Você que todos os dias entra no Instagram, já percebeu o quanto essa rede social tornou-se barulhenta? Barulhenta no sentido literal. Os posts agora vêm acompanhados de músicas (cada um coloca a sua), de vídeos (cada um fala o que lhe interessa). Meia hora de Instagram e parece que estamos em uma sala cheia de gente, em que uma pessoa nessa sala que tem o controle da playlist e fica trocando de música a cada segundo.
A verdade é que está cada vez mais difícil nos livrarmos desses ruídos. Quem mora em grandes centros urbanos sabe bem disso. Em São Paulo, cidade em que a expansão imobiliária avança rapidamente, é complicado encontrar um bairro em que há quietude. Além dos sons típicos da construção civil, há os aviões, os helicópteros, a cacofonia dos carros.
A gente se acostuma com esses ruídos de fundo, ao ponto de quase eles não nos incomodarem mais. É justamente quando viajamos para um lugar afastado e cercado de natureza que notamos a diferença. E ela é brutal. Pois não é que o silêncio – quando muito só o bater das folhas, o vento, o cantar dos pássaros, o correr da água – virou um bem de luxo e agora vale ouro? No mundo todo, cresce a procura por um tipo de turismo que privilegia lugares calmos, quase silenciosos.
A busca pela quietude é tão grande que, nos Estados Unidos, uma organização sem fins lucrativos tem a proposta de identificar e proteger lugares ameaçados, porque esses locais tranquilos estão se extinguindo rapidamente. Através de uma série de métodos, essa organização, que não por acaso se chama Quiet Parks (Parques Tranquilos), certifica áreas no mundo todo como tranquilas. Nesses lugares, o intervalo entre um ruído e outro (ainda que causado pelo homem) tem de ser de 15 minutos ou mais.
Em um mundo hiper conectado, as pessoas parecem estar se dando conta de que o silêncio importa, e muito. Até para a saúde física. A OMS já atestou que a poluição sonora é capaz de aumentar o risco de doenças do coração e até de reduzir a expectativa de vida.
O silêncio também é essencial para o nosso bem-estar espiritual. Os monges budistas sabem disso há milhares de anos. Aqui no Brasil, no Espírito Santo, um mosteiro budista recebe pessoas para fazerem retiros espirituais, em que a regra é ficar o máximo sem fazer ruídos. Sei de pessoas que passaram por essa experiência e voltaram renovadas.
O silêncio permite nos reconectarmos a nós mesmos. Sem nenhum barulho para nos distrair, só nos resta prestar atenção a nós mesmos, a nossas emoções, pensamentos. Não é à toa que diferentes práticas religiosas e espirituais tenham em comum a quietude.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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