No fim do ano passado, perto do Natal, fiz algo que havia ficado em um passado muito distante: assisti a um desenho animado infantil. Não foi um programa qualquer, mas uma aventura ao lado dos meus netos gêmeos e do meu cachorro (que, casualmente, tem a mesma “idade” que eles; quer dizer, nasceram com meses de diferença).
O filme contava a história de um senhor de barba branca (minha identificação imediata foi com a figura de um avô, e não por coincidência) que havia perdido uma roda de seu carro. Os moradores do vilarejo tentavam ajudá-lo, oferecendo a ele alternativas para a solução do problema, entre elas um queijo redondo. A cada vez que aquele vovô tentava uma daquelas opções, meus netos gritavam de alegria, quase se eles mesmos tivessem visto no senhor de barba branca a figura do avô deles.
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O dia foi passando e, cansados, dormimos todos (inclusive o Franc, meu cachorro); meus netos segurando (cada um deles) o dedo indicador de uma de minhas mãos. Eis que minha filha e meu genro, nos vendo dormindo, acharam por bem levar as crianças para o quarto, onde ficariam mais bem acomodadas.
Não é que eles se agarraram fortemente a mim, como se não quisessem largar aquele lugar onde se sentiam tão seguros, confortáveis e aconchegados?
Uso essa historinha para falar de saúde mental. Vários estudos têm nos ajudado a entender o impacto da relação avós-netos para a saúde mental, nos passando uma mensagem importante: um vínculo próximo e saudável melhora o bem-estar emocional da geração mais velha, além de mantê-la mais fisicamente ativa (eu que o diga) e engajada socialmente. Sabemos que a solidão na velhice é uma realidade para muitas pessoas, aumentando as chances de depressão, por exemplo.
Por outro lado, estudos também têm nos mostrado que crianças que mantêm um relacionamento positivo com seus avós têm autoestima mais alta e mais habilidades sociais e comportamentais. O que esses trabalhos nos ensinam é que avós e netos ajudam a proteger a saúde mental um do outro.
A maioria de nós guarda boas lembranças de momentos passados com nossos avós. Tenho revivido essa sensação gostosa com meus netos João e Antônio. Muitas pessoas me perguntam como eu, especialista em saúde mental dos outros, cuido da minha. Pratico atividade física diariamente, cuido do meu sono e da minha alimentação, dou atenção aos meus amigos. Brincar com os netos, fazermos coisas juntos, é um investimento em saúde mental novo na minha vida. E um dos melhores.
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Getty Images #1: Pare de tentar ser perfeito
Costuma-se dizer que ‘o perfeito é inimigo do bom’. Embora haja benefícios em ter objetivos sólidos e estabelecer padrões elevados para nós mesmos, a pressão de precisar que tudo corra perfeitamente pode facilmente nos deixar exaustos, indignos, arrependidos e insatisfeitos.
Uma pesquisa publicada no Journal of Research in Personality identifica três formas de perfeccionismo a serem observadas:
– Perfeccionismo auto-orientado: a tendência de exigir perfeição de nós mesmos;
– Perfeccionismo orientado para os outros: a tendência de exigir perfeição de outras pessoas;
– Perfeccionismo socialmente prescrito: a tendência de acreditar que outras pessoas exigem que você seja perfeito.
Existem maneiras melhores de manter você e as pessoas ao seu redor motivadas, além de tentar atingir um padrão de perfeição. Abandonar os ideais perfeccionistas aliviará sua carga mental e permitirá que você aprecie o simples prazer de ‘fazer as coisas’, em vez de sentir a pressão que vem com a necessidade de ‘fazer bem as coisas’.
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Getty Images # 2: Seja o seu eu mais social
Um pouco de tempo sozinho, com paz e sossego, é sempre algo a ser valorizado — mas com ênfase em “um pouco”. Uma pesquisa mostrou que socializar com colegas é uma maneira infalível de melhorar seu humor. Aumentar a quantidade de interação social pode até beneficiar pessoas mais introvertidas ou com altos níveis de ansiedade social.
Por exemplo, um novo estudo publicado no Journal of Anxiety Disorders descobriu que os tratamentos para transtorno de ansiedade social devem se concentrar em métodos para incentivar o envolvimento social entre pessoas que tentam evitar isso.
“O contato de qualidade com outras pessoas serve como uma estratégia confiável para melhorar o humor”, dizem os pesquisadores, liderados por Fallon Goodman, da Universidade do Sul da Flórida.
Outra pesquisa sugere que os extrovertidos têm vantagem quando se trata de autocuidado justamente por causa da tendência de passar o tempo socializando.
“Alguém com alto nível de extroversão provavelmente tem uma ampla rede social, é mais propenso a iniciar contato com outras pessoas, passar o tempo de lazer socializando e aceitar convites para eventos sociais”, dizem os autores do estudo. “Tudo isso pode levar a situações que satisfaçam nossa necessidade de relacionamento.”
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Getty Images #3: Perdoe alguém (talvez até você mesmo)
É da natureza humana querer responsabilizar as pessoas pelas coisas que fizeram. Afinal, é uma das maneiras pelas quais nós, como sociedade, incentivamos a cooperação, a responsabilidade e o comportamento produtivo.
No entanto, o peso de se apegar a todas as transgressões que as pessoas cometeram contra você no passado – ou até mesmo culpar a nós mesmos – pode ter grandes consequências psicológicas. E, de acordo com um novo estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology, uma dessas consequências é sentir-se desumanizado.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores liderados por Karina Schumann, da Universidade de Pittsburgh, dividiram os participantes da pesquisa em dois grupos. Um grupo teve de se imaginar sendo ofendido por um colega e depois perdoando-o, enquanto o outro grupo teve de se imaginar sendo ofendido e se vingando.
Eles descobriram que os participantes que imaginavam se vingar do colega permaneciam em um estado desumanizado (por exemplo, classificando-se como se sentindo menos refinados, emocionais e inteligentes, e mais superficiais, frios e animalescos) em relação àqueles que perdoavam o colega.
“Esse padrão de resultados sugere que o perdão pode reumanizar as vítimas depois que seu senso de humanidade foi prejudicado por uma ofensa”, diz Schumann.
Alguns dos outros benefícios do perdão cientificamente observados incluem: diminuição da ansiedade e estresse, ser menos hostil nas interações cotidianas, saúde mental melhorada e autoestima melhorada.
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Getty Images Conclusão
A capacidade de transformar um dia ruim em um bom não é um superpoder — ela está bem ao nosso alcance. A nova ciência sugere que abandonar os padrões perfeccionistas, fazer um plano para ser social e praticar o perdão são três coisas que podemos fazer para combater o humor negativo.
#1: Pare de tentar ser perfeito
Costuma-se dizer que ‘o perfeito é inimigo do bom’. Embora haja benefícios em ter objetivos sólidos e estabelecer padrões elevados para nós mesmos, a pressão de precisar que tudo corra perfeitamente pode facilmente nos deixar exaustos, indignos, arrependidos e insatisfeitos.
Uma pesquisa publicada no Journal of Research in Personality identifica três formas de perfeccionismo a serem observadas:
– Perfeccionismo auto-orientado: a tendência de exigir perfeição de nós mesmos;
– Perfeccionismo orientado para os outros: a tendência de exigir perfeição de outras pessoas;
– Perfeccionismo socialmente prescrito: a tendência de acreditar que outras pessoas exigem que você seja perfeito.
Existem maneiras melhores de manter você e as pessoas ao seu redor motivadas, além de tentar atingir um padrão de perfeição. Abandonar os ideais perfeccionistas aliviará sua carga mental e permitirá que você aprecie o simples prazer de ‘fazer as coisas’, em vez de sentir a pressão que vem com a necessidade de ‘fazer bem as coisas’.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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