O ano de 2024 acaba de começar e, com ele, um desafio que mobiliza milhares de pessoas no mundo e também no Brasil: o Janeiro Seco. Depois de um mês de intensas celebrações, geralmente regadas a bebidas alcoólicas, a proposta é manter-se longe do álcool por 30 dias.
Lançada em 2013, a ideia é fazer uma espécie de detox pós-festas, estimular quem está preocupado com a sua relação com as bebidas a desacelerar e incentivar que se comece o ano com o pé direito, de forma mais saudável.
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Um mês sem consumir álcool é suficiente para trazer benefícios. Começo com o mais óbvio deles: bebidas alcoólicas podem ser bastante calóricas. Cerveja, vinho e destilados são feitos dos açúcares contidos em grãos ou cereais, que são fermentados ou destilados para produzir o teor alcoólico.
É possível que muitos não saibam, mas cada grama de álcool contém quase a mesma quantidade de calorias que 1 grama de gordura (7 no primeiro caso e 9 no segundo). Se considerarmos que muitos drinques contêm xaropes, açúcar adicionado, frutas, podemos chegar a valores que ultrapassam 300 calorias em um copo. É muita coisa. Portanto, abster-se por um mês de bebidas pode contribuir para a perda de peso.
Além do valor calórico, a qualidade do sono e os níveis de energia melhoram. É importante lembrar que o álcool inicialmente tem um efeito relaxante e sedativo. Não por acaso, muitos bebem para ficar “chapados” e cair na cama. Acontece que ele atrapalha a fase mais importante do sono, chamada de REM. O sono fica picotado (dorme-acorda-dorme-acorda) ou, em determinado ponto da noite, acorda-se e não se consegue mais dormir.
Esses benefícios imediatos trazidos pela pausa no consumo podem ser uma boa oportunidade para reavaliar a sua relação com o álcool. Para muitos, podem ser o estímulo que faltava para criar novos hábitos.
Entretanto, este desafio não é para todo mundo. Para pessoas para quem o álcool já traz prejuízos pessoais e sociais, em geral, o Janeiro Seco é uma impossibilidade.
Mas há uma parcela dos dependentes, porém, que talvez consiga levar a cabo a proposta de ficar 30 dias sem beber. Por terem sucesso, essas pessoas podem ter a falsa sensação de que “se eu consegui parar por um mês, então não tenho problema nenhum”, quando, na realidade, têm. E essa falsa ilusão pode adiar ainda mais a busca por ajuda médica.
Há, ainda, uma porção pequena de pessoas que consegue manter-se firme durante janeiro, porém experimenta um efeito rebote, passando a consumir muito mais nos meses seguintes.
Propostas como o Janeiro Seco não são uma solução milagrosa para quem quer parar de beber, mas podem ser um momento importante para refletir se há razões outras por trás da vontade de consumir álcool e repensar a possibilidade de ter uma relação mais moderada com as bebidas alcoólicas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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