Outro dia, recebi em meu consultório uma pessoa dizendo ter TDAH. Ela chegou com o diagnóstico fechado e pedindo a minha ajuda para, digamos, melhorar o seu dia a dia por meio de alguma estratégia médica. Eu perguntei a esse paciente quando ele havia sido diagnosticado e quem era o colega médico que havia feito o diagnóstico.
A resposta, muito calma, foi: “Eu mesmo”. E emendou que já havia admitido a si mesmo que tinha déficit de atenção e hiperatividade, que seus conhecidos já haviam aceitado a sua condição e que, por favor, eu não dissesse que ele não tinha o transtorno.
Leia também:
- Quanto mais exercício, menos remédio
- Como agir quando um colega de trabalho te confidencia um problema de saúde mental?
- Brasileiros se preocupam mais com saúde mental do que com câncer
Se você digitar “teste online de autismo” ou “teste de TDAH online” no Google, encontrará, só na primeira página de resultados, uma dezena de opções. Testes para esses e outros transtornos também se espalham pela internet e pelas redes sociais. Há avaliações até que medem níveis de ansiedade, depressão e estresse.
O problema quando se fala em saúde mental é que o objeto não é tão claro quanto é, por exemplo, o da cardiologia, que é o coração, ou da ortopedia, que são os ossos. Nessas áreas da Medicina, os testes são muito objetivos: ou alguém trincou ou não trincou o osso; ou se tem uma veia entupida ou próxima de ficar obstruída ou não se tem.
Saúde mental é uma área que implica uma certa subjetividade; daí a necessidade do olho no olho entre médico e paciente. Só por meio uma boa avaliação, inclusive dos impactos que as queixas de um paciente trazem para a vida dele, é que podemos fazer um diagnóstico acertado. É bom lembrar que um mesmo conjunto de sintomas pode ser causado por várias coisas diferentes. Daí a importância de buscar um profissional de saúde mental quando se está sofrendo por alguma razão.
Autodiagnosticar-se pode ser perigoso. Além de alguém correr o risco de seguir estratégias que podem causar mais mal do que bem, o autodiagnóstico costuma levar ao aumento de ansiedade não só em você, mas em pessoas próximas a você.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.