O câncer de mama representa cerca de 10% dos casos da doença diagnosticados no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Quase 74 mil registros deste tipo de tumor são esperados 2023.
Ele também é o tipo de neoplasia mais comum em todo o mundo e a principal causa de morte por câncer entre as mulheres. Além disso, revela outra face igualmente cruel da doença, com impactos sociais e econômicos diferenciados entre países de baixa e média renda.
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Para se ter uma ideia, a taxa de sobrevivência de cinco anos do câncer em países ricos pode superar 90%, não sendo maior que 40% África do Sul. A própria Organização Mundial da Saúde reconheceu o problema e estabeleceu, em 2021, a Iniciativa Global de Câncer de Mama, com o propósito de reduzir a incidência da doença em 2,5% ao ano. Num período de duas décadas, essa redução poderia significar 2,5 milhões vidas de mortes evitadas.
A Iniciativa estabeleceu metas gerais que devem ser adotadas pelas partes interessadas, com melhorias sistemáticas no acesso a serviços adequados e de qualidade. O foco é desenvolver a promoção da saúde, o diagnóstico de pelo menos 60% dos cânceres de mama invasivos nos estágios I ou II e garantir que pelo menos 80% das pacientes passem por um tratamento abrangente.
As políticas públicas para Oncologia no Brasil também deveriam ter um olhar especial para a diminuição das inequidades do tratamento do câncer de mama. A realidade das pacientes muda drasticamente dependendo não apenas das condições econômicas, raciais e sociais, mas também do local onde vivem.
Um levantamento do Observatório de Oncologia, publicado no ano passado, mostrou que, em 2021, o Brasil registrou a menor taxa de cobertura mamográfica para mulheres entre 50 e 69 anos, atingindo a marca de 17% de alcance. Em 2019, este porcentual era de 23%.
As falhas de rastreamento têm impacto direto nos desfechos de estadiamento. E, segundo o mesmo levantamento, o estado do Acre registrou 56% de diagnósticos tardios em 2021, bem próximo de Pará e Ceará, com 55% de diagnósticos tardios. Por outro lado, São Paulo e Rio Grande do Sul tiveram 33% de casos descobertos em estádios mais avançados.
Os números, mais uma vez, comprovam as diferenças inaceitáveis do câncer em nosso país. Por isso, devemos insistir no trabalho incessante da informação para a prevenção e no desenvolvimento de políticas públicas eficientes, que garantam o mesmo tratamento para todas as brasileiras e se aproximem das metas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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