Tenho de fazer uma confissão: eu era um profissional da saúde muito cético em relação à meditação. Creio que uma parcela desse ceticismo se devia à minha formação em Medicina. Na época em que estudei, não se falava muito sobre o poder da mente sobre o corpo. Ao contrário, nos dedicávamos a entender tanto quanto fosse possível o que nos era visível a olho nu ou ao microscópio: tecidos, células, cortes de órgãos.
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Apesar de os tempos terem mudado, de eu conhecer colegas e de ter pacientes que haviam se beneficiado muito da prática, eu me mantinha reticente. Até que eu tive um contato mais próximo com uma profissional que trabalha na minha clínica, a Marina.
Ela propôs ao meu time uma sessão de meditação antes de nossas reuniões semanais de equipe. O resultado foi excelente: passamos a iniciar os encontros em que discutimos casos gravíssimos de saúde mental com outro ritmo e ânimo. Mais do que isso, mais desacelerados e capazes de prestar atenção aos colegas, sem interrompê-los (algo muito comum em reuniões em grupo).
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Incorporei a prática milenar na minha vida. Quando estou em casa, muitas vezes, antes de dormir, faço uso de um aplicativo para me ajudar a meditar. Na minha clínica, passei a fazer uso dela como ferramenta para o tratamento de questões de saúde mental.
A meditação, sozinha, claro, não faz milagres, mas ajuda, sim, especialmente pessoas que buscam se livrar da dependência e que, geralmente, têm altos níveis de ansiedade.
A técnica contribui para o aprimoramento da atenção plena. A ideia é que, ao invés de perseguir os pensamentos que surgem, os deixemos passar por nós como se estivéssemos dentro de um trem olhando a paisagem. Não é para brigar com esses pensamentos que certamente vão brotar, mas observá-los, como se fossem nuvens passando no céu.
Ao focarmos na nossa respiração, sentidos e postura, conseguimos abrandar e conter esse turbilhão de pensamentos e preocupações que nos povoa. Mente tranquila, corpo mais tranquilo. O estresse e a ansiedade diminuem, a qualidade do sono melhora, a produtividade e a criatividade aumentam, as emoções ficam mais equilibradas.
Meditação, assim como o esporte, exige prática regular. Alguns dias serão melhores do que outros. Assim também é na vida. Mas, com o tempo e com regularidade, os pensamentos vão ficando mais calmos.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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