Recentemente, tornei-me avô pela primeira vez. Meus netos, gêmeos, têm seis meses. Também me tornei “pai” de pet, que é como os tutores de animais de estimação se autodenominam. Franc é o nome do novo integrante da minha família, um Golden gorducho que lembra uma bola de lã. Meus netos e ele crescerão juntos, o que me deixa feliz, visto que a diferença de idade, com toda a liberdade a que me permito para falar assim, é pequena.
Não há dúvidas de que os bichinhos nos fazem um tremendo bem. Prova disso é que a adoção de pets saltou 400% no período mais duro de isolamento social. Por quê? Porque os animais fazem nos sentirmos menos sozinhos e, principalmente, amados.
Mais. De alguma forma, podemos fazer um paralelo entre a relação que temos com os nossos pets e os nossos vínculos interpessoais. É quase como se exercitássemos com eles regras de boa convivência, paciência e capacidade de ler o outro. Tem sido uma experiência fantástica para mim.
Não adianta, por exemplo, ficar gritando com o bicho. Assim como não adianta gritar com quem está ao seu redor. Não é gritando que você o fará jogar em seu favor. Creio inclusive que isso me permitirá aprimorar muitos dos relacionamentos que construí ao longo dos anos.
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Esse desafio de lidar com um ser que não fala e que, claro, por vezes se sente incomodado ou carente e, lógico, quer receber amor de volta, tem ajudado a trazer calma à minha vida. Existem inclusive evidências científicas de que a convivência com os pets faz baixar os níveis do hormônio do estresse.
Outro poder “mágico” dos animais de estimação é que eles nos ajudam a nos cuidarmos, a prestar mais atenção em nós. Para tomar conta deles, é preciso que exerçamos o autocuidado. Se não estivermos bem, como daremos conta deles?
Os bichinhos também contribuem para que organizemos melhor o nosso dia a dia. Isso é um excelente benefício para aqueles que costumam ser desorganizados. Os pets têm horários, que podem funcionam como “marcadores”, nos obrigando a por ordem no dia para realização dessas tarefas.
Além disso – vale para quem tem cães -, eles nos forçam a levantar da cadeira e a nos exercitar, nos movimentar, seja para brincar com eles, seja para levá-los para passear. Atividade física, você sabe, é fator-chave para a saúde mental.
Por fim, queria falar do vínculo que se estabelece entre tutor e seu animal, que tem enorme efeito terapêutico. Há fortes indícios de que identificar outro ser como alguém importante e significativo para nós, fazendo com que estabeleçamos um laço amoroso com ele, tem um papel fundamental na nossa saúde mental.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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