não há elemento de sorte. É muito diferente, por exemplo, de jogos com dados, em que a sorte tem um papel preponderante. Durante a partida, é preciso exercitar o pensamento estratégico. Esse exercício, nós, médicos, vemos, ajuda demais na resolução de problemas do dia a dia.
3. Resiliência e controle das emoções
Uma partida pode durar dias e é um teste à nossa capacidade de determinação. Mais do que isso, é um excelente exercício de controle das emoções frente às agruras da vida.
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Assim como na vida, um erro no xadrez pode custar muito. Como respondemos a isso? Reagimos a esse revés movendo as peças com imprudência ou, ao contrário, respiramos fundo, paramos para pensar, analisamos a situação e partimos para um plano B?
Na vida, um erro no trabalho pode levar alguém simplesmente a fechar o seu laptop, sentir-se derrotado ou culpar um terceiro ou, melhor, pode levá-lo a ter um momento de reflexão, voltar ao “jogo” e pensar em uma nova saída.
O xadrez, aliás, é uma aula de como encontrar soluções que pareciam impossíveis em um primeiro momento. Esse ensinamento pode ser aplicado nas situações do dia a dia.
4. Acalma
Reduzir a ansiedade e acalmar é algo propiciado pelo xadrez e que tenho visto bastante em meu consultório e, também, é comprovado pelos grandes mestres do xadrez, o mais alto título internacional dado a um jogador.
Esses jogadores profissionais dizem que quando o cérebro está calmo, metade do jogo está ganho. E o xadrez faz isso: exercita a calma da mente. Com isso, os pensamentos, a estratégia – e as jogadas – fluem.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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