Todos os anos, vemos nas redes sociais milhares de fotos e mensagens amorosas de filhos e filhas (e de netos também) celebrarem e agradecerem suas mães.
Ao acompanhar os posts, ficamos com a sensação de que a maternidade é um mar de rosas. Porém, ela pode ser difícil, tanto física quanto emocionalmente. E aqui não me refiro apenas ao fato de que, no puerpério, o nível de alguns hormônios, que tinham subido tremendamente para preparar o corpo para nutrir o bebê, começa a voltar ao normal. Essa queda aumenta as chances de a mulher ser acometida pela depressão pós-parto e pela ansiedade.
Estou falando aqui das mães solo, das que têm dificuldade em conciliar desejos pessoais com a chegada dos filhos, das que não têm sustentação emocional ou rede de apoio para contar.
Não importa em que circunstâncias elas se viram mães. Ainda cai sobre boa parte delas a responsabilidade de exercer muitas funções ao mesmo tempo.
Mesmo no caso das que têm com quem compartilhar essa imensa missão, na prática, isso é dificultado pelo fato de que, no Brasil, diferentemente de países como a Suécia, a licença paternidade é de apenas 5 dias consecutivos, o que torna complicado a divisão de tarefas em boa parte do dia.
Como dar conta de cuidar de tantas demandas sem prejudicar a saúde mental e ainda por cima promover a saúde mental das suas crianças? A resposta é: dando atenção redobrada ao seu bem-estar.
Estudos mostram que a saúde mental materna está ligada à saúde mental infantil. Mães com transtornos mentais como a depressão, por exemplo, podem ter mais dificuldade de cuidar de si. O que dirá ter energia para cuidar do filho? Isso pode causar sofrimento e ansiedade à criança.
Leia também:
- Acredite: inveja pode ser uma coisa boa
- Mesmo as pessoas mais capacitadas falham — e tudo bem
- Perfeccionistas: manter a régua alta nem sempre faz bem à saúde mental
E aqui vai um alerta: ainda permanece o mito de que maternidade é sinônimo de dar conta de tudo e isso contribui para que muitas mulheres não busquem ajuda quando estão se sentindo desanimadas, cansadas, sem energia. Por isso, a minha dica é: busque ajuda profissional se você por acaso sentir que algo não vai bem. Isso não é sinal de fracasso, mas de autocuidado.
Se cuidar delas mesmas é também cuidar da saúde mental dos filhos, privilegiar a intuição também é. Mães sentem quando algo está esquisito com seus filhos. Não menospreze esse sexto sentido, principalmente se o comportamento da criança de alguma forma mudou. Essa é a hora de procurar um médico (pode ser o pediatra deles).
Por fim, saiba que tudo o que os seus filhos precisam é de sua presença amorosa e atenta. Esse é o maior cuidado que você pode ter com a saúde mental deles.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.